Envolta em bandeiras palestinianas e do Hamas, as urnas de al-Arouri e de dois outros membros do grupo também assassinados no ataque de terça-feira foram inicialmente transportadas para uma mesquita em Beirute para orações, antes de seguirem para o Cemitério dos Mártires da Palestina, onde estão sepultados os corpos de pessoas mortas por Israel nas últimas cinco décadas.
Segundo a descrição da agência Associated Press, a arma automática de al-Arouri, cofundador das Brigadas al-Quassem, braço militar do Hamas, foi colocado na sua urna durante o culto de oração.
O funeral contou com a presença de autoridades palestinianas, incluindo Moussa Abu Marzouk, alto dirigente do Hamas, bem como representantes de alguns grupos políticos libaneses.
As pessoas tentaram tocar nos caixões cercados por membros do Hamas, alguns deles armados.
“O inimigo [Israel] está a fugir dos seus fracassos e derrotas [na Faixa de Gaza] para o Líbano”, disse o líder político do Hamas, Ismail Haniyah, residente no Qatar, num discurso transmitido durante o funeral, acrescentando que o assassínio de al-Arouri em Beirute “é uma prova de uma mentalidade sangrenta”.
De acordo com as autoridades libanesas e a imprensa estatal do Líbano, um ‘drone’ israelita disparou dois mísseis na terça-feira contra um apartamento no distrito de Musharafieh, no sul de Beirute, que é um reduto do poderoso grupo xiita libanês Hezbollah, matando instantaneamente al-Arouri e outros seis membros do Hamas, incluindo comandantes militares.
Israel não assumiu a autoria deste ataque, referindo que as suas forças estão num “momento de preparação muito forte”, de acordo com um comunicado do Exército durante a visita, na quarta-feira, do chefe do Estado-Maior do Exército israelita, Herzi Halevi, à fronteira com o Líbano.
Uma fonte da Defesa dos Estados Unidos disse sob anonimato à agência France-Presse que al-Arouri e os seus companheiros foram mortos por “um ataque israelita”, mas o porta-voz Departamento de Estado, Matthew Miller, afirmou que Washington não tem informações suficientes para apontar responsabilidades.
No dia do ataque, o primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, defendeu que “este novo crime israelita visa arrastar o Líbano para uma nova fase de confrontos” e ordenou a apresentação de uma queixa urgente ao Conselho de Segurança da ONU, “no contexto do flagrante ataque à soberania libanesa”.
Um dia depois, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, ameaçou que o grupo xiita libanês lutará “sem limites” se Israel declarar guerra ao Líbano, insistindo que a morte do “número dois” do Hamas em Beirute “não ficará impune”.
Os confrontos entre o Exército israelita e o Hezbollah, os maiores desde 2006, estavam até agora limitados às zonas fronteiriças no sul do Líbano, quando se têm repetido avisos no mundo árabe e na comunidade internacional sobre o receio da propagação do conflito na Faixa de Gaza, na Palestina, a outras regiões do Médio Oriente.
Desde o início da violência transfronteiriça, foram registadas pelo menos 177 mortes: 13 em Israel (nove soldados e quatro civis) e 164 no Líbano, incluindo 127 membros do Hezbollah, 16 membros de milícias palestinianas, um soldado e 20 civis, entre os quais três crianças e três jornalistas.
As autoridades de Telavive enviaram mais de 200 mil soldados para a região fronteiriça, onde a violência também deslocou milhares de residentes, com cerca de 80 mil pessoas retiradas de comunidades no norte de Israel e mais de 70 mil em fuga do sul do Líbano.
Saleh al-Arouri, que era vice-chefe político do Hamas, estava na mira de Telavive há anos e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ameaçou matá-lo antes mesmo de o Hamas realizar seu ataque surpresa em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que desencadeou a guerra em curso na Faixa de Gaza.
Em 2015, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos designou-o como “terrorista global especialmente designado”, oferecendo cinco milhões de dólares (4,5 milhões de euros) por informações sobre ele.
No Líbano desde 2018, al-Arouri chefiou a presença do grupo palestiniano na Cisjordânia e esteve detido em prisões israelitas durante 12 anos antes de ser libertado em 2010, sendo-lhe atribuído vários ataques contra Israel a partir de solo libanês.
Mais recentemente, foi um dos principais negociadores do Hamas na libertação dos reféns feitos pelo seu grupo no ataque contra
O mais recente conflito entre Israel e o Hamas foi desencadeado pelo ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano em território israelita em 07 de outubro, massacrando cerca de 1.140 pessoas, na maioria civis mas também cerca de 400 militares, segundo números oficiais de Telavive.
Em retaliação, Israel, que prometeu eliminar o movimento palestiniano considerado terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local, já foram mortas mais de 22.000 pessoas — na maioria mulheres, crianças e adolescentes — e feridas acima de 57 mil, também maioritariamente civis.
O conflito provocou também cerca de 1,9 milhões de deslocados (cerca de 85% da população), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária.
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