Organizado pelo Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (Stop), o protesto dos professores e trabalhadores não docentes começou pelas 14:00 junto ao Palácio da Justiça e terminou pelas 19:00 na Assembleia da República, com a chuva intensa a fazer desmobilizar a maioria dos manifestantes.
Com lenços brancos, velas acesas, cravos vermelhos e pretos e um caixão, os profissionais de educação fizeram “o enterro da escola pública”, após vários meses de luta, em que assinalam o “silêncio brutal” do ministro da Educação, João Costa, nas negociações relativamente às propostas do Stop, mas afirmam: “A luta continua, na escola e na rua”.
Depois do enterro, os manifestantes cantaram o hino nacional, A Portuguesa, que ecoou pela rua de São Bento e que se seguiu de assobiar intenso e de frases de ordem: “A nossa luta é do dia-a-dia, pela educação e pela democracia”.
“Escola na rua. Governo, a culpa é tua”, “está na hora do ministro ir embora” e “não paramos” foram outras das mensagens que se fizeram ouvir em uníssono.
A manifestação terminou com um discurso do coordenador do Stop, André Pestana, que durou cerca de 30 minutos, com palavras críticas ao Governo socialista e sem deixar de fora o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recusando acusações de populismo.
“Nós não somos populistas, nós somos realistas. Nos últimos 20 anos, quem trabalha nas escolas perdeu e cedeu em tudo. Perdemos a gestão escolar democrática, tivemos uma desvalorização brutal a nível de salários, mais burocracia, estrangulamento na carreira, salários de miséria para cada vez mais profissionais de educação, cada vez mais colados ao salário mínimo como os assistentes técnicos, mas não só”, declarou André Pestana.
O coordenador do Stop disse que o Governo continua a não ouvir os profissionais de educação e com a sua maioria absoluta no parlamento “pretende impor condições de trabalho nas escolas”, que os profissionais “já não podem suportar mais e prejudicam muito os alunos”, desde o excesso de trabalho burocrático à “acentuada desvalorização salarial perante uma brutal inflação”.
André Pestana expressou ainda apoio à manifestação organizada pelo movimento cívico Vida Justa, em defesa de “salários para viver”, a limitação do preço dos bens essenciais e “casa para as pessoas”, que esteve também junto à Assembleia da República, antes do protesto do Stop, tendo havido inclusivamente quem participasse nas duas iniciativas.
Outros dos problemas dos profissionais de educação são “as injustiças inaceitáveis entre docentes do continente e dos arquipélagos” e a contagem do tempo de serviço.
O coordenador do Stop afirmou que este sindicato “esteve e está disponível para negociar”, inclusive voltou a fazer propostas concretas ao ministro da Educação, por exemplo, a igualdade entre docentes do continente e dos arquipélagos, “incluindo a contagem integral do tempo de serviço docente e o fim, na prática, das quotas injustas de acesso ao 5.º e 7.º escalões”
“Dissemos ao ministro que estamos disponíveis para negociar sobre o caminho, a velocidade, para o fazer, mas não para abdicar da contagem integral do tempo de serviço docente. Pode ser em dois anos, pode ser até ao final da legislatura. Vamos negociar, estamos disponíveis”, declarou, referindo que a resposta do ministro da Educação tem sido “zero, silêncio brutal”, inclusive na proposta de “um aumento mínimo de 120 euros para todos, docentes e não docentes”.
Sobre a resposta do ministro na última reunião com o Stop, André Pestana considerou que “foram declarações vagas, sem qualquer compromisso ou nem sequer datas concretas”, porque a intervenção foi de “possibilidade de se iniciarem negociações relativamente à burocracia, às quotas e, eventualmente, sobre contagem de algum tempo de serviço, apenas para alguns docentes”.
O coordenador do Stop referiu, ainda, a posição de outros sindicatos do setor da educação, sem nomear, mas afirmando que “atacaram brutalmente esta greve”, porque “seria ilegal”.
“Se esta luta não tivesse começado em dezembro, quase de certeza, hoje, o ministro tinha conseguido impor medidas ainda piores, por exemplo a escolha de docentes por perfis”, apontou.
Em defesa da escola pública e por melhores condições de trabalho e salariais, esta é a quarta manifestação promovida pelo Stop desde dezembro, quando iniciou também uma greve por tempo indeterminado que ainda se mantém, para exigir melhores condições para todos os profissionais das escolas, como um aumento salarial de 120 euros.
Além de melhores condições de trabalho e salariais para os profissionais das escolas, o Stop reivindica também a recuperação dos mais de seis anos de tempo de serviço dos professores e o fim das vagas de acesso aos 5.º e 7.º escalões da carreira.
Comentários