O principal alvo dos manifestantes continua a ser a força de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), mas o receio de que a CDU se aproxime deste partido, principalmente nas políticas de migração, assusta muitos dos que protestam em frente às Portas de Brademburgo.

“Tenho muito receio de que os conservadores não sejam consequentes com o que prometeram e não continuem a combater a extrema-direita. Vamos ter um grande problema se Merz for chanceler, as declarações mais recentes que fez assustam-me. Também já disse que não vai unir-se aos Verdes. Então quem mais sobra”, interroga-se Ariani.

“Pelo menos podemos fazer algo, podemos vir aqui e demonstrar a nossa preocupação e o nosso descontentamento”, sublinha, em declarações à Lusa.

Depois do ataque à faca em Aschaffenburg por um cidadão afegão que residia ilegalmente na Alemanha, e que matou uma criança de 2 anos e um homem de 41, Friedrich Merz anunciou que, caso seja eleito chanceler, irá rever as políticas de migração.

O líder da CDU prometeu uma “mudança fundamental no direito de entrada, no direito de asilo e no direito de residência”, um “controlo duradouro” das fronteiras com os países vizinhos e uma “proibição de todas as tentativas de imigração ilegal”. Merz acrescentou aceitar, no Bundestag, a aprovação pela AfD das propostas dos conservadores.

Apesar de já ter vindo dizer, entretanto, em entrevista ao jornal Bild, que “não haverá cooperação com a AfD”, o líder da CDU e candidato a chanceler, que lidera as sondagens, não escapou às mensagens e cartazes da manifestação desta tarde.

“É preciso ter cuidado e atenção a estes discursos. Não digo que os partidos ditos tradicionais sejam perfeitos, mas, por favor, não votem na extrema-direita”, sublinha Katja.

“Acho muito importante lutarmos pela democracia e estarmos aqui. Sou da Alemanha, tenho muitos amigos estrangeiros e o meu namorado também não é daqui. É muito assustador pensar que as pessoas que vieram para aqui, para estudar, para trabalhar, para ter uma vida melhor, vão ser obrigados a sair”, confessa a berlinense de 29 anos.

Traz um cartaz com uma mensagem e um desenho de um cérebro. “Ei, AfD, deixaste cair isto”, pode ler-se.

“Deixaram cair o cérebro, a humanidade, e todos os valores. As pessoas, ou não estão a reparar, ou não querem saber”, emociona-se, apelando a todos para que votem num partido democrático nas eleições antecipadas de 23 de fevereiro.

Além dos cartazes, os manifestantes respondem ao apelo da organização trazendo todo o tipo de luzes, desde velas, até pequenos holofotes, ou fios de lâmpadas. Famílias de todas as idades, carrinhos de bebés e até animais marcam presença no centro da capital alemã.

“Não vim sozinha, trouxe a minha cadela com uma mensagem, cães contra a extrema-direita. (…) Até agora a Alemanha tem sido um país consciente, tem pensado no seu passado e tirado consequências. Mas isso já não parece ser suficiente”, aponta Nora.

Rafael está umas filas atrás. Tem ao colo dois bebés e um cartaz.

“É por eles que estou aqui, pelo futuro deles. Isto é democracia, podermos vir com os nossos filhos, dizermos o que pensamos, vivermos num país livre. Não imagino as coisas de outra forma”, revela o alemão de Potsdam.

A manifestação, convocada por várias organizações como a “Compact” ou “Fridays for Future”, começou com um minuto de silêncio pelas vítimas do atentado de Aschaffenburg.

A organização fala da participação de cerca de cem mil pessoas, a polícia contabilizou 30 a 35 mil.

*Por Joana de Sousa Dias, da agência Lusa