Há oito décadas, preparavam-se para a maior operação naval de todos os tempos. Na terça-feira, desembarcaram sorridentes de uma balsa para assistir às cerimónias do seu feito em 6 de junho de 1944.

"Não estou particularmente orgulhoso do que fiz, mas se tivesse de fazer de novo, faria. Estou feliz com o nosso sacrifício para que outros pudessem ter uma vida boa", disse Mines, de 99 anos, à AFP. Tinha 19 anos quando desembarcou entre os engenheiros encarregados de limpar os obstáculos de Gold Beach, nas margens da cidade francesa de Ver-sur-Mer.

A sua primeira missão foi literalmente limpar as minas de uma praia. "Na verdade, eles escolheram-me por causa do meu apelido", contou.

"Tive muita sorte. Um projétil explodiu a um metro de mim e se uma metralhadora te acertasse, partia-te em dois. Um dos meus companheiros morreu logo após pisar a praia", relembra o veterano.

Na manhã de terça-feira, 20 veteranos da Royal British Legion e nove do Spirit of Normandy Trust, duas associações de ex-combatentes britânicos, embarcaram neste ferry no porto britânico de Portsmouth, com destino ao porto francês de Ouistreham.

Os militares foram recebidos por uma banda e outros passageiros, que lhe prestaram homenagens. Também foram acompanhados por dois barcos de combate a incêndios e pelas sirenes dos navios de guerra atracados na base militar com o seu pessoal em posição de sentido, enquanto um A400M da Força Aérea Britânica RAF voava nos céus.

"Estamos aqui para permitir que os veteranos prestem homenagem aos seus companheiros mortos na Normandia e garantir que o legado do que fizeram não seja esquecido", afirma Mark Waring, vice-presidente do Spirit of Normandy Trust.

"Muito doloroso"

Na metade da travessia de cerca de 180 quilómetros, dois veteranos lançam uma coroa de flores ao som da banda, um momento muito emotivo da cerimónia.

Joyce Cooper, de 70 anos, usa um boné com o nome do pai bordado. "O meu pai, Alan, desembarcou em Lion-sur-Mer, num tanque Sherman. Ele tinha 20 anos, achava que só tinha uma hora de vida", diz a filha, emocionada.

O comandante do tanque morreu nos seus braços após levar um tiro na cabeça durante a Batalha da Normandia.

"Não queria ir, mas recebeu uma carta de convocação aos 18 anos", conta Cooper com tristeza. "Ele não falou sobre isso até os 40 anos. Era muito doloroso. Ele sofreu muito", recordou.

"Tenho muito orgulho nele. Estou aqui para homenagear a memória dele", acrescenta Joyce, cujo pai faleceu há dois anos. E deixa uma mensagem para os jovens que ainda têm pai: "Aproveitem ao máximo, o tempo é valioso!".

*Por Matthieu Clavel/AFP