“O continente europeu, que hoje vive problemas demográficos profundos e que está confrontado com um quadro de envelhecimento significativo nas próximas décadas, deve ver numa gestão global das migrações um desafio e uma condição de subsistência do modelo social europeu”, sustentou o governante, no encerramento do Fórum Lisboa 2017, um encontro de dois dias promovido pelo Centro Norte-Sul do Conselho da Europa.
As migrações, sublinhou, “não são um problema, não são um desastre”, mas antes “para países como Portugal, como para a generalidade dos países europeus, uma condição de desenvolvimento, uma condição de manutenção daquela que é a riqueza da zona em que mais de 500 milhões de pessoas partilham o espaço, que é um espaço de inovação, de cosmopolitismo, de esperança”.
Cabrita referiu que todos os estudos internacionais, de organismos como o Banco Mundial, OCDE ou Comissão Europeia, consideram que as migrações “são globalmente economicamente positivas”.
“Muitos lutaram durante décadas para que a Europa não tivesse muros, queremos que não volte a ter novos muros”, salientou.
Para tal, é fundamental promover o diálogo entre o norte e o sul, mas também do sul entre si do norte entre si.
“Nestes tempos difíceis, em que somos confrontados com dúvidas sobre temas que julgávamos adquiridos, quando vemos conquistas recentes, como o acordo de Paris, serem postos em causa e em dúvida, é nestes momentos que mais ativamente e concertadamente temos de afirmar o papel central do diálogo do Mediterrâneo, do diálogo Norte/Sul e do papel da Europa na construção deste espaço aberto de cooperação, de desenvolvimento e de solidariedade”, disse o ministro, numa referência à decisão dos Estados Unidos de abandonarem o acordo sobre alterações climáticas.
Eduardo Cabrita mencionou que os países do norte de África são cada vez mais países de trânsito, mas também de destino de migrantes, advogando que “uma gestão equilibrada e segura dos fluxos migratórios” passa pela “aposta no desenvolvimento dos países de origem”.
O governante deixou depois um apelo para que a Europa, “um grande espaço de liberdade e solidariedade”, perceba que a solução dos seus desafios internos é “uma relação ativa de vizinhança com os países do sul”, que são “parceiros no diálogo norte-sul”.
No mesmo sentido, o presidente do comité executivo do Centro Norte-Sul, Jean Marie Heydt, realçou a necessidade de reforçar o diálogo entre as duas margens do Mediterrâneo, mas alertou para a necessidade de alargar os participantes.
“Este diálogo não pode ser reduzido ao noroeste e sul. Tem de ser alargado ao norte, e isso significa noroeste e nordeste, e todo os ‘sules’, no plural”, considerou, avisando: “Se não o fizermos, veremos que não haverá perspetivas futuras para a nossa população, incluindo os nossos jovens, e isso conduz à radicalização”.
O diálogo, referiu, deve ter uma “abordagem vertical” e integrar investimento, relações económicas, recursos energéticos, educação, ambiente e os aspetos migratórios.
“É essencial perceber que o Mediterrâneo é um ponto de diálogo. Temos de ter as ferramentas para reforçar este diálogo entre o norte e o sul”, afirmou, destacando o papel do Centro Norte-Sul – sediado em Lisboa – como um “importante instrumento de cooperação multilateral do Conselho da Europa para a política de vizinhança”.
A 23.ª edição do Fórum Lisboa junta durante dois dias quase 200 representantes de 52 países para debater as migrações, o crescimento do populismo, a construção de sociedades inclusivas e o reforço do diálogo entre o Norte e o Sul.
O encontro decorreu, como é habitual, no Centro Ismaili de Lisboa, da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, organização que decidiu alargar o financiamento ao Centro Norte-Sul por mais dois anos, anunciou hoje o diretor executivo do Centro, António Gamito.
Segundo o representante da Rede Aga Khan, Nazim Ahmad, a organização financiou o funcionamento do Centro Norte-Sul em 150 mil anos, nos últimos três anos, e vai agora contribuir com mais 100 mil euros até 2019.
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