“Queria dizer categoricamente que é totalmente falso que eu tenha tido conhecimento de qualquer encobrimento neste processo”, disse Azeredo Lopes, em Bruxelas, à margem de uma reunião dos ministros da Defesa da NATO.

As declarações aos jornalistas aconteceram depois de o semanário Expresso ter revelado que Vasco Brazão, ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar, garantiu em tribunal ter entregado pessoalmente, no final do ano passado, um memorando com a explicação de toda a operação ao chefe de gabinete do ministro da Defesa, acrescentando que o chefe de gabinete contactou telefonicamente o ministro para o informar da situação.

Quando questionado pelos jornalistas acerca do memorando, Azeredo Lopes afirmou que não iria “nem falar pelo chefe de gabinete nem desenvolver mais este tópico”.

Já esta tarde, Ricardo Sá Fernandes, advogado de defesa de Vasco Brazão, não comentou o depoimento do major perante o juiz de instrução do processo. “Não me cabe a mim nem confirmar nem desmentir" as declarações noticiadas, disse o advogado à saída do tribunal no Campus de Justiça, quando questionado pelos jornalistas.

Azeredo Lopes nega "categoricamente" conhecimento de qualquer “encobrimento”
Azeredo Lopes nega "categoricamente" conhecimento de qualquer “encobrimento”
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Em reação à notícia, Nuno Magalhães, líder parlamentar do CDS-PP convocou ao início desta tarde os jornalistas para dizer que o partido quer “saber o grau de envolvimento, de conhecimento, atos e omissões do Governo em geral e do ministro da Defesa em particular”, no âmbito da comissão de inquérito proposta pelos centristas. O deputado do CDS-PP reforçou ainda que o ministro "não tem condições" para continuar no cargo, tal como vem repetindo há meses.

Já o primeiro-ministro mantém a confiança política em Azeredo Lopes. António Costa afirma que as declarações do ministro da Defesa não suscitam “qualquer quebra de confiança”, disse ao Expresso em reação à notícia desta manhã.

Do lado do PSD, Rui Rio considera que não é possível manter o ministro em funções, caso se confirme que Azeredo Lopes sabia do encobrimento na recuperação do material furtado. O presidente do PSD defende o afastamento do ministro, "a não ser que isto seja redondamente mentira". "Mas disso é que eu tenho dúvidas”, acrescentou.

Marco António Costa, deputado social-democrata e presidente da comissão parlamentar de Defesa, tinha já hoje afirmado ao Expresso que “uma acusação destas assume uma gravidade sem precedentes” e que deve ser “objeto da comissão de inquérito”.

Por seu turno, Catarina Martins considera que o ministro da Defesa "ganhava em prestar esclarecimentos no Parlamento". A coordenadora do Bloco de Esquerda, que falava à margem de um encontro com trabalhadores precários do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, não fez mais comentários quando questionada pelos jornalistas sobre as notícias de hoje.

Ao final do dia, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que a formulação de "um juízo" sobre o caso deve ser adiada para o momento em que esteja apurada "toda a verdade". "Vamos aguardar a conclusão deste processo, desta instrução criminal em curso, e, em função dos factos apurados e das responsabilidades eventualmente suscitadas, depois será possível formular um juízo preciso, concreto e específico acerca da matéria", explicou, quando questionado no final de uma iniciativa comemorativa da implantação da República, em Loures.

Vasco Brazão é um dos nove arguidos do processo de recuperação das armas desaparecidas em Tancos. O militar encontra-se sujeito à medida de coação de permanência na residência sem vigilância eletrónica, aplicada esta quarta-feira, dia 3, depois um longo interrogatório no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa.

Em setembro, a Polícia Judiciária deteve militares da Polícia Judiciária Militar e da Guarda Nacional Republicana e um civil no âmbito da Operação Húbris, que investiga a alegada encenação montada em torno da descoberta e recuperação das armas de Tancos.

O furto de material militar dos paióis de Tancos - instalação entretanto desativada - foi revelado no final de junho de 2017. Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições. A 18 de outubro do ano passado, a Polícia Judiciária Militar recuperou, na zona da Chamusca, quase todo o material militar que tinha sido furtado, à exceção de munições de nove milímetros.

[Última atualização às 18h52 - Acrescenta declarações do Presidente da República]