“Nós não temos um número exato, mas com segurança eu acredito que são mais de 500 pessoas que já perderam a vida. Se fosse uma só pessoa já seria muito…”, disse o bispo, citado hoje pela Fundação AIS (Ajuda à Igreja que Sofre), acrescentando que a situação é “uma tragédia”, pois, a acrescer aos mortos há muitos deslocados internos, “as aldeias estão a ficar vazias, as pessoas não estão a plantar, então isso significa que haverá fome”.

Segundo a Fundação, nos dias 29 e 30 de janeiro, houve pelo menos seis ataques na província de Cabo Delgado, no norte do país, “que provocaram uma debandada geral das populações e um enorme rasto de destruição em aldeias situadas nos postos administrativos de Bilibiza e Mahate, ambos pertencentes ao distrito de Quissanga, situado a cerca de 120 quilómetros da cidade de Pemba”.

Segundo o bispo de Pemba, um dos ataques “foi à escola agrária de Bilibiza, que é também escola de formação de professores, onde há mais de 500 alunos”.

“Soube que a escola foi queimada, e depois eles destruíram outras casas de comércio [situadas] ali por perto”, descreveu o prelado, para quem esta “é uma realidade muito triste, que as forças de defesa e de segurança não estão a conseguir conter se não houver uma ajuda internacional”.

Quanto ao número de deslocados, Luís Fernando Lisboa apontou que, incluindo os que tiveram de abandonar as suas terras na sequência do ciclone Kenneth, “pode aproximar-se de 100 mil”.

Admitindo para que os ataques sejam da responsabilidade de grupos radicais islâmicos, o bispo reconheceu que a comunidade cristã se sente ameaçada, incluindo ele próprio.

“Mas, sinceramente, não tenho medo. Não tenho medo. Estou a tentar cumprir o meu papel, tenho procurado dar apoio aos missionários que estão lá, na linha da frente, que estão nesses distritos onde há ataques”, disse o prelado, citado pela Fundação AIS.

Ataques armados eclodiram em 2017 na província de Cabo Delgado protagonizados por frequentadores de mesquitas consideradas radicalizadas por estrangeiros, segundo líderes islâmicos locais, que já tinham alertado antecipadamente para atritos crescentes.

Nunca houve uma reivindicação da autoria dos ataques, com exceção para comunicados do grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, que desde junho tem vindo a chamar a si alguns deles, com alegadas fotos das ações, mas cuja presença no terreno especialistas e autoridades consideram pouco credível.

Os ataques já provocaram centenas de mortos entre agressores, residentes e militares moçambicanos, além de deixar cerca de 60.000 afetados ou obrigados a abandonar as suas terras e locais de residência, de acordo com a mais recente revisão do plano global de ajuda humanitária a Moçambique das Nações Unidas.

As forças de defesa e segurança moçambicanas têm estado no terreno, mas o Presidente da República, Filipe Nyusi, admitiu na última semana que são necessários mais apoios para lidar com o problema.

A presença de militares russos na zona também foi registada na zona, próxima de uma das maiores reservas de gás natural do mundo, mas os ataques têm continuado.