“Temos pelo menos cinco mortes”, segundo informações preliminares avançadas pelo autarca, que ainda procura reconfirmar os dados, apesar das dificuldades sentidas no terreno, dado que não há energia, nem telecomunicações.

Segundo relata Manuel Araújo, duas pessoas morreram em desabamentos de casas precárias, outras duas foram apanhadas pela queda de uma árvore e a quinta vítima mortal terá sido surpreendida por uma embarcação atirada para fora do rio dos Bons Sinais.

Numa das ruas de Quelimane, os residentes transportam uma das vítimas mortais, coberta por mantas, sob chuva intensa.

Enfrentam a intempérie, dizendo que o levam para a morgue do hospital da cidade.

“Nunca tinha visto algo igual”, afirma à Lusa Manuel Araújo, referindo que a força da tempestade foi tanta que as águas do rio “atiraram uma embarcação inteira para cima da ponte cais do porto de pesca”.

Em todo o município e arredores, as coberturas dos edifícios foram arrancadas, muros e vedações tombaram, postes de eletricidade e árvores estão no chão e inúmeras casas precárias desfeitas com a intensidade da chuva e do vento.

O hospital da cidade perdeu a cobertura, deixando vários pacientes à chuva, entretanto transferidos para espaços cobertos, descreve o autarca.

Quelimane está construída sobre “uma área de pântano, não há zonas elevadas” e “até os centros que tinham sido preparados estão inundados”, pelo que as escolas são os únicos sítios seguros e que albergam muita população, refere ainda.

Outros residentes deambulam pelos escombros nos bairros periféricos, tentando salvar o que é possível.

O pico da tempestade “aconteceu pelas 20:00” de sábado (18:00 em Lisboa), “foi a altura em que muitas casas caíram”, conta Justino Magro, no Bairro do Aeroporto.

Agora, no meio da casa precária que construiu, apanha os restos de mobílias e pertences.

Aira Oliveira confirma a hora da pior fase da intempérie: “Depois das 19:00 vimos muita coisa a voar.”

“Não dormimos nada, é uma coisa trágica e precisamos de uma ajuda grande”, descreve a residente.

Lourenço Ribeiro, outro morador, aponta o vento forte como o principal culpado, depois da chuva forte que já caía desde sexta-feira.

“Fez muito vento, tanto que tirou quase todas as coberturas das casas”, destaca.

Um armazém do Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD) que guardava 40 toneladas de alimentos para ajuda humanitária também perdeu parte da cobertura e a água ameaça agora estragar os sacos de mantimentos.

As autoridades recomendam que a população permaneça em zonas abrigadas.

O INGD abriu locais de acolhimento e tem lançado alertas para a população sair de casas precárias e zonas ribeirinhas, que habitualmente são sujeitas a inundações.

O ciclone Freddy já perdeu força e é agora uma tempestade tropical, mas ainda assim deverá provocar chuva intensa até quarta-feira no centro de Moçambique, pelo que prevalece a ameaça de inundações.

É a segunda vez que a intempérie se abate sobre o país, depois de um primeiro embate a 24 de fevereiro, provocando 10 mortes devido a condições adversas durante vários dias.