Em entrevista à CNN Portugal, conduzida pela jornalista Maria João Avillez, Luís Montenegro assegurou não querer ganhar as eleições legislativas “à boleia ou com a ajuda do Presidente da República”, e manteve reserva sobre o que irá dizer a Marcelo Rebelo de Sousa na audiência que terão na terça-feira, após uma semana em que discordaram publicamente sobre se o PSD constitui já ou não uma alternativa ao Governo do PS.
“Eu não quero que o Presidente da República seja nem um ajudante nem um óbice a este projeto [de construção de alternativa]”, disse, e, questionado se entende que tem sido um obstáculo, Montenegro preferiu classificar Marcelo como “um árbitro da vida política”, avisando que no dia “em que for parte do debate partidário está subvertido o espírito da Constituição”.
O presidente do PSD considerou que tal não aconteceu até agora, embora reiterando a sua discordância quanto ao facto de Marcelo não considerar que haja já “uma alternativa óbvia” ao Governo.
“Não lhe vou esconder: o PSD não gosta de ouvir isso, não corrobora dessa análise. O líder tem de ser aquele que tem mais sangue frio, que tem de interpretar melhor o que é o interesse do país e o seu próprio. Eu não estou aqui para fazer oposição ao Presidente da República e também espero que o Presidente não esteja aqui para fazer oposição à oposição”, referiu.
Ainda assim, Montenegro recusou a ideia de ficar diminuído ou infantilizado pelas considerações de Marcelo Rebelo de Sousa, mas contrapôs que “é falso que não haja alternativa em Portugal”.
“Até do ponto de vista sistémico, no dia em que não houver alternativa não há democracia”, vincou, acrescentando que, segundo os estudos de opinião, as intenções de voto de PSD e IL somadas estão a “3 ou 4 pontos da maioria absoluta”.
Sobre a sua estratégia eleitoral para as legislativas, o líder do PSD reiterou que o objetivo é lutar pela maioria absoluta e desafiou o PS a dizer o que fará “se algum dos dois maiores partidos não tiver maioria absoluta”, explicando se está disponível a viabilizar um executivo minoritário do PSD ou se quer tentar um reedição da ‘geringonça’, cenário que Montenegro voltou a afastar para os sociais-democratas caso não vença.
“Depois, vou dizer quais são as linhas orientadoras de hipotéticos acordos que possam ter na base uma sustentação parlamentar de uma governação”, afirmou, remetendo essa clarificação para o período pré-eleitoral.
Num excerto da entrevista que já tinha sido divulgado, o líder do PSD assegurou que não terá no Governo nem quererá o apoio de “políticas ou políticos racistas, xenófobos, oportunistas ou populistas”, nem que possam trazer a um executivo social-democrata imaturidade ou irresponsabilidade.
Questionado se essa é uma forma de incluir IL e CDS em futuros entendimentos, respondeu: “Pode inferir naturalmente que não se inscrevem nestas características movimentos como o CDS e a IL”.
À pergunta se, por outro lado, é um aviso ao Chega que não vai contar esse partido, Montenegro preferiu responder que “é uma maneira de avisar os portugueses para saberem com aquilo que podem contar”.
“Eu estou preocupado não é em fazer combate político ao Chega, eu estou focado em dizer à muitos eleitores que votaram no Chega ou dizem em estudos de opinião que pretendem votar no Chega que o porto seguro de abrigo seguro para uma governação alternativa é o PSD”, afirmou.
Quanto às europeias do próximo ano, voltou a dizer que o candidato “não está escolhido” e a manifestar “uma consideração muito grande” pelo atual presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, reiterando a ambição de vencer este sufrágio.
Questionado se deixará a liderança do PSD se as perder, Montenegro remeteu “a avaliação de todo o contexto” para o final do seu mandato, em julho de 2024, dizendo ter “a certeza absoluta” que será reeleito presidente do partido.
“Se tiver uma catástrofe eleitoral, saberei tirar consequências disso, mas não vou ter, nem o PSD”, disse.
Na entrevista à CNN, Montenegro voltou a criticar o pacote da habitação do Governo, dizendo que, esta semana, recebeu na sede do PSD pessoas do setor imobiliário que lhe transmitiram que projetos da ordem dos 600 milhões e 150 milhões de euros iriam ser cancelados e um outro suspenso, no valor de 180 milhões.
“Ainda não há lei sequer, só há propósitos, mas o efeito já está criado no mercado. O Presidente Cavaco Silva disse isso com as letras todas”, salientou.
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