Em declarações à agência Lusa, o porta-voz da empresa, André Soares, explicou que a TAP é a única companhia que opera no aeroporto Humberto Delgado no esquema de ‘hub’, isto é, como plataforma de transferência de passageiros.

“Ou seja, nós trazemos passageiros das américas e de África para a Europa, chegam a Lisboa e apanham outros voos para outros destinos na Europa, 60% do tráfego da TAP é para este tipo de passageiros”, disse.

Por esta razão, para a TAP, “está fora de questão transferir parte de operação no Montijo e manter outra parte em Lisboa, porque isso não permitiria dar resposta as necessidades de tráfego da companhia”.

Segundo o responsável, hoje em dia o crescimento da TAP torna-se “cada vez mais difícil” no aeroporto Humberto Delgado “por limitações várias e porque o aeroporto está muito perto do seu esgotamento”.

“Tudo o que seja cumprimento daquilo que é a estratégia da TAP que é crescer, ter cada vez mais voos e mais passageiros é cada vez mais difícil. A capacidade está quase no limite, sempre que queremos acrescentar rotas ou crescer em determinados horários para melhor servir os passageiros torna-se difícil”, disse.

A TAP defende assim “há vários anos” uma solução para este problema que impede que a companhia aérea cresça de acordo com aquilo que pretende fazer.

“O aeroporto do Montijo, a confirmar-se essa possibilidade, responde a esta necessidade que existe de maior capacidade aeroportuária na região de Lisboa, uma vez que a atual infraestrutura já não tem a capacidade necessária para o atual movimento de passageiros”, referiu.

O Governo e a ANA - Aeroportos de Portugal, gerida pela Vinci Airports, assinam hoje um memorando de entendimento que visa "estudar aprofundadamente" a solução de um aeroporto complementar no Montijo para aumentar a capacidade do aeroporto de Lisboa.

O acordo de entendimento é assinado depois do aeroporto de Lisboa ter ultrapassado os 22 milhões de passageiros em 2016.

O primeiro-ministro afirmou na passada quarta-feira que uma decisão definitiva sobre a localização do futuro aeroporto no Montijo está condicionada à conclusão de um relatório sobre o impacto da migração de aves naquela zona, nomeadamente para a segurança migratória.

"Temos acordado com a ANA que é necessário aprofundar o estudo relativamente à solução que aparenta viabilidade, que é a do Montijo, mas é uma viabilidade que está condicionada ainda a dados que só poderemos ter no final do ano, designadamente sobre o impacto de ser uma zona de migração de pássaros", afirmou António Costa.

O chefe do executivo falava no debate quinzenal no parlamento, em resposta à presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, que o questionou sobre o futuro aeroporto de Lisboa, reiterando que a Assembleia da República tem pedido estudos que não têm sido enviados.

"O resultado sobre esse impacto, sobre a migração dos pássaros, só pode estar concluído no final do ano. Não permitirá decisões definitivas até essa altura, mas permite concentrar a nossa avaliação relativamente a uma das várias soluções possíveis e ir desenvolver o trabalho nesse sentido", afirmou ainda António Costa, sublinhando que a "segurança aeronáutica" pode conflituar com esse percurso migratório de aves, que passa pelo Montijo.

Já na quinta-feira, o ministro do Planeamento e das Infraestruturas garantiu que “não há adiamento” da parte do Governo em relação ao projeto do novo aeroporto no Montijo, quando questionado sobre as declarações do primeiro-ministro.

“Não há adiamento de natureza nenhuma, nós vamos dar passos próximos para o desenvolvimento do projeto. O projeto tem várias etapas e uma das etapas é exatamente aquela que, espero eu, que nos próximos dias ou nas próximas semanas será dada. Em breve terão conhecimento do que se trata”, disse Pedro Marques.

Companhias aéreas pedem rapidez 

A Associação Representativa das Companhias Aéreas (RENA), da qual são associadas algumas das maiores transportadoras que operam em Portugal, reclama rapidez na solução para aumentar a capacidade e acabar com os constrangimentos do aeroporto de Lisboa.

“Perante os constrangimentos que a Portela já apresenta é necessária uma solução e cabe aos decisores políticos a escolha”, disse o presidente da RENA, Paulo Geisler, em declarações à agência Lusa a propósito da assinatura de um memorando entre a Ana - Aeroportos de Portugal e o Governo, para estudar um aeroporto complementar no Montijo.

Para Paulo Geisler, esta decisão, no entanto, “terá que ser rápida e acompanhada de medidas transitórias imediatas que permitam manter o crescimento da atividade das companhias aéreas com qualidade de serviço, entre os quais o aumento de movimentos em faixas horárias mais restritas e a otimização destas”.

Outros exemplos, na opinião do presidente da RENA, são “a falta evidente” de recursos do SEF - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e o “congestionamento constante” de passageiros nestas áreas, que afeta diretamente as operações das companhias aéreas, passageiros e a competitividade de Lisboa como porta de entrada e saída na Europa.

Paulo Geisler recorda que a RENA congrega vários associados, cada qual com a sua estratégia e modelo de negócio, por isso, enquanto associação, e em termos coletivos, as preocupações passam por assegurar que as infraestruturas estejam em condições de responder à procura e que o preço (as taxas) seja fixado “de forma adequada e objetiva”.

Questionado sobre se as companhias aéreas de baixo custo (‘low cost’) se sentirão discriminadas se passarem a sua operação para a base aérea do Montijo, o responsável rejeitou essa possibilidade.

“Não cremos que haja qualquer discriminação se houver opção. A decisão será sempre de cada companhia tendo em conta o modelo de negócio (se se dedica a voos ponto a ponto ou se faz voos de ligação, se tem acordos de ‘code share’ ou não, etc.), o custo e a oferta que pretende dar aos clientes”, disse à Lusa.

No entanto, acrescentou, “é um facto que as taxas aeroportuários em Portugal neste momento são um obstáculo ao desenvolvimento do turismo e a RENA espera que o modelo seja revisto na sua globalidade”.

Em termos concretos, sublinhou, “o que preocupa é saber quais os custos da opção política e quem os vai suportar (e não podem ser os passageiros atuais a pagar encargos futuros)”.