Os planos pela Europa são vários, consoante o grau de dependência de cada país do gás russo: fala-se em montras desligadas durante a noite, uma regulação diferente das temperaturas e até em cortes de energia durante algumas horas.
Em Portugal, o plano de poupança energética deverá ser conhecido no final de agosto, mas desperta já as atenções.
O especialista em energia António Sá da Costa defende que o plano de poupança energética que está em preparação deve ter um “critério de razoabilidade na aplicação de medidas”, diferenciando comércio, indústria, ou serviços.
Por isso, argumenta que "há dois tipos de medidas: as conjunturais, que deviam vir para ficar, e as de emergência, que são os remendos de última hora, enquanto as medidas conjunturais não são implementadas". "Mesmo estas não deviam ser aplicadas de forma cega", vincou.
Com as futuras mudanças em discussão, os diferentes setores vão já traçando algumas ideias e sugestões para o futuro que se revela incerto. Do comércio e serviços aos centros comerciais, passando também pela restauração e hotelaria.
Comércio e Serviços
De acordo com o documento enviado ao Governo pela Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), disponibilizado ao SAPO24, é preciso considerar que o setor está a recuperar de dois anos "atípicos" devido à pandemia, pelo que eventuais medidas vinculativas de redução de consumo energético para os agentes económicos não devem contemplar "objetivos inalcançáveis" ou que, para os alcançar, seja necessário "reduzir os níveis de atividade para patamares que seriam insustentáveis".
Por outro lado, a confederação alertou ainda para as diferentes realidades dentro do setor do comércio e serviços, que devem ser consideradas na adoção de medidas de redução de consumo e defendeu que devem ser evitadas "medidas compulsivas e penalizações imediatas, uma vez que o investimento a fazer pelas empresas deve ser paulatino e comportável".
Assim, para permitir a eficiência energética no comércio e serviços, a CCP refere que:
- É admissível "o controlo de temperaturas em estabelecimentos comerciais ou edifícios de serviços";
- Pode ser equacionada "a diminuição de iluminação de montras e outras áreas de exposição, bem como a redução de iluminação pública" — mas em paralelo é necessário "garantir o reforço da segurança no espaço público";
- "Deve ser incentivada a utilização de tomadas com interruptor nos equipamentos e o desligar de computadores e outros equipamentos durante as pausas";
- Deve ser facilitada a instalação de "postos de carregamento de EV nas instalações das empresas ou mesmo junto às lojas e escritórios";
- "O processo de autorização para instalação de painéis solares de autoconsumo" deve ser simplificado, "especialmente em condomínios";
- Seria importante que a instalação de "painéis fotovoltaicos para produção de energia e autoconsumo" fosse realizada "tendo com conta o número de contribuinte e não o Código de Ponto de Entrega", de forma a "minimizar o impacto da fatura da energia nas empresas e particulares" e permitir a instalação em residências e estabelecimentos que "estão muito limitados nessa instalação";
- "Devem ser criados mais incentivos fiscais à troca de iluminação para LED e também das máquinas de ar condicionado para outras mais modernas e eficientes".
Por sua vez, no setor da mobilidade e transportes, a ANTRAM, a ANTROP e a ACAP "têm vindo a propor aos sucessivos Governos medidas de apoio à renovação de frotas e incentivos ao abate de viaturas com o objetivo de aquisição de veículos menos consumidores de recursos" — medidas que, segundo a CCP, não tem recebido acolhimento. Considerando a questão energética, é sugerido agora que:
- Seja promovida a "formação qualificada das empresas e colaboradores na área da sustentabilidade", logo a seguir ao verão, de forma a que as empresas possam "adotar comportamentos mais sustentáveis" no futuro;
- Sejam lançadas "campanhas de sensibilização através dos vários órgãos de comunicação social que orientem quer empresários, quer consumidores, para este esforço coletivo". Uma das necessidades é incentivar para a adesão à fatura eletrónica.
No geral, a CCP refere ainda que, "caso as medidas a implementar proximamente não sejam suficientes para o cumprimento do compromisso assumido por Portugal", está "disponível para discutir outras medidas", entre elas:
- Redução do horário de funcionamento, "tendo em conta a realidade dos vários formatos comerciais";
- Redução dos "horários extensivos de funcionamento no comércio e nos serviços", considerando que "Portugal tem uma média semanal de funcionamento muito superior à média europeia".
Comentando também a questão da eficiência hídrica, a CPP sugere:
- Utilização de "torneiras com arejadores calibrados de água" nos WC, gabinetes e outros espaços;
- "Evitar a lavagem de ruas com recurso a água potável".
Centros Comerciais
Ao SAPO24, Rodrigo Moita Deus, presidente executivo da Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC), lembra que "a guerra na Ucrânia só agravou um problema que já existia".
Além disso, "há muito que o setor do retalho tem implementado medidas concretas para reduzir os consumos", a título de exemplo:
- Utilização de iluminação eficiente;
- Instalação de centrais fotovoltaicas.
Todavia, "um plano transversal a todos os setores da economia é uma iniciativa necessária". Neste sentido, "a APCC apresentou ao Governo uma série de propostas concretas para reduzir consumos", estando em causa medidas "de curto prazo e estruturantes" que podem "significar uma redução no consumo entre 7 e 9%", como:
- O "controlo da climatização (temperaturas mais baixas no inverno, temperaturas mais altas no verão)";
- A instalação de "iluminação eficiente e meios mecânicos (elevadores, escadas rolantes…)";
- A criação de "centrais de produção própria para autoconsumo".
Segundo a APCC, a aplicação destas iniciativas pode também "evitar impactos na atividade económica e a transferência de vendas para o online". Além disso, "todas as medidas estruturantes que promovam a sustentabilidade e a eficiência energética têm um efeito positivo", diz Rodrigo Moita Deus.
Hotelaria e Restauração
Segundo a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), é preciso considerar que, "após dois anos de pandemia, com impactos acrescidos no Canal HORECA (estabelecimentos hoteleiros, de restauração e similares), o momento é de intensa laboração".
Contudo, apesar de ser registado "o tão desejado pico na atividade" das empresas, esse "está a revelar-se insuficiente para a recuperação das tesourarias, pois o contexto inflacionista e de aumento galopante dos custos está a esmagar as margens de negócio".
Desta forma, é "determinante que, no âmbito do Plano de Poupança de Energia e Eficiência Hídrica, sejam disponibilizados programas de apoio à eficiência energética, especificamente direcionados para os setores da restauração, similares e do alojamento turístico", defende a empresa em comunicado divulgado.
Apesar de a AHRESP referir que está "totalmente disponível para trabalhar com o Governo e outros parceiros, no sentido de contribuir ativamente para o Plano de Poupança de Energia e Eficiência Hídrica", é frisado que existem medidas que já estão implantadas de forma a possibilitar a "redução do consumo de energia":
- A realização de auditorias energéticas;
- Uma campanha de substituição dos motores elétricos convencionais dos sistemas de refrigeração por motores de comutação eletrónica.
Por outro lado, existem fatores que a AHRESP defende que não são viáveis "para a redução de 7% no consumo de energia", por exemplo:
- Restrições ao funcionamento das atividades, como a redução de horários;
- Obrigações que se revelem penalizadoras para as atividades económicas.
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