Como descreve a BBC, o primeiro caso ocorreu há cerca de duas semanas, quando um homem de 21 anos se apercebeu de que tinha engolido uma agulha ao ter dado uma dentada num morango, tendo ido de urgência para o hospital devido a dores abdominais.
Um amigo seu verificou que outros frutos da mesma caixa também tinham agulhas e fez a denúncia via Facebook. Este aviso colocou a polícia em alerta, tendo subsequentemente encontrado caixas contaminadas nos estados de Nova Gales do Sul, Victoria e Queensland, cujas autoridades de saúde aconselharam os consumidores a "abrir os morangos antes de os comerem".
Várias marcas começaram a recolher preventivamente os frutos das lojas, mas o caso ganhou dimensão nacional, ao alastrar-se aos estados do Território da Capital Australiana, Austrália Meridional e Tasmânia, ao passo que alguns dos maiores distribuidores da Nova Zelândia deixaram de comercializar morangos australianos.
Com o pânico, o preço dos morangos começou a descer, chegando até a atingir valores abaixo do custo de produção em algumas regiões. As consequências têm sido particularmente danosas para os produtores e para uma indústria que representa 130 milhões de dólares australianos (aproximadamente 81 milhões de euros), já que o país se encontra na época alta.
Alguns dos produtores foram mesmo forçados a destruir as suas colheitas e a apertar os métodos de verificação, chegando mesmo a colocar detetores de metais ou máquinas raio-X. Stephanie Chheang, filha da dona da quinta Donnybrook Berries, uma das visadas pelo ato de sabotagem, partilhou um vídeo na sua conta de Facebook onde dá conta dos milhares de morangos destinados ao desperdício. Na legenda, escreve que esta foi "sem dúvida a pior coisa que aconteceu à minha família", lembrando que "o que está aqui vale mais do que aquilo que vocês imaginam, e em três dias perdemos tudo."
Dados os danos causados à indústria, a Queensland Strawberry Growers' Association levantou na passada quinta-feira, 13 de setembro, a hipótese de ter sido um "trabalhador descontente" a colocar as agulhas nos morangos. No entanto, dado o espetro geográfico dos casos, não se sabe se o crime foi cometido durante a produção ou a distribuição dos frutos e as autoridades começaram também a recear a possibilidade de haver imitadores a replicar esta prática.
A resposta do Governo
Face ao desenrolar da situação, o ministro da Saúde, Greg Hunt, ordenou à autoridade de segurança alimentar da Austrália e da Nova Zelândia para investigar a onda de pânico, descrevendo os crimes como "muito cruéis" e "um ataque geral ao público". O governo estatal de Queensland anunciou a recompensa de 100.000 dólares australianos (aproximadamente 62 mil euros) para quem fornecer informações válidas às autoridades.
Seguiram-se as declarações do primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, que, segundo a AFP, classificou hoje o caso de "terrorismo" e o responsável de "cobarde" e "um verme". O líder governamental propôs uma mudança na legislação para que os autores do crime de contaminação alimentar deliberada possam ser condenados a até 15 anos de prisão, já que a atual lei só prevê uma pena até 10 anos.
Morrison pediu também aos australianos que preparem bolos de morango para minimizar as perdas, tendo o governo federal desbloqueado também uma verba de 1 milhão de dólares australianos (aproximadamente 622.268 euros) para apoiar os produtores.
Neste momento já foram reportados mais de 100 casos distintos de contaminação, mas o ministro da Administração Interna australiano, Peter Dutton, considera que muitos são falsos ou tentativas de imitação, lamentando que se faça a polícia dispersar em vez e focar-se na origem do problema.
As autoridades anunciaram que continuam à procura do autor do crime e cogitam aumentar o valor da recompensa. Até agora houve apenas uma detenção, com a polícia de Nova Gales do Sul a prender um rapaz que admitiu ter colocado agulhas nos frutos como uma brincadeira.
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