A CNN começa por contar a história de uma jovem assistente de produção que acusa o ator, durante as gravações do filme "Ladrões com muito estilo” (2017), de a tocar de forma inapropriada — no fundo das costas, de fazer comentários sobre o seu corpo e roupa diariamente. Num dia, conta, "ele tentou várias vezes levantar a minha saia enquanto perguntava se eu estava a usar roupa interior".

Outro dos depoimentos é da jornalista Chloe Melas, da CNN, que coassina a reportagem, recordando que, numa ronda de entrevistas a propósito daquele mesmo filme, Morgan Freeman teceu vários comentários de cariz sexual enquanto olhava insistentemente para ela, grávida na altura de seis meses.

Acrescenta a televisão norte-americana que os comportamentos do ator não se limitaram a este filme, com uma funcionária de produção a relatar casos que remontam a 2012, durante as gravações do filme "Mestres da Ilusão", em que Freeman fez vários comentários sobre o seu corpo e de uma outra assistente de produção.

No total, 16 pessoas falaram com a CNN, oito das quais relataram situações de assédio e as restantes de comportamento inapropriado por parte do ator — vários relatos debruçam-se sobre comentários com pendor sexual, olhares e comportamentos que deixavam as mulheres desconfortáveis.

Quatro pessoas que trabalham em rodagens de produções com Morgan Freeman ao longo da última década descrevem um persistente comportamento impróprio que incluía assédio verbal e tentativa de, por exemplo, levantar as saias das mulheres.

"Cada uma delas disse que não denunciou o comportamento de Freeman porque receava perder o emprego (...). O comportamento padrão descrito pelas pessoas que falaram com a CNN revela os problemas sistemáticos que existem na indústria do entretenimento", afirma o canal de televisão.

A CNN refere ainda que tentou, sem sucesso, obter um esclarecimento ou reação do ator ou dos representantes.

"As alegações contra o Freeman não se referem a coisas que se passaram em privado. São coisas que alegadamente aconteceram em público, em frente a testemunhas e até mesmo em frente às câmaras", escrevem as jornalistas An Phung e Chloe Melas.

"Antes do [movimento de denúncia] #Metoo, muitos homens da indústria do entretenimento comportavam-se sem medo das consequências, porque muitas vezes quando algum homem com poder o fazia, era a vítima que sofria as consequências", lamentam.

Morgan Freeman, 80 anos, é visto como um dos atores mais respeitados e famosos de Hollywood, com uma carreira premiada de quase cinquenta anos da qual fazem parte filmes como "Miss Daisy", " A fogueira das vaidades", "Os condenados de Shawshank", "Sete pecados mortais" ou "Invictus". O ator teve várias nomeações para os Óscares, tendo ganho o de "Melhor Ator Secundário" em 2004 e o galardão Cecil B. DeMille em 2012. Já em 2018, Morgan Freeman recebeu o prémio de Honra do Sindicato dos Atores dos EUA, como reconhecimento pela sua trajetória no mundo da interpretação.

(Notícia atualizada às 18h21)