Numa entrevista à agência Efe, durante uma breve visita a Madrid, Moro assegurou que não queria passar toda a sua vida como o homem condenou à prisão o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e recordou que a sentença foi confirmada e aumentada pelo tribunal de recurso.
Moro, que já tinha rejeitado em público a possibilidade de participar no mundo da política, disse que aceitou a proposta de Bolsonaro para "implementar" uma agenda de combate à corrupção, crime organizado e violência.
O futuro responsável pela pasta da Justiça disse que se vê "numa função predominantemente técnica, e não para fazer política partidária".
O ex-juiz federal, que teve de renunciar à sua carreira de magistrado para aceder ao convite para integrar o futuro executivo do ex-capitão do exército, afirmou não ver Bolsonaro como um político da extrema-direita, assegurando que muitas das críticas que lhe foram feitas foram "declarações passadas retiradas do contexto".
"O Presidente [eleito] é um democrata sólido", declarou Moro, a propósito de críticas a Bolsonaro e das preocupações que gerou dentro e fora do Brasil, afirmando ainda: "Nunca entraria num Governo que adotasse políticas de discriminação".
Moro rejeitou ainda as críticas de populismo contra Jair Bolsonaro, com o argumento de que o eixo da campanha eleitoral deste último para as eleições de outubro passado, nomeadamente a luta contra a corrupção e crime, "não é populismo", mas sim algo que a sociedade brasileira exige.
O ex-juiz explicou que a eleição de Bolsonaro foi em parte uma "consequência" do facto de os partidos políticos tradicionais não atenderem a "frustração" da população diante de casos de corrupção de "proporções gigantescas", como a Petrobras, com subornos milionários.
Sergio Moro, de 46 anos, recusa ver-se a si mesmo como um símbolo ou que possa ser usado politicamente pelo Presidente eleito: "Foi-me dada a oportunidade de implementar uma agenda anticorrupção", afirmou Moro, limitando-se a explicar a posição que começará a exercer no início de 2019.
Admitiu, no entanto, que assume um "risco" pessoal ao aceitar a pasta, mas aceita-o como algo normal, considerando que "todas as decisões diárias envolvem riscos pessoais" de algum tipo.
O futuro titular da Justiça reconhece que terá que trabalhar em profundidade com o novo Congresso, muito fragmentado tal como os anteriores, para conseguir implementar os seus projetos legislativos.
Apesar dessa fragmentação, o facto de haver um novo Congresso e um novo Presidente faz com que Moro confie que haverá "uma maior facilidade" em aprovar os projetos legislativos que lhe dizem respeito.
Dois problemas que enfrentará são a falta de recursos das autoridades e polícias dos estados brasileiros, na luta contra o tráfico de drogas, assim como a superlotação das prisões, devido também às promessas eleitorais de Bolsonaro que fazem prever mais condenações.
Moro salientou ainda a necessidade de combater a violência num país que regista 60.000 homicídios por ano, um valor considerado "escandaloso", com apenas 10% dos casos são resolvidos.
De um modo geral, o próximo ministro da Justiça encontra-se otimista sobre a possibilidade de lutar contra a corrupção no Brasil, já que acredita que esta se concentra em casos de alta visibilidade, apesar de muito enraizados.
O Governo de Bolsonaro inicia funções a 1 de janeiro próximo.
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