“O meu pai, que estava doente há vários anos, foi um eminente historiador, pedagogo, investigador e académico que deixa uma obra monumental, como a História de Portugal da Editorial Verbo, que contribuiu para renovar a historiografia em Portugal e a formar muitos jovens investigadores”, afirmou Vítor Serrão.
Segundo Vítor Serrão, o legado que fica da obra do pai, “além da abundante bibliografia, é, justamente, a marca pedagógica, porque formou uma quantidade de alunos, incluindo futuros investigadores, arquivistas, gente ligada à Cultura, que teve o privilégio de conviver com o magistério do meu pai”.
Joaquim Veríssimo Serrão nasceu em Tremês, no Ribatejo, em 08 de julho de 1925, e deixa dois filhos, Vítor e Adriana, ambos docentes na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
“Nas mensagens que me foram transmitas é de destacar o elogio unânime de quem o teve como professor e com ele aprendeu a amar a História”, adiantou Vítor Serrão, destacando que a obra do pai “estende-se além-fronteiras e contribuiu para destacar o perfil da História de Portugal no contexto ibero-americano e no contexto geral da Europa”.
Na sua página na rede social Facebook, Vítor Serrão escreveu: “Porque não encontro as palavras certas para exprimir o sentimento da perda e a dor da ausência, limito-me a partilhar a notícia da morte de meu Pai, Prof. Joaquim Veríssimo Serrão (1925-2020), historiador, ensaísta, académico e homem de cultura, que ocorreu em Santarém no final do dia de hoje, 31 de julho, uma sexta-feira de tão triste memória…”.
Uma vida dedicada à História
Joaquim Veríssimo Serrão é autor de uma vasta obra historiográfica, na qual avulta a sua História de Portugal, em 19 volumes, que terminou em 2011.
O foco da investigação histórica de Veríssimo Serrão foi a participação dos humanistas portugueses na cultura europeia do século XVI, a história local, com particular atenção por Santarém, concelho de onde era natural, a formação do Brasil, a questão epistemológica da historiografia portuguesa, alguns personagens que se destacaram na vida política portuguesa nas últimas décadas do Antigo Regime (século XVIII) e o início do Liberalismo (século XIX).
Nascido em Tremês, no Ribatejo, em 8 de julho de 1925, Joaquim Veríssimo Serrão licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em 1948. Um ano antes dera à estampa “Ensaio Histórico sobre o Significado da Tomada de Santarém aos Mouros em 1147”, e estreia-se, em 1948, como conferencista, apresentando “A mundividência na poesia de Guilherme de Azevedo”.
Em 1950 partiu para Toulouse, no sudoeste de França, onde foi leitor de Cultura Portuguesa da universidade local. Durante este período contactou com lusitanistas como Paul Teyssier, León Bourdon e Jean Roche. Durante esta estada publicou “A Infanta D. Maria (1521-1570) e a sua Fortuna no Sul da França” e dá a conhecer investigações sobre António de Gouveia, Francisco Sanches, Diogo de Teive, Manuel Álvares e outros letrados portugueses que frequentaram aquela universidade.
Em 1957 defendeu a tese de doutoramento na Universidade de Coimbra, intitulada “O Reinado de D. António Prior do Crato: 1580-88”, e iniciou funções docentes na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Na década seguinte, o historiador foi particularmente profícuo: além de dar aulas e conferências, publicou trabalhos sobre humanistas portugueses nas universidades de Salamanca, Montpellier e Toulouse, as relações externas entre Portugal e as cortes europeias no século XVI, o Brasil colonial (séculos XVI e XVII) e a crise dinástica de finais do século XVI.
Fez parte do grupo de colaboradores da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e do Dicionário da História de Portugal, dirigido por Joel Serrão, onde assinou dezenas de entradas.
Entre 1967 e 1972, suspendeu a atividade docente, por ter sido nomeado diretor do Centro Cultural Português da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris. Nestas funções destacou-se na divulgação dos estudos portugueses, tendo, entre outros títulos, publicado “Arquivos do Centro Cultural Português”.
Em 1973 regressou a Portugal e ocupou a cátedra de História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, da qual foi reitor até 1974, cargo do qual saiu após a Revolução de 25 de Abril.
Pouco depois, o historiador deu testemunho da sua amizade a Marcello Caetano, último presidente do Conselho de Ministros do regime corporativista, publicando “Confidências no Exílio” (1985) e “Correspondência com Marcello Caetano 1974-1980” (1994).
Desde 1975 até 2006 presidiu à Academia Portuguesa da História.
Joaquim Veríssimo Serrão foi sócio de mérito, membro honorário e correspondente de inúmeras sociedades científicas, portuguesas e estrangeiras, tendo recebido diferentes distinções, condecorações e prémios, bem como doutoramentos “honoris causa” por universidades francesas, espanholas e portuguesas.
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