“É com pesar que anunciamos a morte da lenda do jazz, Alfred ‘McCoy’ Tyner”, escreve a família, na conta de Facebook do pianista, sem precisar data nem local da morte.

“McCoy era um músico inspirado que dedicou a sua vida à sua arte, à família e à espiritualidade”, prossegue a mensagem na noite de sexta-feira, na qual é feito o agradecimento pelas provas de afeto, durante “este tempo difícil”.

“A música e o legado [de McCoy Tyner] continuarão a inspirar os seus seguidores e os talentos futuros”, conclui a mensagem.

A editora Blue Note, que publicou alguns dos mais premiados álbuns de McCoy Tyner, colocou uma fotografia do jovem pianista na página de abertura do seu ‘site’, com a mensagem: “O mundo perdeu um titã”.

Poucas horas antes do anúncio da morte do pianista, a sua página no Facebook lembrava que, na primeira semana de março de 1963, McCoy Tyner estivera em estúdio para a gravação do álbum lendário que reuniu John Coltrane ao cantor Johnny Hartman.

Alfred McCoy Tyner nasceu em Filadélfia, em 1938, iniciou a sua carreira em orquestras da cidade natal, durante a década de 1950, altura em que se iniciou com músicos como o trompetista Kenney Dorhan, o saxofonista Jackie McLean e o baterista Max Roach.

O seu percurso ganhou fôlego quando conheceu John Coltrane, em 1956, que considerou determinante na sua carreira.

De 1960 a 1965, fez parte do célebre quarteto do saxofonista, com o contrabaixista Jimmy Garrison e o baterista Elvin Jones, que a revista especializada norte-americana DownBeat considerou um dos mais famosos e emblemáticos na história do jazz, tendo dado origem a álbuns históricos como “Ballads”, “A Love Supreme” e “My Favourite Things”.

É também o pianista de “Both Directions At Once: The Lost Album”, o álbum perdido de John Coltrane, que se manteve inédito durante 55 anos, até à publicação, em 2018.

McCoy Tyner fez ainda parte de formações como o Jazztet, com o trompetista Art Farmer, o saxofonista Benny Golson e o trombonista Curtis Fuller, e firmou uma carreira como líder e solista, tendo trabalhado com músicos como os trompetistas Freddie Hubbard, Donald Byrd e Lee Morgan, os saxofonistas Sonny Rollins, Eric Dolphy, Stanley Turrentine, Hank Mobley e Wayne Shorter, o contrabaixista Ron Carter e o baterista Al Foster, entre outros.

Gravou para editoras de referência como a Blue Note, Atlantic, Milestone e Impulse!, deixando álbuns que marcaram o jazz e as suas expressões, ao longo de mais de 50 anos, como “Inception” (1962), “Nights of Ballads and Blues” (1963), “The Real McCoy” e “Tender Moments” (1967).

“Sahara” e “Song for My Lady” (1972) assinalam o seu reaparecimento na década de 1970. “Enlightenment” (1973), gravado no Festival de Jazz de Montreux, inclui “Walk Spirit, Talk Spirit”, uma das suas mais conhecidas composições.

Sucederam-se então discos como “Looking Out” (1982), “It’s About Time” (1985), “Things Ain’t What They Used to Be” (1989), “Manhattan Moods” (1993), “Prelude and Sonata” (1994), “Autumn Mood” (1997), “McCoy Tyner & the Latin All-Stars” (1999).

Nos últimos anos, destcam-se ainda “McCoy Tyner Plays John Coltrane” (2001), “Suddenly” (2002) e “Illuminations” (2004) que se juntaram aos mais de 70 álbuns que editou em nome próprio, desde o início da década de 1960, que lhe valeram dezenas de prémios, entre os quais cinco Grammys e dezenas distinções, como um doutoramento ‘honoris causa’, no Berklee College of Music, no Massachusetts.

McCoy Tyner atuou por diversas vezes em Portugal, tendo marcado presença nos festivais de Cascais e do Estoril, no Jazz em Agosto da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, na programação da Casa da Música, no Porto, no Algarve, no Funchal e no Guimarães Jazz, entre outros locais.

Dos seus concertos mais recentes constam os de 2007, quando lançou o seu álbum com o saxofonista Joe Lovano, o contrabaixista Christian McBride e o baterista Jeff Watts, “McCoy Tyner Quartet”, e, em 2012, quando atuou no Centro Cultural de Belém com o filho de John Coltrane, o saxofonista Ravi Coltrane, acompanhados por Gerald Cannon, em contrabaixo, e Montez Coleman, em bateria.

Considerado por toda a crítica um dos pianistas mais influentes da história do jazz, a par de Bill Evans e Thelonious Monk, Tyner não gostava de falar sobre a sua expressão, considerando-a fruto de aprendizagem e experiência de vida, como disse em diversas entrevistas.

Na sua página no Facebook manteve a citação: “Para mim, vida e música são uma e a mesma coisa, toco o que vivo”.

“É impossível expressar como McCoy era importante, foi e sempre será imoortante para a música”, escreve a Blue Note, na sua página na Internet. E acrescenta: “A imensidão de beleza que deu ao mundo é simplesmente impressionante (…), e a sua influência nos pianistas de jazz que surgiram nos últimos 60 anos não tem fim”.

“Que descanse em paz, um dos maiores de todos os tempos”, conclui a Blue Note.

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