A mostra, que ficará patente até 06 de março do próximo ano, “acontece na sequência da conclusão das obras do projeto de recuperação e adaptação da Casa de Serralves, assinado pelo arquiteto Álvaro Siza, que contou com o apoio da Câmara Municipal do Porto, nos termos do protocolo que define as condições de depósito da Coleção Miró em Serralves”, lê-se no comunicado da Fundação de Serralves hoje divulgado.
A Coleção Miró, propriedade do Estado Português, cedida ao Município do Porto e depositada na Fundação de Serralves, é composta por 85 peças e engloba pintura, escultura, colagem, desenho e tapeçaria, abrangendo “seis décadas de trabalho de Joan Miró, de 1924 até 1981, constituindo assim uma excelente introdução à sua obra e às suas principais preocupações artísticas”, escreve hoje a fundação.
As obras de adaptação da Casa de Serralves, no Porto, para receber a Coleção Miró, tiveram início em agosto do ano passado. A reabertura da Casa era então apontada para o outono deste ano.
Realizadas no âmbito do Protocolo de Depósito e de Promoção Cultural, assinado em outubro de 2018, entre a Câmara Municipal do Porto e a Fundação de Serralves, as obras de ampliação contaram com o compromisso de financiamento, até um milhão de euros, pela parte da autarquia, para que a Casa de Serralves pudesse acolher a coleção do mestre catalão.
No protocolo, a Câmara do Porto comprometeu-se igualmente a um pagamento anual de 100 mil euros à Fundação de Serralves, pelo prazo de 25 anos, para que a coleção seja protegida e promovida nacional e internacionalmente.
Joan Miró (1893—1983), um dos grandes “criadores de formas” do século XX, foi simultaneamente um “assassino” estético que desafiou os limites tradicionais dos meios com que trabalhou, escreve hoje a fundação, sobre o artista e a mostra a inaugurar no próximo dia 09.
“Na sua arte, as diferentes práticas dialogam entre si, cruzando os meios: a pintura comunica com o desenho; a escultura seduz os objetos tecidos; e as colagens, sempre conjugações de entidades díspares, funcionam como princípio maior ou matriz para a exploração das profundezas do real”.
A exposição que vai reabrir a Casa de Serralves “não segue um formato cronológico ou linear: as obras estão agregadas tematicamente, tentando dar uma visão holística do percurso do artista”, adianta a fundação.
Assim, “as várias salas abordam diferentes aspetos da sua arte: o desenvolvimento de uma linguagem de signos; o encontro do artista com a pintura abstrata que se fazia na Europa e na América; o seu interesse pelo processo e pelo gesto expressivo; as suas complexas respostas ao drama social dos anos 1930; a inovadora abordagem da colagem; o impacto da estética do sudoeste asiático na sua prática do desenho; e, acima de tudo, a sua incessante curiosidade pela natureza dos materiais”.
A coleção proveniente do antigo Banco Português de Negócios (ex-BPN) foi classificada no ano passado como de interesse nacional, num despacho que reconheceu a sua lógica, em termos de manifestação da produção artística de Joan Miró, como um “conjunto heterogéneo de criações realizadas ao longo de seis décadas, com recurso a diversos materiais, técnicas e suportes, incluindo, entre outros, óleos, aquarelas, desenhos, colagens e peças escultóricas, representando uma extensa e variada amostragem da obra do artista catalão”.
Publicado em Diário da República em 27 de julho de 2020, o despacho de classificação estabeleceu ainda que, dentro desta lógica de conjunto “se devem entender não apenas as peças mais notáveis, tais como ‘A Bailarina’ (1924), ‘La Fornarina’ (1929), ‘Signos e Figurações’ (1935), ‘Canto dos Pássaros de Outono’ (1937), ‘Mulher e Pássaro’ (1959), ‘Personagens e Pássaros na Noite’ (1963), ou, por exemplo, a série de tecelagens (Sobreteixins) de 1972-73, mas igualmente as restantes obras, incluindo aquelas de menor relevo, que contribuem para uma melhor compreensão das ligações entre períodos artísticos na obra de Joan Miró”.
Quando do anúncio das obras, na Casa de Serralves, para acolhimento da coleção, a fundação disse que “a Coleção Miró continuará […] a ser alvo de intensas pesquisa e divulgação, pois o acervo será não apenas apresentado ao público, mas estudado em profundidade”.
“Com este objetivo, serão desenvolvidas parcerias com entidades internacionais para a colaboração na organização de novas mostras, mas também para a edição de publicações e programas de pesquisa. Estas atividades decorrerão em paralelo a uma gestão dos pedidos de empréstimo que valorize as parcerias com instituições internacionais e com os imprescindíveis trabalhos de tratamento preventivo e conservação desta coleção ímpar”.
“Joan Miró: Materialidade e Metamorfose”, patente em Serralves, no Porto, e no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, em 2017 e 2018, e “Joan Miró and the Language of Signs”, apresentada no Palazzo delle Arti, em Nápoles, em 2019, foram algumas das exposições trabalhadas sobre a Coleção Miró depositada em Serralves.
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