Wei Zexi, um estudante de 21 anos que sofria de um tipo raro de cancro, encontrou através do Baidu um tratamento experimental proposto por um hospital de Pequim.

O estudante gastou, sem sucesso, cerca de 200.000 yuanes (cerca de 27.000 euros) no tratamento como chegou a explicar no fórum Zhihu, em fevereiro. Wei Zexi acabou por falecer no início do mês passado.

Wei Zexi acusou o hospital de ter exagerado a eficácia do tratamento e o Baidu por ter classificado os resultados da busca em função da publicidade que os hospitais pagam à empresa. O jovem também fez um apelo para que outros pacientes "não se deixem enganar".

O caso provocou nos últimos dias uma onda de indignação nas redes sociais do país. Na China é frequente as pessoas doentes procurarem informação, utilizando quase exclusivamente o Baidu, motor de busca que domina o mercado, uma vez que o Google não está autorizado no país.

A CAC - a autoridade chinesa que administra a internet e a segurança virtual - anunciou num comunicado a abertura de uma investigação sobre o Baidu em conjunto com as autoridades da área de saúde e do comércio e indústria, em que prometeu "tornar públicas as suas descobertas".

Conteúdo patrocinado

O anúncio da abertura da investigação contibuiu para que a posição da empresa na Bolsa de Nova Iorque tenha caído 8%.

A investigação pode resultar em normas mais rígidas e obrigar o Baidu a retirar parte da sua publicidade sobre saúde que, segundo a imprensa financeira chinesa, é uma das principais fontes da sua receita publicitária. A publicidade online para todos os setores representou no primeiro trimestre deste ano mais de 94% do faturamento do Baidu.

Esta é a segunda vez em poucos meses que acontece um caso deste tipo. O Baidu já tinha sido criticado no início de janeiro por ter divulgado, sem identificar como espaço publicitário, conteúdos patrocinados que promoviam tratamentos e hospitais nos fóruns sobre saúde. Ao mesmo tempo, suprimia os comentários negativos para os seus anunciantes. A descoberta do sistema num fórum de debate de hemofílicos provocou o escândalo e uma condenação geral.

A empresa Baidu, que garante identificar os conteúdos patrocinados, afirmou que felicita a abertura de uma investigação e prometeu "total colaboração". O grupo já teria despedido um dos seus vice-presidentes da área de conteúdos patrocinados, segundo o portal de notícias Sina. "Temos uma vigilância especial no setor da saúde. Controlamos ativamente a nossa base de anunciantes ao longo dos anos", disse à AFP um porta-voz do grupo.

Mas, assim como os internautas, a imprensa estatal chinesa continua a criticar o Baidu e a "falta de cuidados" com a credibilidade dos seus anunciantes. "O grupo deve ser alvo de tratamento disciplinar pelas atividades duvidosas que realizou, estimulado pela sua sede de lucro", afirma um editorial do jornal Global Times.