O movimento, de origem alemã, é recente — começou a ganhar forma após os navios de ONG ligadas ao resgate humanitário ficarem retidos nos portos de Malta — e tem vindo a crescer, de acordo com um ativista e organizador de um dos protestos realizados em Berlim, Nicolay Büttner.

“Organizámos protestos em mais de 120 cidades em toda a Europa”, incluindo Lesbos e Atenas (Grécia), Zurique (Suíça), Amesterdão (Holanda), Edimburgo e Bristol (Reino Unido) ou Katowice (Polónia), além de várias cidades alemãs, “e mobilizámos mais de 100.000 pessoas nos últimos dois meses”, disse, considerando que os números mostram que o movimento “cresce, de dia para dia”.

“Construam pontes, não muros: pessoas antes das fronteiras” é o mote do protesto que está a ser convocado via Facebook e está marcado para sábado, às 20:00, no Rossio (Lisboa).

A ideia do Seebrücke, que significa Ponte Marítima em alemão, é gerar um movimento descentralizado “que se espalhe por toda a Europa” e “empoderar as pessoas para fazerem as suas ações onde quiserem”, explicou Nicolay Büttner.

O ativista alemão entende que “as cidades devem mostrar a sua solidariedade” para com os migrantes e defendeu que direitos fundamentais como o direito de residência devem ser uma realidade na Europa, pedindo uma “mudança de paradigma, afastada da deportação e das atitudes desumanas”.

Questionado sobre os acontecimentos da última semana na cidade alemã de Chemnitz, nomeadamente alegadas perseguições contra estrangeiros e atos de violência da extrema-direita, Nicolay Büttner condenou “o populismo da extrema-direita”, considerando que estas atitudes “são inaceitáveis” e que isto deve ficar “muito claro”.

Admitiu que este vai ser também um tema “quente” nas eleições que se avizinham, a nível regional (na Alemanha) e europeu, salientando que a discussão deve centrar-se nos números: “Este ano chegaram à Europa por mar 25 mil imigrantes, não é um número elevado, não vejo qualquer problema para a União Europeia em receber estas pessoas, não afeta o nosso modo de vida”.

O laranja tem sido a cor escolhida para chamar a atenção nos protestos, numa alusão aos coletes usados pelos migrantes resgatados no Mediterrâneo, como aconteceu no passado domingo, em Atenas.

A página do evento em Portugal destaca que mais de 1.546 migrantes perderam a vida no Mediterrâneo na primeira metade deste ano. Em 2017 pelo menos outros 3.000 morreram afogados (segundo o Missing Migrants Project).

Os organizadores criticam o facto de os navios operados por organizações não-governamentais de resgate serem “obrigados a permanecer em terra por razões dúbias”, deixando abandonadas à sua sorte as pessoas que arriscam a vida na travessia do Mediterrâneo.

Outro alvo das críticas são os líderes europeus “que parecem ter fechado olhos, ouvidos e consciência à tragédia que tem lugar nas fronteiras europeias” e cooperam com governos “instáveis e autocráticos” que desrespeitam os direitos humanos, como a Líbia, Turquia, Sudão e Eritreia.

“Políticos europeus como Salvini [ministro do Interior italiano], Seehofer [ministro do Interior alemão] e Kurz [chanceler da Áustria] bloqueiam constantemente o resgate marítimo privado e aceitam conscientemente a morte de muitas mais pessoas”, condenam os organizadores do evento.

Passagem segura, descriminalização do resgate marítimo e “um acolhimento mais humano para as pessoas que se viram forçadas a fugir” são algumas das reivindicações expressas na página do evento.