Entre a indiferença dos mais apressados, a curiosidade, sobretudo dos turistas, e a aceitação dos panfletos, sobretudo por parte dos mais jovens, André Escoval, porta-voz do Movimento Porta a Porta, e duas companheiras, estiveram hoje a partir das 18:00, frente ao Banco de Portugal, na rua do Ouro, em Lisboa, a distribuir uma pequena folha com um texto de protesto contra a falta de medidas que resolvam o problema transversal da habitação no país.

Para quem parava para ouvir uma breve explicação da presença dos três jovens frente a uma faixa a identificar o movimento, deixavam também o apelo de participação na manifestação de maior dimensão, agendada para 22 de junho, pelas 18:00, no Largo Camões, que vai reunir as associações e coletivos que integram a plataforma responsável pela manifestação em seis cidades do país a 01 de abril.

Ana Caleia, que passava pela Baixa, parou para trocar umas palavras com André Escoval e deixar o desabafo sobre a situação que atravessa.

“Não há casas. Eu ando à procura de casa e não há casas para arrendar. O senhorio quer-me pôr de lá para fora. Já pago 600 euros de renda e quer 800 euros e a minha reforma não dá para isso”, disse à Lusa a inquilina no concelho de Oeiras, onde já se dirigiu à Câmara Municipal a pedir casa para si e para o seu filho doente, e onde se encontra em lista de espera há dois anos.

Tem até setembro para encontrar uma solução, que não tem conseguido encontrar nem mesmo fora do seu concelho, onde já procurou e encontrou preços semelhantes por um T1, não o T2 que necessita. Se não encontrar nada que se adeque e possa pagar poderá ficar na rua com o filho, uma vez que o senhorio tem propostas de 950 euros para a casa que neste momento habita e que motivam o pedido de saída.

André Escoval, do movimento Porta a Porta, que hoje quis assinalar o oitavo aumento consecutivo das taxas de juro no BCE, com impacto nos créditos à habitação, sublinhou que as preocupações deste coletivo são abrangentes, tendo entre as suas reivindicações aumentos salariais e de reformas, o fim dos despejos quando as famílias não têm uma alternativa digna, ou a utilização do banco público, a Caixa Geral de Depósitos, para melhorar as condições oferecidas nos créditos à habitação

“É necessário e urgente parar com este aumento das taxas de juro. Isto tem repercussões diretas na vida das pessoas. As famílias estão a sufocar com a prestação da habitação, seja pela via do crédito, seja pelo valor das rendas. É inadmissível. Para lá do aumento hoje tivemos o anúncio de que em julho vem novo aumento. Isto é catastrófico na vida das pessoas e traz muitos problemas, daí a emergência de sairmos à rua e estarmos aqui”, disse o jovem ativista.

Sobre os muitos estrangeiros que abordou e que maioritariamente não mostraram interesse no panfleto, disse serem o “reflexo do centro da cidade deixar de ser habitado” por quem vive e trabalha na cidade, levando ao aumento dos custos da habitação também na periferia.

“Vamos para a periferia, procurar casas mais baratas e mesmo aí o custo com a habitação é insuportável. E o centro da cidade fica para o turismo. Temos que inverter esta política. A cidade é para as pessoas, a cidade é para o trabalho, a cidade é para desenvolver o país e precisamos que ela volte novamente a ser habitada. Sem revermos os preços, nomeadamente os juros e as rendas, não é possível inverter essa política”, disse.