“Tem havido investimento, milhões de euros gastos na recuperação” destes espaços, mas o número de cineteatros ativos “é reduzido” e a programação destes é muitas vezes “débil”, disse à Lusa a arquiteta Joana Gouveia Alves, com doutoramento em “arquitetura e ciências das cidades”.
Do encontro de hoje, que é aberto, o grupo [Cine]Teatro_VIVO, que junta investigadores de todo o país e que habitualmente se reúne de forma virtual, espera, além da reflexão e da discussão, da qual deverá sair uma estratégia de ação, tentar elaborar um documento que aponte estratégias de programação que ajude a dar “nova vida” a estes espaços culturais, afirmou.
O grupo quer ainda contribuir para que as intervenções arquitetónicas respeitem “o valor dos edifícios em si”, muitos dos quais datam do período do Movimento Moderno, da primeira metade do século XX, muito marcado em Portugal pelos “modelos vernaculares da arquitetura portuguesa” impostos pelo Estado Novo.
O grupo surgiu do contacto entre alguns dos investigadores, sobretudo historiadores e arquitetos que têm estado envolvidos em movimentos de defesa de cineteatros, teatros e cinemas um pouco por todo o país, durante um congresso em San Sebastián, Espanha.
José Raimundo Noras, historiador que tem participado em iniciativas que visam evitar a derrocada do Teatro Rosa Damasceno, em Santarém, e sensibilizar tanto o proprietário como as entidades públicas para a importância da recuperação do edifício e da sua vocação cultural, disse à Lusa esperar que se concretize a declaração de vontade feita pelo presidente da Câmara durante a campanha eleitoral, no sentido de, através de uma permuta, passar o edifício para posse do município.
O grupo lamenta a “decadência e abandono de muitas das salas de espetáculos” em Portugal, ocorrido, gradualmente, nas últimas quatro décadas, com muitas delas “já irrecuperáveis porque foram demolidas ou reconvertidas noutras funções”.
“Mesmo nos equipamentos reabilitados, muitas vezes sem terem sido tidas em conta as cartas e convenções internacionais do património, é notória a falta de meios e de estratégias para a captação e manutenção de público regular”, sublinham num documento que acompanha o convite à participação no encontro, que decorre no Centro de Inovação da Mouraria.
“Sabendo que não poderemos voltar aos anos dourados das primeiras décadas do século XX, propomos encontrar respostas contemporâneas em conjunto, contribuindo para a inovação programática e a salvaguarda patrimonial destes equipamentos de fulcral importância para a nossa memória identitária e coletiva”, acrescentam.
Intervêm na sessão, além de Joana Gouveia Alves (Coimbra) e de José Noras (Santarém), Luís Tarroso (Braga), Casimiro Gonçalves (Alhandra), Ana Brás (Lisboa), entre outros, seguindo-se uma “mesa redonda alargada sobre estratégias e iniciativas para a salvaguarda e dinamização de cineteatros e plano de ação do grupo [Cine]Teatro_Vivo para o ano 2017-2018”.
Comentários