Em declarações à Lusa, à margem do IV Encontro Nacional de Limpeza Urbana, evento em que participou como orador, Stephen Goldsmith afirmou que a tecnologia é uma peça-chave para ajudar os residentes a perceber quais as opções que têm à disposição para melhor o seu comportamento, nomeadamente, em matéria de resíduos.

“Durante anos as [entidades que gerem as] cidades apenas se preocuparam em recolher o lixo. Se pensarmos não apenas em recolher o lixo, mas como encorajar melhores comportamentos por parte dos residentes é possível melhorar a eficiência dos processos e, por conseguinte, a qualidade de vida das pessoas”, defendeu.

Segundo o antigo presidente da Câmara de Indianápolis, “se as cidades apenas se preocuparem em recolher o lixo e não olharem para quanto lixo é gerado, quais as oportunidades para reduzir a quantidade de lixo ou quais as possibilidades a desenvolver, como a compostagem ou a reciclagem, perde-se, de certa forma, uma oportunidade” de mudança.

Para isso, prosseguiu, é necessário colocar a tecnologia ao serviço das cidades, o que já é feito em alguns concelhos portugueses, recolhendo dados “que permitam identificar o que está a acontecer” para que se possa contribuir para “desenvolver comportamentos”, sobretudo por parte das gerações mais jovens.

“É preciso usar a tecnologia para ajudar as pessoas a perceberem quais são as suas opções: a quantidade de resíduos que estão a gerar, por exemplo, para que percebam exatamente como é o seu comportamento. A maioria das pessoas reagiria se visse que o seu comportamento não é tão bom como pensava”, referiu.

De acordo com o professor e antigo autarca, algumas cidades nos Estados Unidos começaram a enviar avisos aos seus munícipes dizendo que detetaram que não faziam reciclagem há algum tempo, enquanto no estado do Ohio a empresa fornecedora de energia notifica os residentes da energia gasta, para que se possam comparar com outros.

“Eu acho que quando as pessoas veem os seus comportamentos e compreendem quais as opções que têm pela frente podem comparar-se com outros e isso tem um impacto no seu comportamento”, reiterou.

Por outro lado, os líderes das entidades que gerem as cidades devem também promover alterações na forma como a cidade é gerida, através da tecnologia, colocando por exemplo, dispositivos nos camiões de recolha de lixo que indiquem onde há habitualmente maior quantidade de lixo ou reconfigurando as rotas.

Questionado pela Lusa se essa não será uma opção dispendiosa tendo em conta a situação financeira de algumas autarquias, Stephen Goldsmith respondeu que o investimento tem de ser visto “a médio e longo prazo”, pois o custo terá um retorno financeiro no espaço de alguns anos.

“As autoridades citadinas dispõem hoje de muito mais informação do que alguma vez puderam dispor, o que as ajuda a gerir melhor os serviços”, concluiu.

O IV Encontro Nacional de Limpeza Urbana dedicado ao tema “Roadmap [‘roteiro’ em português] para Cidades Competitivas e Atrativas” termina hoje em Almancil, no concelho de Loulé, distrito de Faro, tendo reunido 40 oradores convidados, nacionais e internacionais.

A agenda dos três dias de trabalhos, que começaram na quarta-feira, incluiu temas como a importância do estado da limpeza urbana como um ativo das cidades, as oportunidades de financiamento da legislação nacional para a limpeza urbana e para os resíduos, as estratégias para acabar com os resíduos abandonados e as boas práticas de sensibilização da população.