A onda de desobediência da população não tem precedentes na China continental nos últimos 30 anos e há quem diga mesmo que tais manifestações fazem recordar o protesto em massa por liberdade e democracia na Praça Tiananmen, em 1989.

Agora, contudo, as razões são um pouco diferentes, embora a palavra de ordem seja, novamente, liberdade. A população quer regressar à vida normal, mas o governo de Xi Jinping continua a impor a medida restrita de Covid zero, colocando milhões em confinamento, praticamente de uma hora para a outra.

A gota de água para a população terá sido o Campeonato do Mundo de futebol. Vendo milhões em Doha, no Qatar, a assistirem aos jogos do mundial, o povo chinês começou a sair à rua, protestando contra a medida do governo, que dura há quase três anos, e o líder Xi Jinping, que ainda há pouco mais de um mês foi novamente eleito para mais um mandato à frente do Partido Comunista Chinês.

Mais recentemente a morte de dez pessoas, forçadas a confinamento em casa, em Xianjiang, serviu também para que o povo perdesse a paciência contra o excesso de zelo dos governantes chineses. As vítimas estavam num prédio que pegou fogo e como não podiam sair à rua acabaram por falecer, devido à inalação de fumo.

As ondas de protesto têm surgido nas principais cidades chinesas, como Shanghai, Pequim, Chengdu, Wuhan e Guangzhou, e a cada hora que passa escalam de proporção. O principal visado é mesmo Xi Jinping e nem o facto das autoridades terem detido milhares de pessoas fazem com que a população saia das ruas.

Segundo a Comissão Nacional de Saúde, nos últimos dias a China tem batido recordes diários de infeções, acima dos 40 mil casos. Um número, porventura, insignificante, dados os mais de 1,4 mil milhões de pessoas que habitam esta país asiático. De acordo com as últimas contas, cerca de dois milhões de pessoas estarão em confinamento obrigatório.