Este é um dos muitos indicadores que consta no relatório “Atlas de Saúde Mental 2020”, um documento publicado a cada três anos pela OMS que revela nesta edição, segundo a agência das Nações Unidas, “um cenário dececionante” e “uma falha mundial” no cumprimento da maioria dos objetivos traçados há cerca de uma década para a área da saúde mental.
“É extremamente preocupante que, apesar da evidente e crescente necessidade de serviços de saúde mental, que se tornou ainda mais aguda durante a pandemia de covid-19, as boas intenções não estejam a ser cumpridas com investimentos”, afirma o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a propósito deste novo relatório.
E o representante deixa um apelo: “Devemos prestar atenção e agir de acordo com esta chamada de atenção para despertar e acelerar drasticamente o aumento do investimento na saúde mental, porque não há saúde sem saúde mental”.
Entre os 194 Estados-membros que integram a OMS, dos quais 171 forneceram dados para este relatório, apenas um quarto (25% ou 49 países) relatam a integração da saúde mental nos cuidados de saúde primários.
“Embora tenham sido feitos progressos na formação e na supervisão na maioria dos países, o fornecimento de cuidados clínicos para condições de saúde mental e para cuidados psicossociais nos serviços de cuidados de saúde primários continua a ser limitado”, lê-se no documento.
Em 2020, segundo frisa a OMS, “nenhuma das metas de liderança e governança eficazes para a saúde mental, de prestação de serviços de saúde mental em ambientes comunitários, de promoção e prevenção da saúde mental e de fortalecimento dos sistemas de informação estava perto de ser alcançada”.
A agência da ONU realça, por exemplo, que apenas 51% dos seus 194 Estados-membros indicaram que as suas políticas ou planos de saúde mental estava em consonância com os instrumentos internacionais e regionais de direitos humanos, “muito aquém da meta de 80%”, e que só 52% dos países cumpriram os objetivos relativos aos programas de promoção e de prevenção da saúde mental, também muito abaixo da meta estipulada de 80%.
No entanto, em relação a este último indicador, a OMS vê um sinal encorajador, uma vez que em 2014 apenas 41% dos Estados-membros da organização apresentavam programas de promoção e prevenção da saúde mental.
“O único objetivo alcançado em 2020 foi uma redução na taxa de suicídio em 10%, mas mesmo assim, apenas 35 países disseram ter uma estratégia, política ou plano de prevenção autónomo”, destaca a organização internacional.
Outro dado que é evidenciado pela OMS é que a percentagem dos orçamentos públicos da área da saúde canalizada para a saúde mental quase não sofreu alterações durante os últimos anos, continuando a situar-se nos 2%.
“Além disso, mesmo quando as políticas e os planos incluíam estimativas dos recursos humanos e dos recursos financeiros necessários, apenas 39% dos países indicaram que os recursos humanos necessários tinham sido atribuídos e 34% que os recursos financeiros necessários tinham sido alocados”, especifica o documento.
Perante este cenário à escala global, a OMS sublinha que ainda há “um longo caminho a percorrer” para garantir que todas pessoas, em qualquer parte do mundo, tenham acesso a cuidados de saúde mental de qualidade e, nesse sentido, exorta todos os países a atingirem as metas traçadas, bem como novos objetivos, até 2030.
“Sinto-me encorajada pelo vigor renovado que vimos dos governos à medida que os novos objetivos para 2030 foram discutidos e acordados e estou confiante que juntos podemos fazer o que é necessário para passar de pequenos passos para grandes passos nos próximos 10 anos”, conclui Dévora Kestel, diretora do Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da OMS, citada num comunicado.
O relatório “Atlas de Saúde Mental 2020” da OMS é lançado por ocasião do Dia Mundial da Saúde Mental, instituído desde 1992 e assinalado no próximo domingo, dia 10 de outubro.
Este ano, o dia terá como foco a promoção e o aumento do acesso a cuidados de saúde mental de qualidade.
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