A brasileira Alice Cunha da Silva promotora em Glasgow, onde se realiza a COP26, do "Nuclear pelo Clima", disse à agência Lusa que não há soluções "de tamanho único" para os países subscritores do Acordo de Paris sobre alterações climáticas e que "não se podem tirar da mesa tecnologias que beneficiam as pessoas".
"Não há uma solução única para a mudança climática e a acreditamos na colaboração das fontes limpas de energia. O nuclear é uma fonte de energia limpa, não há emissões de dióxido de carbono durante o processo. As energias renováveis [eólica ou solar] precisam de ser utilizadas, mas são intermitentes", referiu, argumentando que é precisa "uma fonte de energia limpa para ajudar à estabilidade do sistema energético, um país precisa de ter essa garantia de fornecimento".
Alice Cunha da Silva passava em criança junto às torres da Angra 1, no estado do Rio de Janeiro, a primeira central nuclear do Brasil, construída em 1985, e tomou cedo a decisão de "descobrir o que era aquilo", que levou até ao fim tornando-se engenheira nuclear.
Um ano depois da entrada em funcionamento da Angra 1, aconteceu o desastre da central soviética de Chernobyl. A especialista contrapõe que associar sempre a energia nuclear ao risco advém do "desconhecimento e desinformação" em relação à era moderna da energia nuclear.
"O setor nuclear é altamente regulado. Falando do Brasil, temos órgãos reguladores nacionais, mas também há reguladores internacionais que emitem orientações e verificam a segurança. Os reatores são pensados para resistir a diversos tipos de riscos potenciais, com um desenho de engenharia pensado para proteger de qualquer libertação de radiação", salienta.
"Temos que ouvir as pessoas, entender as preocupações, mas trazer dados e factos", indicando que uma das suas vantagens é ser "muito compacta e muito densa", o que a leva a ser mais eficaz em vários aspetos.
Um pedaço de urânio "com o tamanho de uma goma produz a mesma quantidade de energia do que uma tonelada de carvão", exemplificou, acrescentando que "reatores modernos pequenos, modulares e microrreatores permitem uma matriz mais descentralizada, levar uma energia confiável a comunidades remotas, que vivem em pobreza energética, trazer essas pessoas para uma vida com os mínimos recursos básicos".
"Isso também é justiça climática e também é preciso para chegar a um futuro de emissões zero", resumiu.
Energia nuclear significa, por outro lado, resíduos de combustível que permanecem radioativo durante milhares de anos, uma "preocupação válida", a que contrapôs que "existem processos de reprocessamento e reciclagem que alguns países já fazem, em que o combustível usado é processado e reutilizado".
Quando tem que ser armazenado, "é gerível", defendeu, além de que "as infraestruturas necessárias para esse armazenamento trazem desenvolvimento socioeconómico".
"Nunca ninguém morreu por causa de resíduos nucleares", afirmou.
Também hoje em Glasgow, uma declaração conjunta da Alemanha, Portugal, Luxemburgo, Áustria e Dinamarca defende que não deve haver dinheiro europeu para projetos de energia nuclear.
Na sua apresentação, o ministro português do Ambiente e Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, defendeu que este tipo de energia "não é segura, não é sustentável e custa muito dinheiro”.
“Todo o dinheiro que se coloca na energia nuclear é definitivamente dinheiro que se devia colocar em energia renovável e é disso que o mundo precisa. Precisamos de energia, mas que não venha de [combustíveis] fósseis. E precisamos de energia que não tenha lixo nuclear”, insistiu.
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