Questionado sobre declarações do chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, que na quarta-feira insistiu em acordos interpartidários e pediu para serem evitadas "irreversíveis animosidades" no plano político-partidário e que "os adversários continuem a não se transformar em inimigos", o líder do PSD disse não querer comentar diretamente as palavras do Presidente, mas deixou críticas ao Governo e à maioria.
"O Governo e a maioria que o apoiam têm uma noção de democracia muito especial: têm mostrado um desrespeito completo pelos poderes das entidades independentes e autónomas, não fazem um debate elevado no parlamento, não respondem às questões que são suscitadas, quando se sentem acossados respondem desqualificando as pessoas. É uma forma desprezível de fazer política, já o disse, e isso é real, não é faz de conta", afirmou, à margem de uma visita à Bolsa de Turismo de Lisboa.
Para Passos Coelho, "não é com apelos do senhor Presidente da República, nem com comentários seja de quem for que isso se transforma".
"Transforma-se quando os agentes políticos tiverem na sua atuação outro tipo de orientação que queiram seguir na sua prática política. A maturidade da democracia portuguesa depende da forma como aqueles que exercem lugares públicos se comportam, eu procuro dar o meu melhor contributo", acrescentou.
Passos Coelho salientou que já teve ocasião de fazer estas críticas no parlamento - "quem não se sente, não é filho de boa gente" -, considerando que "há formas de fazer política que ultrapassam as regras da sã convivência democrática".
Sobre os apelos aos consensos, Passos Coelho considerou-os até caricatos quando a maioria que apoia o Governo no parlamento "chumba todas as propostas do PSD" e diz que "o PSD não é preciso para nada".
"A gente não pode à segunda, quarta e sexta estar a sovar e desqualificar os adversários e, às terças, quintas e sábados, vir apelar ao consenso, isso é uma maneira de fazer política caricata até", disse.
Na quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa apelou a uma "visão de médio e longo prazo que convide a acordos interpartidários para além de cada legislatura", como fator de confiança.
"Mas, o que importa à tão necessária confiança é que adversários continuem a não se transformar em inimigos e que as salutares discussões de ideias e de poder nunca venham em irreversíveis animosidades pessoais, ou indesejável voragem de terra queimada. À escalada das palavras deve continuar a sobrepor-se o peso da razão e a ponderação do interesse nacional", advogou.
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