O incidente ocorreu já no final da arruada, por baixo das arcadas da Praça do Comércio, quando um homem abordou o secretário-geral do PS para o criticar "por ter gozado merecidas férias enquanto morriam pessoas" nos incêndios.

"Não estava não. É mentira! É mentira isso! Eu no dia 18 de junho estava lá. É mentira aquilo que o senhor está a dizer", respondeu António Costa, visivelmente exaltado, momentos antes de partir para o Porto, de comboio, onde esta noite encerra a campanha eleitoral do PS.

Neste momento, de grande tensão, o secretário-geral do PS virou costas ao popular que o interpelou, mas ainda se virou para continuar a discussão, chegando-se muito próximo ao homem, tendo sido impedido pelos seus seguranças.

"É um mentiroso provocador!", continuou, desabafando para a sua comitiva de que se tratava de "um provocador aqui plantado".

Já na estação de Santa Apolónia, em declarações aos jornalistas, o líder socialista classificou como "absolutamente lamentável" que se utilizem esse tipo de argumentos em campanha eleitoral - e até invocou em sua defesa a conclusão a que chegou o "Polígrafo", da SIC, sobre a sua presença em Pedrógão Grandes, durante os dias de incêndio.

"Como toda a gente sabe — e o Polígrafo da SIC demonstrou-se — no dia 17 de junho de 2017 estava em Lisboa e estava em funções. No dia 18 de junho de 2017, estava na Câmara Municipal de Pedrógão Grande a reunir com todos os autarcas e a fazer o levantamento de todas as situações", declarou.

Segundo o secretário-geral do PS, além do rescaldo dos fogos, começou logo a preparar o processo de reconstrução".

"Se me perguntam se devia ser mais calmo, claro que sim. Mas foi uma calúnia que me ofendeu. Todos temos o nosso limite em relação àquilo que podemos suportar. Para mim é profundamente insultuoso esta campanha que a direita persiste em fazer", disse ainda aos jornalistas.

Antes deste incidente, era visível a satisfação dos dirigentes socialistas com a adesão de simpatizantes e militantes do PS à tradicional ação de rua deste partido, entre o Chiado e o Terreiro do Paço.

António Costa fez o percurso pelas ruas do Carmo e Augusta sempre acompanhado pela sua mulher, Fernanda, bem como pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, pelo seu ministro das Finanças, Mário Centeno, e pelo presidente do partido, Carlos César.

Nos contactos que teve de rua, o líder socialista recebeu muitas mensagens de apoio, numa ação em que não houve bombos e banda de música por respeito à morte do antigo ministro, fundador e primeiro líder do CDS, Freitas do Amaral, na quinta-feira.

De registar ainda que, no Largo Camões, após o tradicional almoço socialista na Cervejaria Trindade e antes de iniciar a descida do Chiado, António Costa encontrou-se uma delegação de cerca de 30 elementos dos sociais-democratas suecos que se encontram em Portugal.

O incêndio que deflagrou há dois anos em Pedrógão Grande e que alastrou a concelhos vizinhos provocou a morte de 66 pessoas e 253 feridos, sete dos quais graves, e destruiu cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.

Mais de dois terços das vítimas mortais (47 pessoas) seguiam em viaturas e ficaram cercadas pelas chamas na Estrada Nacional 236-1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, no interior norte do distrito de Leiria, ou em acessos àquela via.