Até há poucos dias a maior parte das pessoas não sabia quem era Andi Owen e, pensando bem, ela estava melhor assim.

CEO da empresa de móveis MillerKnoll – que tem entre os seus produtos a cadeira Miller – o nome de Andi Owen multiplicou-se subitamente na internet devido a um vídeo de apenas um minuto e vinte segundos.

O que acontecia nesse vídeo para o tornar tão especial? Basicamente o excerto que se tornou viral corresponde à resposta da gestora a questões colocadas pelos empregados da MillerKnoll sobre se teriam ou não bónus este ano, atendendo que a empresa está abaixo dos objetivos previstos.

A CEO responde que “o mais importante é que se foquem nas coisas que podem controlar”, já que problemas como a pandemia ou as falhas nas cadeias logísticas estão fora do controlo de cada um, mas prestar o melhor serviço possível aos clientes está ao alcance.

“Foquem-se no futuro porque será brilhante. Não é bom estarmos na situação em que estamos hoje, mas não vamos estar aqui para sempre. As coisas vão ficar melhores”.

Até aqui era uma resposta de gestão comum e sem grande história. O que trouxe o vídeo para a praça pública foi a última parte. “Não perguntem o que vão fazer se não tiverem bónus, vão mas é atrás dos 26 milhões de dólares [em vendas], gastem o vosso tempo e esforço a pensar nos 26 milhões de dólares que precisamos. OK? Posso ter o vosso compromisso?”.

A gestora conclui a exortação com o relato do que um chefe lhe disse: “Podes visitar a cidade da pena, mas não podes viver lá”. “Por isso, saiam da cidade da pena e vamos fazer o que é preciso”.

O vídeo ficou público e, aos trabalhadores a quem era dirigido, juntou-se uma multidão de anónimos e menos anónimos que criticaram a gestora pela forma como se dirigiu à equipa.

A MillerKnoll procurou minimizar o impacto, afirmando o vídeo tinha sido retirado do contexto de uma reunião alargada de 75 minutos e que tinha como objetivo motivar e não acusar ninguém. Mas nem isso, nem as palavras de Andi Owen – que supostamente enviou um email em que pedia desculpas por o seu “grito de guerra” ter parecido insensível – mudaram a perceção geral.

O tema é mais sensível sabendo-se que a mesma CEO que tratou os bónus como não tendo importância, recebeu, segundo a Fortune, uma remuneração anual de 3,9 milhões de dólares no último ano fiscal, parte da qual assente em incentivos já que o seu salário é de 1,1 milhão de dólares.

Nos Estados Unidos, como em Portugal mais recentemente, a diferença salarial entre a remuneração dos gestores de topo e a remuneração média das empresas é uma das expressões visíveis da desigualdade, tema que lidera as agendas públicas. Um relatório de julho da AFL-CIO, a maior federação de sindicatos dos EUA, revelou que, em média, os CEO do índice S&P 500 receberam cerca de 18,3 milhões de dólares, o que representa um valor 324 vezes superior ao salário médio dos trabalhadores, em 2021.