Hoje o dia podia ter sido passado com uma agenda à frente a inaugurar, apontar e fechar datas. É a leitura do acórdão do julgamento do homicídio de Luís Grilo agendada para o dia três de março, é a abertura do inquérito pelo Hospital de Beja à morte do homem que faleceu nas urgências após mais de três horas de espera para ser atendido, é o julgamento da morte do italiano Marco Ficini junto ao Estádio da Luz que se vai arrastar no calendário devido ao aparecimento de novas imagens e é o fecho do 11º período de suspeita do aparecimento do primeiro caso de Covid-19 em Portugal, mais um caso a dar negativo.

E hoje é o quadragésimo nono dia do ano, o que em termos práticos significa que os contribuintes têm apenas três dias para comunicar mudanças no IRS sobre o seu agregado familiar e sete dias para validar as faturas no portal e-fatura. Aponte também na sua agenda.

IRS e datas fora, ficam as declarações de Pinto da Costa sobre o caso Marega que chegam estranhamente tarde, a declaração de José Eduardo dos Santos em que confirmou ter dado orientações para transferência dos 500 milhões - esta menos estranha.

Mas estranho, estranho é a discussão sobre a eutanásia continuar como se tivesse estagnada desde a primeira vez que alguém levantou o tema, parecendo que se ignoram testemunhos como o do Tiago André Alves, um jovem de 30 anos, doente oncológico, com um cancro estádio IV, de prognóstico bastante reservado que sumariza a coisa da forma mais simples possível, na primeira pessoa: “É somente essa liberdade que reclamo. É somente isso que peço: que me deixem fazer uma escolha que só a mim diz respeito. Que me deixem escolher morrer, com conforto, com a minha noção de dignidade e em paz, se assim o quiser.”

Para nós é o quadragésimo nono dia do ano, para o Tiago e outros doentes oncológicos o calendário será certamente outro. Que o dia depois de amanhã deles seja de liberdade e não demasiado comprido e doloroso.