Melo Alves falava aos jornalistas à saída do tribunal no Campus de Justiça, em Lisboa, no final da terceira sessão do julgamento onde estão a ser julgados 22 arguidos: 10 adeptos do Benfica com ligações à claque ‘No Name Boys’, entre os quais Luís Pina que conduzia o automóvel que atropelou mortalmente o adepto italiano, e 12 adeptos do Sporting da claque ‘Juventude Leonina’.
Hoje, o presidente do coletivo de juízes, Francisco Henriques, ao questionar uma testemunha da defesa, o engenheiro mecânico que fez a reconstituição do acidente, mostrou-lhe imagens que alegadamente mostram a altura do atropelamento e que passaram despercebidas a todos os advogados, tanto da defesa como da acusação.
“Para mim, estas imagens foram uma novidade, mas não são novas porque constam do processo. Provavelmente, já foram trabalhadas pelo tribunal e a defesa ainda não as tinha visto. Em função daquilo que observar, vou tomar uma determinada posição processual”, explicou Melo Alves.
Marco Ficini pertencia à claque do clube italiano Fiorentina 'O Club Settebello', era adepto do Sporting e morreu após um atropelamento e fuga junto ao Estádio da Luz, na sequência de confrontos ocorridos na madrugada de 22 de abril de 2017, horas antes de um jogo entre o Sporting e o Benfica.
Durante os confrontos e perseguições entre adeptos do Sporting e do Benfica, Luís Pina, de 35 anos e com ligações à claque do Benfica 'No Name Boys' atropelou mortalmente Ficini, “arrastando o corpo por 15 metros” e imobilizando o carro só “depois de ter passado completamente por cima do corpo da vítima”, descreve a acusação, acrescentado que o arguido abandonou o local “sem prestar qualquer auxílio”.
De acordo com o advogado, a teoria da defesa de Luís Pina é “indiscutível”, considerando que o seu cliente, desde o primeiro interrogatório, afirma que o seu carro “passou por cima” do adepto italiano, mas “de forma acidental”.
Segundo Melo Alves, nas imagens hoje apresentadas “não há dúvida de que Marco Ficini estava deitado”, no chão, aquando do atropelamento.
Questionado sobre se as imagens colocam em causa a teoria da defesa, já que não mostram o embate do seu constituinte numa carrinha BMW, Melo Alves adiantou que no vídeo “não há carrinha”, sublinhando que se tratará do “momento em que a vítima estará a ser atropelada, não mostrando o ponto inicial do atropelamento”.
“Nestas [imagens] não, mas vê-se em algumas imagens na rotunda e há exames periciais de que o Renault Clio [conduzido por Luís Pina] tem tinta da carrinha BMW”, adiantou.
Em relação à testemunha trazida hoje pelo Ministério Público, um morador que terá visto o acidente na rotunda Cosme Damião, Melo Alves considerou que a sua “credibilidade pode ser muito discutível”.
“Já houve quem dissesse que aquilo que se vê num acidente é um piscar de olhos. São imagens rápidas e quando a testemunha começa a falar muito daquilo que viu é um problema”, disse.
De acordo com aquilo que se passou no julgamento até ao momento, a testemunha ocular Ricardo Castro referiu-se a Marco Ficini como uma “pessoa muito violenta”, mas Melo Alves afirmou aos jornalistas não saber se isso “corresponde à realidade”.
Ricardo Castro, que falou ao tribunal através de videochamada, num testemunho marcado por algumas contradições, contou que viu da sua janela, num sétimo andar com “vista privilegiada” para a rotunda Cosme Damião, uma “grande quantidade de indivíduos com tochas verdes, ferros e pedras”, que atiravam aos carros que passavam.
“Andavam à volta da rotunda e depois afunilaram na zona das piscinas, na via que vai dar à Avenida Lusíada. Vi um Renault Clio, era dos carros mais simples que havia, e um individuo que pegou num ferro e começou a bater com muita violência nesse carro”, explicou a testemunha.
Depois, “o indivíduo passou pela frente desse carro e continuou a bater com o ferro nos vidros, até que o condutor do Clio guinou e o projetou para o afastar do carro”, que, segundo o testemunho, seria Marco Ficini.
“Quando dá a primeira guinada, essa pessoa é projetada e todos os indivíduos que estavam na rotunda foram a correr para um ataque final a esse automóvel. Quem estava no carro faz marcha atrás, mas não tenho a noção se viu que tinha batido em alguém”, afirmou.
Para o engenheiro mecânico Rui Silva, que faz perícias de acidentes desde 2004, Marco Ficini não estaria em posição vertical aquando do atropelamento já que os seus ferimentos se concentram na parte superior do corpo, nomeadamente “cabeça, tronco e bacia, enquanto as pernas só tinham escoriações”.
De acordo com o perito, e devido aos incidentes, o vidro da frente do Renault Clio “estava 43% partido, sendo que a parte do condutor era 54%, ou seja, o condutor não conseguia ver”.
Foram também ouvidos hoje mais dois ‘spotters’ da Unidade Metropolitana de Informações Desportivas que, à semelhança dos seus companheiros que testemunharam na segunda sessão, referiram quando questionados pelo Ministério Público que se limitaram a ir à Polícia Judiciária visionar imagens dos incidentes para ver se reconheciam os intervenientes.
Apesar das fortes medidas de segurança, quer no exterior do tribunal quer na sala de audiência, só estiveram presentes três arguidos ligados ao Benfica e Luís Pina, não estando qualquer um dos 12 arguidos afetos à claque do Sporting.
As próximas sessões realizam-se em 02 e 16 de março.
(Notícia atualizada às 16h47)
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