Segundo avança a agência Associated Press, Navalny foi condenado a dois anos e oito meses de prisão por um tribunal de Moscovo.

Navalny, que foi detido em 17 de janeiro no seu regresso da Alemanha, foi condenado por alegadamente ter violado a sua liberdade condicional, por não ter comparecido às autoridades competentes, no ano passado.

A deslocação do opositor russo deveu-se ao envenenamento a que foi sujeito com um agente neurotóxico do tipo Novitchok em agosto de 2020, sendo Navalny acusou o Kremlin de estar por trás desta ação.

O serviço penitenciário da Rússia alega que Navalny violou as condições de liberdade condicional da sua pena suspensa de uma condenação por lavagem de dinheiro, conhecida em 2014, que o líder russo rejeitou, alegando ter motivação política. Essa sentença, de três anos e meio, tinha sido parcialmente cumprida em prisão domiciliária, sendo que o tribunal subtraiu assim 10 meses à sentença original, resultando em dois anos e oito meses a serem cumpridos num estabelecimento prisional.

Navalny sublinhou que o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem decidiu que a sua condenação de 2014 era ilegal e a Rússia pagou-lhe mesmo uma indemnização, em linha com essa decisão judicial internacional.

Posteriormente, Navalny, de 44 anos, foi detido em 17 de janeiro ao regressar da sua convalescença de cinco meses na Alemanha, após um envenenamento que atribuiu ao Kremlin, apesar dos desmentidos das autoridades russas.

Para se defender da acusação de violação da liberdade condicional, os advogados de Navalny argumentaram que a sua não comparência perante as autoridades se deveu ao facto de o líder político estar a recuperar-se de envenenamento na Alemanha.

Navalny também disse que os seus direitos foram violados grosseiramente durante a sua detenção e descreveu esse episódio como uma “paródia de justiça”.

“Voltei para Moscovo depois de concluir o tratamento. Que mais poderia eu ter feito?”, argumentou Navalny, durante a sessão de hoje no tribunal.

Durante a sessão no tribunal, o líder da oposição russa qualificou a sua comparência hoje perante a justiça como uma tentativa de "amedrontar milhões" e disse que o Presidente russo, Vladimir Putin, "passará à história como envenenador".

“Isto não é uma demonstração de força, mas sim de debilidade. Não se podem prender centenas de milhares, ou milhões de pessoas, é impossível”, afirmou. “Quando se aperceberem, e esse momento chegará, não podereis prender todo o país”, insistiu.

O opositor voltou a acusar o Presidente russo de ter ordenado o seu envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novitchok em agosto de 2020. Vladimir Putin “passará à história como o envenenador de ‘slipes'”, invetivou, numa alusão à forma como terá sido envenenado.

“Demonstrámos e provámos que Putin, via o FSB [os serviços de informações], cometeu uma tentativa de assassinato e que não sou a única [vítima]. Muitos também o sabem, outros vão sabê-lo, e isso enlouquece este pequeno ser no seu ‘bunker'”, disse.

Segundo Navalny, o veneno que pretendia eliminá-lo foi colocado na sua roupa, quando se encontrava num hotel durante uma viagem à cidade siberiana de Tomsk.

Navalny assegurou ter ficado demonstrado que “Putin cometeu essa tentativa de assassinato”. “Sabem, hoje um tal Alexandre (II), o Libertador, e um tal Yaroslav, o Sábio, e nós temos Vladimir, o Envenenador”.

O opositor sublinhou que “todos se convenceram que ele [Putin] era um simples funcionário, que foi posto no cargo por casualidade. Nunca participou num debate. O seu único meio de luta é o assassinato”.

Mais de 230 pessoas foram detidas hoje nas imediações do Tribunal da capital russa, onde foram estabelecidas estritas medidas de segurança.

O partido oposicionista de Alexei Navalny já apelou, através de mensagens na rede social Twitter, a uma nova manifestação contra a detenção e a sentença de prisão do seu líder, procurando mobilizar os milhares de manifestantes que nas últimas semanas protestaram contra o regime de Putin.

No passado fim de semana, cerca de 4.700 pessoas foram detidas, nas manifestações que têm repetido o gesto mostrar solidariedade com Navalny, sendo objeto de repressão violenta pelas forças de segurança russas.

Os apoiantes de Navalny preparam agora novas formas de protesto contra a sentença hoje conhecida.

O Kremlin rejeitou todas as críticas ocidentais à detenção de Navalny e o desproporcionado uso da força pela contra polícia contra os protestos de 23 e 31 de janeiro em apoio ao opositor, onde foram detidas ou identificadas cerca de 10.000 pessoas.