O empresário, que respondeu a 80 perguntas enviadas pela comissão parlamentar de inquérito à TAP, documento a que a Lusa teve acesso, deixou críticas à forma como os governantes portugueses têm gerido a TAP.

“Obsessão pela nacionalização, inabilidade política ou má gestão do Governo, só assim se pode compreender, por exemplo, que o Ministro das Infraestruturas de então [Pedro Nuno Santos], num debate no parlamento português, tenha dito, com grande vigor, que a TAP estava falida e que não podia recorrer aos auxílios covid, o que naturalmente foi muito prejudicial a qualquer pedido que se fizesse junto da Comissão Europeia”, destacou, no documento.

Questionado sobre quando percebeu que o Governo ia avançar para a nacionalização disse: “tornou-se mais óbvio quando não responderam em fevereiro, março e abril de 2020 às solicitações de apoio que a TAP fez através da Comissão Executiva. Depois tivemos declarações públicas de altos governantes a denegrirem a nossa gestão e a empresa e aí ficou claro que havia uma agenda que ia nesse sentido".

O empresário disse ainda que mantinha a posição que assumiu “desde o primeiro dia”. Se “tivessem deixado a nossa Comissão Executiva acompanhar e intervir nas negociações com a Comissão Europeia, teria sido possível obter outro resultado”, assegurou.

O antigo acionista da TAP disse que “não havia alinhamento possível”, visto que o Estado queria “ser acionista de controlo, estar presente na gestão e esse não era o caminho” que Neeleman “julgava necessário na TAP”.

O empresário considerou que a companhia “precisava de continuar com uma administração experiente, independente e livre para perseguir os melhores interesses da TAP, sem uma espada política e ideológica”.

Ainda assim, confirmou, “a Atlantic Gateway não dispunha de meios económicos para aportar em tão curto espaço de tempo a liquidez e apoios de que a TAP precisava”.

Neeleman fez ainda uma avaliação das perspetivas para a transportadora.

“Acredito que a TAP isolada vai ter dificuldade em sobreviver”, assegurou, indicando que irão surgir oportunidades, “mas, para aproveitá-las é preciso um grande conhecimento do mercado e uma gestão independente e de atuação rápida, que dificilmente existirá sob a égide do Estado”. Neste contexto, para o ex-acionista, “será melhor para o futuro da TAP que o comprador seja um grupo forte do setor da aviação e não tanto um comprador financeiro”.

Acerca da polémica renovação da frota da TAP, que incluiu a anulação de um contrato para a compra de 12 aviões A350, Neeleman garantiu que informou o Governo e a Parpública de todos os trâmites.

“Não consigo imaginar como podia ter sido dada mais informação sobre o tema. Houve absoluta transparência e é chocante a negligência com que alguns membros do Governo de então referem que não tiveram conhecimento deste tema”, lamentou.

“Eu não fiz um mau negócio para a TAP, não prejudiquei a empresa e jamais — como já ouvi dizer e escrever — ‘recebi luvas’ ou comissões pelo negócio com a Airbus. Tal suspeita é insultuosa e inaceitável”, garantiu.

Por fim, sobre os trabalhadores, o empresário acredita que “os sindicatos estavam satisfeitos com a gestão privada”.

“Não tivemos sequer uma greve no período da nossa gestão, a TAP cresceu, rejuvenesceu e reorganizou-se de uma forma extraordinária”, rematou.