Os norte-americanos foram esta terça-feira às urnas para escolher senadores, representantes, governadores, autarcas e referendos. O nome do presidente não estava em nenhum dos boletins de voto — mas Donald Trump pesou em quase todos.

Numa sondagem à boca das urnas feita pela cadeia CBS, quase dois terços dos inquiridos disse que o presidente Trump foi um fator na decisão de voto. Quatro em cada dez, segundo a mesma fonte, admite mesmo ter votado contra Donald Trump

Os republicanos vão manter o controlo do Senado por mais dois anos, um resultado classificado como "tremendo sucesso" pelo Presidente norte-americano e que contraria as expectativas dos democratas de uma onda azul anti-Trump que lhes garantisse uma maioria.

O resultado ficou praticamente garantido quando o republicano Kevin Cramer derrotou a senadora democrata de Dakota do Norte, Heidi Heitkamp, e quando o empresário republicano Mike Braun derrotou o senador Joe Donnelly no Indiana.

Outro dos resultados importantes foi quando o senador republicano Ted Cruz derrotou Beto O'Rourke, estrela emergente do Partido Democrata, e foi reeleito pelo estado do Texas. Já na Florida,  candidato Democrata a governador, Andrew Gillum, foi derrotado por Ron DeSantis, um apoiante de Donald Trump que enveredou por alguma retórica racista durante a campanha.

Num referendo, os eleitores da Florida aprovaram a recuperação dos direitos de voto para cerca de 1,5 milhões de pessoas com cadastro, pondo fim a um sistema que os ativistas denunciam como prejudicial para pessoas pobres ou afro-americanas.

Por volta das quatro da manhã em Lisboa, as projeções definiam os primeiros resultados: os Republicanos reforçavam a posição no Senado e os Democratas reconquistavam o controlo da Câmara dos Representantes.

Numa curta publicação na rede social Twitter, Trump considerou os resultados destas eleições como "um imenso sucesso", agradecendo a todos o apoio dado às candidaturas republicanas.

A líder democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, assegurou que "amanhã será um novo dia" para o país. Pelosi, que deverá ser a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA depois de oito anos nas mãos dos republicanos, destacou que a conquista dos democratas não deve ser vista pelo prisma das diferenças partidárias, mas como uma vitória “para conservar os valores constitucionais” dos Estados Unidos.

“Com esta nova maioria democrata, vamos honrar os valores de nossos pais fundadores”, sublinhou a congressista da Califórnia no seu discurso de vitória, na madrugada desta quarta-feira.

Governar sem maioria na Câmara dos Representantes

É certo que os Republicanos conseguiram segurar a câmara alta do parlamento norte-americano, o Senado. Todavia, sem uma maioria Republicana na Câmara dos Representantes, Trump pode contar com vários outros problemas, criados a partir do Capitólio, desde investigações sobre os seus negócios, ou sobre as finanças de familiares ou de figuras que lhe são próximas e sobre os quais os Democratas têm várias suspeições, como é o caso do secretário de Comércio, Wilbur Ross.

“Vai haver um aumento substancial de pedidos do Congresso para averiguações, a que os Republicanos terão de se submeter”, dizia Justin Rood, analista da organização “Project On Government Oversight”, citado pela estação de televisão NBC, antes das eleições.

Outra consequência imediata é a dificuldade de manter a agenda legislativa Republicana, com afirmações de vários congressistas Democratas, antes da votação desta terça-feira, a prometer que travarão iniciativas como as que estavam delineadas nas áreas fiscais e de segurança social.

Não perdendo o Senado, caem praticamente por terra todas as hipóteses de uma eventual destituição de Trump. É que apesar de a iniciativa partir da câmara baixa, tem de ser aprovada por uma maioria qualificada no Senado.

Resultados que são história

Alguns dos confrontos que maior atenção receberam foram aqueles que podiam definir momentos históricos para os estados, ou mesmo para o país. A eleição do democrata Jared Polis para governador do Colorado, fez com que pela primeira vez os Estados Unidos tenham um homem abertamente homossexual à frente de um estado.

Depois de derrotar o republicano Walker Stapleton, Polis, de 43 anos, que não escondeu a orientação sexual durante a campanha, vai substituir o governador democrata John Hickenlooper, que dirige o estado desde 2011.

A jovem estrela dos democratas Alexandria Ocasio-Cortez, de origem porto-riquenha e nascida no Bronx, em Nova York, tornou-se na mulher mais jovem eleita para o Congresso, aos 29 anos. Ocasio-Cortez, que defende as raízes a sua latinidade, com orgulho promete lutar pela classe trabalhadora, onde tem origem.

Agora esta latina, que se define como socialista, transforma-se num símbolo de uma onda de mulheres democratas pertencentes a minorias que estão a revolucionar a elite do partido. A jovem manteve o lugar no congresso por um estado democrata. Pôde ir à corrida depois de derrotar o veterano democrata Jon Crowley nas primárias do partido.

No Kansas, a democrata Sharice Davids é agora a primeira mulher indígena americana a chegar ao Congresso. Davids, uma advogada de 38 anos,  ex-lutadora de artes marciais e homossexual assumida, derrotou o atual representante republicano do Estado, Kevin Yoder.

As democratas Ilhan Omar e Rashida Tlaib são as duas primeiras muçulmanas eleitas para o Congresso de Estados Unidos, pelos estados do Minnesota e Michigan, respetivamente. As duas defendiam cadeiras em tradicionais feudos democratas.

No Vermont, Christine Hallquist, ex-presidente de uma companhia de energia, fracassou na sua tentativa de se tornar a primeira governadora transgénero dos Estados Unidos, ao ser derrotada pelo atual governador, o republicano, Phil Scott. A democrata Hallquist, uma avó de 62 anos, entrou na política para promover a "onda azul" contra Trump, que tem sido um obstáculo aos direitos das pessoas transgénero.

Nestas eleições estavam em jogo 435 assentos da Câmara de Representantes, 35 cadeiras do Senado, 36 governos de estados americanos, além de vários cargos locais, como autarcas, juízes e chefes de polícia.

A votação de meio de mandato foi considerada o primeiro teste para o governo Trump, sendo vista como um barómetro ao desempenho do ocupante da Casa Branca.

As redes de televisão mostraram longas filas de pessoas à espera para votar, numas eleições, explica a agência France-Presse, cujo grande interesse foi revelado pelos 38 milhões de votos antecipados nos estados que permitem essa modalidade — 40% a mais que nas eleições intercalares de 2014.


Com agências

[Notícia atualizada às 09h15. Altera o título de "os Estados Unidos escolheram sinal amarelo" para "os Estados Unidos dão sinal amarelo"]