O Programa Alimentar Mundial (WFP, na sigla em inglês) viu o seu trabalho hoje reconhecido pelo comité norueguês do Nobel, sendo-lhe atribuído o prémio para a paz, "pelos seus esforços para combater a fome, pela sua contribuição em melhorar as condições para a paz em áreas afetadas por conflitos e por agir como uma força motriz nos esforços para prevenir o uso da fome como uma arma de guerra e conflito".

Em 2019, o programa, ligado às Nações Unidas, assistiu cerca de 100 milhões de pessoas em 88 países. O comité Nobel destaca que a pandemia aumentou a necessidade de auxílio alimentar. "A comida está menos disponível para algumas populações por causa do vírus", disse, em Oslo, a presidente do comité, Berit Reiss-Andersen.

A lista de candidatos da edição de 2020 do Nobel da Paz tinha 211 pessoas e 107 organizações e o laureado irá receber o prémio de dez milhões de coroas suecas (quase um milhão de euros), além de um diploma e uma medalha.

Entre os nomes apontados ao Nobel da Paz 2020 estavam, por exemplo, o do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ou da ativista ambiental Greta Thunberg. Também a Organização Mundial da Saúde era indicada como provável vencedora, pelo seu papel na recente pandemia da covid-19.

Este é o 101.º Nobel da Paz a ser entregue. Nos 100 prémios atribuídos entre 1901 e 2019, 24 foram para instituições e apenas 17 foram entregues a mulheres. A cerimónia de entrega do prémio acontecerá em 10 de dezembro, em Oslo, na Noruega, e contará com a presença de apenas cerca de 100 convidados.

Em setembro, o chefe do Programa Alimentar Mundial da ONU alertava que milhões de pessoas podem ser atingidas pela fome devido à combinação entre conflitos armados, alterações climáticas e a pandemia de covid-19. David Beasley, do Programa Alimentar Mundial, recordou perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas que em abril alertou sobre a possibilidade de "uma pandemia de fome" e apelou às nações doadoras e aos multimilionários para que ajudem a fornecer meios que possam garantir a sobrevivência das pessoas em risco.

O PAM e os parceiros do organismo da ONU "estão a fazer tudo" para ajudar 138 milhões de pessoas afetadas diretamente pela fome, este ano. "É o maior número da nossa história", disse.

Beasley disse que é preciso mais para salvar 270 milhões de pessoas que se "aproximam cada vez mais" de situações de fome. "Neste momento 30 milhões dependem das ajudas do PAM e não vão poder sobreviver sem esta ajuda", avisou, especificando que a situação já atinge "três dezenas de países" e pode tornar-se mais profunda em regiões onde se verificam conflitos armados.

Em concreto, Beasley, referiu-se ao "Congo onde a violência tem aumentado, atingindo 15,5 milhões de pessoas" que estão seriamente afetadas pela falta de alimentos. A mesma circunstância verifica-se no Iémen, que enfrenta a maior catástrofe humanitária d sempre; Nigéria e Sudão do Sul onde milhões de pessoas "não têm segurança alimentar" por causa da pandemia de covid-19.

O responsável disse que o PAM precisa de 4,9 mil milhões de dólares (cerca de 4,13 mil milhões de euros) para alimentar 30 milhões de pessoas que correm risco de vida se não receberem auxílio de emergência este ano. "Chegou a altura de aqueles que mais têm se chegarem à frente e ajudarem os que nada têm, pelo menos neste período extraordinário da história mundial", disse Beasley.

"No mundo inteiro há mais de dois mil multimilionários" acrescentou David Beasley, antigo governador do Estado norte-americano da Carolina do Sul, sublinhando que muitas fortunas nos Estados Unidos "estão a fazer milhões [de dólares]" durante a pandemia. "Não me oponho que se ganhe dinheiro mas a humanidade enfrenta a maior crise de sempre", lamentou.