Designado “Aufstehen” (Levantar-se), este movimento foi criado por Sahra Wagenknecht, 49 anos, deputada do partido de esquerda Die Linke desde 2009 e que sempre defendeu posições intransigentes no interior da sua família política.
Natural da ex-RDA, assume-se como “marxista” e ambiciona mobilizar os desiludidos de uma esquerda fragmentada, que garantiu menos de 40% dos votos nas legislativas de 2017 e com muitos dos seus eleitores a optarem pelo voto na Alternativa para a Alemanha (AfD), o partido de extrema-direita que se tornou na principal força da oposição no Bundestag.
As suas posições contra as políticas da União Europeia (UE) e as fortes críticas à NATO também têm caracterizado o discurso de Sahra Wagenknecht, mulher de Oskar Lafontaine, o ex-ministro de Gerhard Schröder que em 2007 rompeu com os sociais-democratas para participar na fundação do Die Linke.
Para além da defesa da memória da ex-RDA, ou da manifestação de solidariedade com a Rússia de Vladimir Putin, as suas posições sobre a imigração provocaram uma clivagem com as posições oficiais do seu partido.
Há alguns anos que Sahra Wagenknecht critica a “ingenuidade” e “boa consciência” da esquerda sobre esta questão.
Desde o início, opôs-se às políticas de “fronteiras abertas” defendida pela chanceler Angela Merkel em 2015, e não hesitou em denunciar alegados crimes atribuídos a migrantes.
“Os que abusam do direito de hospitalidade perdem o direito à hospitalidade”, declarou em dezembro desse ano.
No último congresso do Die Linke, que decorreu na cidade de Lepizig em junho, os apupos ao seu discurso, em que defendeu uma imigração controlada, demonstraram o seu isolamento face à maioria do partido.
Ao fundar o “Aufstehen”, e à margem do Die Linke, vai tentar reunir os cidadãos preocupados com as questões sociais, mas que também pretendem posições firmes face à imigração.
Combater a AfD no seu terreno parece ser aposta deste movimento, que segundo a fundadora já tem mais de 60.000 pessoas registadas na sua página digital.
Apesar de acusada pelos críticos, em particular no seu partido, de imitar a extrema-direita, diversos observadores assinalam que Sahra Wagenknecht sempre defendeu a necessidade absoluta de garantir o direito de asilo, ao contrário da AfD, e que apesar de pretender limitar a imigração, nunca propôs uma “imigração zero” nem expulsões em massa de estrangeiros.
O “Aufstehen” elege como prioridade os estados e regiões do leste da Alemanha.
Estão previstas diversas eleições regionais para 2019, com um provável novo reforço da extrema-direita, que já obteve 20% dos votos nas legislativas de 2017 no leste do país, contra 12% à escala nacional.
“Com este movimento, pretendemos travar a subida do AfD”, assinalou Oskar Lafontaine, que diversos media apontam como o “cérebro” do “Aufstehen”.
“Vejam o que se passa na Alemanha de leste: o AfD tornou-se no partido dos trabalhadores e dos que procuram emprego. Isso deve fazer-nos refletir, à esquerda, sobre no que falhámos”, assinalou, citado pela France-Presse.
No entanto, esta nova aventura política arrisca-se a enfraquecer uma esquerda alemã em período de profunda crise, para além de suscitar algum ceticismo.
De acordo com uma sondagem hoje publicada, menos de um em cada cinco inquiridos (19,8%) consideram que o movimento tem possibilidades de se afirmar no cenário político alemão.
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