O líder cubano, que voltou a referir-se às ameaças para a sobrevivência humana, discursou junto com o irmão, o presidente Raúl Castro, no encerramento do Sétimo Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC), realizado em Havana. "Estou quase a completar 90 anos, nunca teria imaginado isto, nem foi fruto de um empenho, foi um capricho do destino. Serei como todos os outros. Essa hora chegará para todos nós", afirmou o líder histórico da Revolução Cubana, num curto discurso que fez sentado. A sua intervenção foi gravada e depois transmitida pela televisão estatal.

Um Fidel de boa aparência, camisa e casaco desportivo azul, acrescentou que após a sua morte "ficarão as ideias dos comunistas cubanos como prova de que neste planeta, se se trabalhar com fervor e dignidade, conseguem produzir-se os bens materiais e culturais de que os seres humanos precisam". "Devemos transmitir" aos nossos irmãos da América Latina e do mundo "que o povo cubano vencerá", apontou. "Talvez esta seja uma das últimas vezes que falo nesta sala", disse Fidel Castro em tom firme, agradecendo depois ao seu irmão, o presidente Raúl Castro, pelo seu "magnífico esforço" à frente do PCC.

Armamento: o maior perigo

Fidel, que completará 90 anos no dia 13 de agosto, foi aplaudido de pé pelos mil delegados do PCC e convidados que deliberavam desde sábado no Palácio de Convenções. É a segunda vez que Fidel é visto em público nos últimos 12 dias, depois de falar numa escola no dia 7 de abril passado. Na ocasião, mostrou boa aparência, apesar de ter ficado sentado durante todo o tempo a recordar a sua cunhada Vilma Espén, esposa de Raúl, heroína da revolução que morreu em 2007.

"Senti que ele estava um pouco melancólico, como se estivesse a despedir-se. Ele sabe que talvez este tenha sido o último congresso do partido em que pôde participar", comentou à AFP Natalia Díaz, uma engenheira industrial de 54 anos.

Retirado do poder em 2006 devido a uma doença que o obrigou a delegar a funções no irmão, Fidel também participou em 2011 com Raúl no encerramento do Sexto Congresso do PCC. Durante o seu discurso, o pai da revolução cubana voltou a um dos temas que o obcecaram durante a velhice: "o poder destrutivo do armamento moderno, que poderia arruinar a paz no planeta e impossibilitar a vida humana sobre a superfície terrestre".

Da mesma forma, insistiu na sua preocupação com a segurança alimentar, o acesso à água e os efeitos das mudanças climáticas nas gerações futuras. "Quem vai alimentar os povos sedentos de África sem tecnologias ao seu alcance, nem chuvas, nem represas, nem outros depósitos subterrâneos além dos cobertos por areia? Veremos o que dizem os governos que na sua quase totalidade assinaram os compromissos climáticos", disse.

Nos últimos anos, Fidel restringiu as suas atividades públicas e esporadicamente recebe líderes internacionais ou escreve artigos de conjuntura. Michael Shifter, presidente do centro de reflexão Diálogo Interamericano, com sede nos Estados Unidos, considerou interessante a aparição de Fidel na sessão de encerramento do congresso. Para o especialista, Fidel foi como um "fantasma" que reapareceu para ratificar o rumo comunista face aos ventos de mudança que pareciam soprar sobre a ilha depois da reconciliação política com os Estados Unidos. Ainda sob sua influência, o PCC, o maior órgão de decisão de Cuba, descartou grandes mudanças para os próximos cinco anos apesar do processo de abertura gradual ao setor privado iniciado por Raúl Castro em 2008. Raúl, de 84 anos, deixou claro que Cuba persistirá com o seu modelo político de partido único apesar da reconciliação diplomática com os Estados Unidos.