Pela primeira vez, desde o início da crise, as estatísticas do mercado do trabalho divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) reportam, em Portugal, um número de pessoas empregadas superior ao que verificado antes do segundo trimestre de 2020.

De acordo com notícia do Público, e com os dados divulgados na quarta-feira, no segundo trimestre de 2020, existiam 4810 mil empregos em Portugal. O valor representa um acréscimo de 128,9 mil empregos face ao trimestre imediatamente anterior e 200 mil empregos face ao trimestre homólogo do ano anterior. Além disso, supera em 66 mil trabalhadores o número de empregos registado no primeiro trimestre de 2020 e em 36 mil trabalhadores o segundo trimestre de 2019 – o melhor ponto de comparação pré-crise.

Assim, o emprego parece ser mais estável em relação à crise do que a própria atividade económica, muito devido aos apoios públicos disponibilizados para evitar que as empresas reduzam largamente a sua força de trabalho – como por exemplo, a medida do layoff simplificado.

Desta forma, em fase de recuperação económica, o ritmo de crescimento do emprego é menor do que o do PIB. No entanto, para determinados tipos de trabalhadores e em determinados setores de atividade é possível verificar que o número de empregos se encontra abaixo dos níveis pré-crise.

No alojamento e na restauração, o nível de emprego é ainda muito inferior ao passado, sendo que o turismo foi um dos setores mais afetados e verificou vários entraves à sua atividade. No segundo trimestre, existiam neste sector ainda menos 72,9 mil empregos do que em igual período de 2019.

Entre os setores que apresentam um aumento no número de empregos destacam-se as áreas da informação e comunicação, atividades científicas, técnicas, consultoria, educação e saúde.

Os dados reportam ainda que o tipo de trabalhadores que mais perderam durante a crise e que ainda não concretizaram uma retoma, existindo agora mais 158,7 mil empregos por conta de outrem com contrato sem termo e menos 131 mil contratos com termo.

Segundo refere a publicação, apesar de poder parecer que atualmente se está a apostar em vínculos laborais menos precários em Portugal, a explicação para os números reside no facto de, no início da crise, a perda de empregos ter atingido mais os contratos com termo, sendo que os trabalhadores mais precários foram as vítimas resultantes da tentativa das empresas reduzirem custos.

Além disso, os trabalhos que ainda não retomaram níveis anteriores também são menos qualificados. De acordo com os dados do INE, há, atualmente, em comparação com os dois anos anteriores, menos 108 mil empregos para “trabalhadores de serviços pessoais, segurança e vendedores” e menos 103 mil empregos para “trabalhadores não qualificados”. A maioria do aumento de empregos, cerca de 176 mil, foi para “especialistas das atividades intelectuais e científicas” – que beneficiaram das possibilidades do teletrabalho e na maioria de empresas que foram menos afetadas pela crise, acabando por resistir.

No que reporta a idades, as mais avançadas, que contariam com vínculos à partida mais estáveis, resistiram melhor à crise do que os mais jovens – entre os 16 e os 44 anos, o nível do emprego é ainda inferior ao pré-crise, enquanto se verifica o contrário dos 45 aos 89 anos.

No segundo trimestre de 2019, Portugal registava 191,5 mil jovens sem emprego, que não estavam em educação ou formação, um valor que no segundo trimestre de 2021 se situa nos 210,5 mil.