“Apesar de se ter assistido a um aumento da atividade de doação e transplantação em janeiro e fevereiro de 2020, pré-covid-19, a pandemia de SARS-CoV-2 trouxe-nos alguns problemas”, nomeadamente na redução da referenciação, do número de dadores e na diminuição da colheita e do transplante de órgãos, tecidos e células", afirmou a coordenadora nacional da transplantação.
Os dadores em morte cerebral, a tipologia mais frequente, foi a que sofreu menor impacto, mas o número de dadores vivos sofreu “uma queda importante” de quase 50% e a de dadores em paragem cardiocirculatória de cerca de menos 60%, adiantou Margarida Ivo da Silva na apresentação online de “dados nacionais de doação e transplantação de órgãos, tecidos e células em 2020”.
“Esta diminuição fez-se sentir sobretudo no transplante de fígado que teve um impacto de 19,2% e do rim com um impacto de 26,7%, não tendo sido tão marcado do transplante do pulmão e muito menos no do pâncreas”, salientou.
A transplantação cardíaca, com uma evolução anual em queda desde 2013, manteve-se em 2020 próxima de 2019, com mais quatro transplantes.
“Não parece ter sido afetada pelas contingências da pandemia e isso significa que há um potencial que não está a ser aproveitado”, observou a coordenadora.
Segundo os dados do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), no final de 2019 havia 31 doentes em lista de espera para transplante cardíaco, número que subiu para 34 em 2020, ano em que morreram 11 doentes, mais quatro face ao ano anterior.
Neste período, os transplantes de rim caíram de 514 para 378. Em 2019, estavam em lista de espera 2.011 doentes, dos quais 20 morreram, número que baixou para 1.951 em 2020, ano em que se registaram 20 óbitos.
O número de transplantes hepáticos caiu de 240 para 193, havendo 118 doentes à espera de um transplante de fígado em 2020, mais 20 do que em 2019, tendo morrido 11 doentes em cada ano.
O transplante de pulmão sofreu um “impacto muito ligeiro” com menos seis pulmões transplantados (8,5%) em 2020, ano em que havia 64 doentes em lista de espera e em que morreram nove doentes.
O número de pares dador-recetor inscritos no programa nacional de doação renal cruzada também diminuiu, tendo havido um cruzamento duplo a 18 de fevereiro e um quadruplo em 18 de agosto, tendo sido transplantados seis doentes.
A transplantação de dador vivo, sofreu um impacto maior, mantendo níveis muito baixos ao longo do ano.
“Tratando-se de cirurgias eletivas, este facto deveu-se por um lado às contingências impostas pela pandemia e por outro provavelmente pelo medo dos dadores da possível falta de segurança quanto à transmissão do SARS-CoV-2 em meio hospitalar”, justificou Margarida Ivo da Silva.
Os dados mostram que, em 2020, a distribuição a nível de colheita foi semelhante a 2019, mas verifica-se que “os centros hospitalares universitários, com grande atividade”, sofreram “uma queda importante, observando-se um ligeiro desvio para os hospitais que habitualmente têm menos atividade”.
Esta situação pode dever-se “à grande sobrecarga dos grandes hospitais pela covid-19” e “a uma maior sensibilização de todos para a escassez de órgãos nesta fase e para a sustentabilidade da transplantação”, apontou a coordenadora, considerando que “esta alteração ligeira de perfil reflete uma boa gestão de recursos”.
Em Portugal, já morreram 16.885 pessoas vítimas de covid-19 dos 823.494 casos de infeção confirmados, segundo a DGS.
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