Depois de, a meio da semana, ter sido anunciada a data final da sessão solene de receção ao presidente brasileiro no parlamento português - que terá lugar antes da sessão comemorativa do 25 de Abril -, as declarações de Lula da Silva sobre a guerra na Ucrânia, no final da visita que realizou à China, inflamaram, novamente, a discussão política em Portugal.

Hoje o PSD instou publicamente o Governo português a demarcar-se das declarações do presidente brasileiro e a discussão sobre a visita voltou à ordem do dia.

É esta a cronologia que nos trouxe até ao dia de hoje.

23 de fevereiro - O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, anunciou, em Brasília, que o presidente do Brasil ia discursar na Assembleia da República nas comemorações do 25 de Abril. No mesmo dia, Chega e IL criticam o anúncio, considerando um "atropelo inaceitável", e o gabinete do presidente da Assembleia da  República, Augusto Santos Silva informa que a decisão será tomada "em devido tempo" depois de ouvida a Conferência de Líderes.

1 de março - O presidente da Assembleia da República, Santos Silva, anuncia que a Assembleia da República vai organizar uma sessão solene de boas-vindas ao Presidente brasileiro e que Lula da Silva irá discursar nessa sessão cuja data e detalhes serão posteriormente divulgados. PS, PSD, BE, IL e PAN mostraram-se favoráveis; Chega disse estar "veementemente contra" .

3 de março - Os deputados do Chega anunciam uma manifestação no plenário da Assembleia da República na sessão de boas-vindas ao Presidente brasileiro, além de um protesto de rua a ser organizado.

16 de março - O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, critica os partidos de direita por se terem oposto a que o presidente brasileiro discursasse na cerimónia do 25 de Abril na Assembleia da República.

12 de abril - A sessão solene de boas-vindas ao Presidente brasileiro é agendada para o dia 25 de abril, mas antes da sessão de comemoração do 25 de Abril, às 10h00 da manhã. O PSD considerou que a sessão solene de boas vindas ao Presidente do Brasil "merecia a dignidade de ter um dia próprio", reiterando que seria preferível não se realizar no 25 de abril.

13 de abril - O Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, anunciou hoje que fará uma viagem latino-americana na segunda quinzena de abril que o levará ao Brasil, Venezuela, Cuba e Nicarágua, alguns dos principais aliados do Kremlin na região.

No mesmo dia, Lula da Silva inicia visita à China.

14 de abril - Brasil e China emitem declaração conjunta, em que defendem que o diálogo e as negociações são a "única solução viável para a 'crise' na Ucrânia", após um encontro entre os líderes Lula da Silva e Xi Jinping, em Pequim.

15 de abril - No final da visita à China, o Presidente brasileiro defendeu que os Estados Unidos devem parar de "encorajar a guerra" na Ucrânia e a União Europeia "começar a falar de paz".

16 de abril - Na conclusão de uma visita aos Emirados Árabes Unidos, o presidente brasileiro  reafirmou as acusações aos Estados Unidos da América (EUA) e à União Europeia (UE) de prolongarem a guerra. A guerra foi provocada por “decisões tomadas por dois países”, Rússia e Ucrânia, disse Lula da Silva na conferência de imprensa em Abu Dhabi. O Presidente brasileiro propôs uma mediação conjunta com China e Emirados Árabes Unidos (EAU) na guerra entre a Rússia e a Ucrânia, uma questão que disse ter discutido em Pequim e em Abu Dhabi.

16 de abril - O vice-presidente do PSD, Paulo Rangel, instou o Governo a "tomar uma posição pública e formal" demarcando-se das declarações do Presidente brasileiro de que a União Europeia, NATO e EUA estão a estimular a guerra na Ucrânia. Sucederam-se reações a esta posição pública do PSD, do PS à IL, Chega e PCP.

A pouco mais de uma semana das comemorações do 49º aniversário do 25 de abril, a polémica em torno do convite ao presidente do Brasil, Lula da Silva, para discursar na Assembleia da República nesse dia continua a alimentar o debate político em Portugal.