Até há dois meses, Estela Costa nunca tinha pensado envolver-se na política. Aos 24 anos, a candidata em Saint-Gilles pela lista do Burgomestre Charles Picqué, que vive em Bruxelas desde os seis meses e que se assume “quase mais belga do que portuguesa”, recebeu um convite inusitado.

“Pessoas que já trabalhavam na comuna vieram falar comigo. Disseram-me: falas com toda a gente, gostas de ajudar toda a gente, toda a gente te conhece, por que não tentas? E eu pensei: ‘Pourquoi pas’?”, explicou à Lusa a candidata portuguesa da comuna de Saint-Gilles.

Sentada na esplanada Hall Café, com vista direta para a Porte de Hal, Estela Costa confessou, com uma sinceridade desarmante, que até há dois meses não conhecia “nada” da vida política belga, e que, no momento da primeira abordagem, disparou: “isso não me interessa, estão a gozar comigo, eu não compreendo nada de política”.

O empurrão que faltava foi obra do Conselheiro das Comunidades Portuguesas eleito na Bélgica, Pedro Rupio, que a ‘convenceu’ a avançar. “Pensei: vai ser algo positivo, vou conhecer ainda mais gente. Disse para mim própria: pode ser fixe, vais à aventura”, recordou.

Numa conversa em que o francês andou de mãos dadas com o português – “escrevo bem em francês, mas em português dou cada calinada, mesmo a falar…” -, a estudante de Relações Públicas definiu a inclusão nas listas do PS na sua comuna como “um bom acaso”.

“Graças a isso, conheci imensa gente que não teria conhecido de outra maneira. Se tenho hipótese de ser eleita, não sei. Nem penso nisso. Para mim, basta-me ouvir as pessoas… há pessoas que não estão informadas, portugueses que não falam a língua [francês]. É mais fácil, como no caso da minha mãe, quando há um candidato que fala português”, exemplificou.

A mãe, a quem está muito unida, é apenas uma entre tantos outros portugueses na Bélgica que nunca votaram nas eleições locais – só cerca de 10% estão recenseados -, um problema que a campanha “Movimento #comunais2018”, na qual Estela Costa também participou, tentou inverter.

“Eu digo-lhes: vocês são tão bem vistos pelos belgas, mas em política não fazem nada. Vocês querem que as coisas mudem sem fazer nada. É mais importante votarem aqui do que lá, porque é aqui que vivem”, frisou, antes de contar que tem “andado a distribuir papéis” e que acha que já conseguiu “convencer pessoas a recensearem-se” para as eleições de outubro.

“Muitas pessoas, mesmo belgas, disseram-me: “a ti conheço-te, és boa rapariga, já sei em quem votar”, disse à Lusa, sem esconder o orgulho, o mesmo que evidencia quando destaca que é a mais nova das candidatas entre os portugueses, mas também da lista do Burgomestre Charles Picqué.

Contente por ter embarcado nesta aventura, a alegre ‘miúda’ que quase todos os vizinhos conhecem em Saint-Gilles acredita que, mesmo sendo eleita, a sua vida não vai mudar, até porque os estudos estarão sempre à frente da política.

“Vou continuar a vir aqui, ao meu café preferido. Eu acho – se calhar estou errada – que vai ser fácil, porque ouvir e ajudar as pessoas foi algo que a minha mãe me ensinou e fiz durante toda a minha vida”, concluiu.

(Reportagem de Ana Marques Gonçalves, Agência Lusa)

Eleições comunais belgas contam com pelo menos 14 candidatos portugueses

As eleições comunais belgas de outubro contam com pelo menos 14 candidatos portugueses, disse hoje à à Agência Lusa o conselheiro das Comunidades Portuguesas eleito na Bélgica, um dia depois do final do prazo para o recenseamento dos votantes.

Um dia depois da conclusão da campanha “Movimento #comunais2018”, que abraçou a tarefa de convencer portugueses que nunca votaram a recensearem-se a tempo de participar nas eleições comunais da Bélgica de outubro, Pedro Rupio disse à Lusa que até ao momento há 14 candidatos portugueses, mas que espera que muitos outros nomes se perfilem até ao final do mês de agosto.

Bernardo Rosa Rodrigues (Ixelles), Estela Costa (Saint-Gilles), Francisco Gonçalves Dias (Uccle), Inês Matos Pinto (Etterbeek), Isabel da Silva (Anderlecht), Joana Benzinho (Bruxelas-centro), Manuel Meireles (Forest), Maria Malheiro Galão (Jette), Sílvia Gonçalves Paradela (Woluwé Saint-Lambert), e Yasmine Rodrigues Morais (Ixelles) são os candidatos nas comunas de Bruxelas.

Na Flandres, os candidatos portugueses são Ester Torres Falcato Simões (Berchem, Antuérpia) e Samantha Merali (Zaventem), enquanto na Valónia a representação nacional cabe a David da Câmara Gomes (Ottignies-Louvain-La-Neuve) e Letícia Rondão Pestana (Rixensart).

Nas últimas eleições comunais belgas, em 2012, cerca de 30 portugueses integraram listas, sendo três deles eleitos para um mandato autárquico de seis anos: Inês Mendes Pinto (conselheira na Comuna Enghien), Pedro Rupio (conselheiro na Comuna de Saint-Gilles) e David da Câmara Gomes (vereação em Ottignies-Louvain-la Neuve).

Há seis anos, apenas 10% dos portugueses residentes na Bélgica estavam recenseados, uma taxa de inscrição bastante baixa em comparação com as outras grandes comunidades estrangeiras do país: 17% para os espanhóis, 20% para os franceses, e 30% para os italianos.

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