Com poucos almoços e jantares, algumas arruadas e comícios, a campanha para as legislativas de 30 de janeiro arrancou hoje, depois de duas semanas de debates diários.
O foco esteve no voto antecipado em mobilidade, para o qual o secretário-geral do PS se inscreveu, e nas eventuais soluções de governo na sequência das eleições.
De manhã, antes de viajar para os Açores, o secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, anunciou a sua inscrição para votar antecipadamente no próximo dia 23, no Porto, e apelou à mobilização dos eleitores para ultrapassar aquilo que classificou como uma das crises políticas "mais perigosas" da democracia portuguesa. No entanto, a primeira polémica da campanha envolve mesmo a inscrição do secretário-geral do PS.
Ao início da tarde, o presidente do PSD, Rui Rio, publicou na sua conta oficial na rede social Twitter, uma mensagem sobre esta decisão do primeiro-ministro: "O Dr. António Costa arranjou uma forma airosa de evitar ter de fazer o que sabe que não é bom para Portugal; ter de votar nele próprio. Chapeau!".
A publicação suscitou várias reações. Entre outros, o deputado do PS Pedro Delgado Alves e o líder parlamentar do Bloco de Esquerda (BE), Pedro Filipe Soares, acusaram Rui Rio de desinformação e desconhecimento da lei eleitoral, que estabelece que o voto em mobilidade é contabilizado no círculo eleitoral de origem.
Questionado sobre este assunto, à margem de uma arruada em Barcelos, no distrito de Braga, o presidente do PSD disse que se tratou de "uma brincadeira", considerando que a campanha eleitoral também tem de ser "alegre e com alguma piada". Acrescentou ainda que sabe que António Costa "pode votar em Mirandela ou em Lisboa ou no Porto, conta sempre para o sítio onde está recenseado".
Já nos Açores, António Costa respondeu, dizendo que "o doutor Rui Rio tinha obrigação de saber o que era o voto antecipado". "Se resolveu disfarçar o seu desconhecimento como tendo sido uma graçola, pronto, é uma graçola. Mas, enfim, eu não creio que propriamente um político afirme a sua credibilidade com graçolas", rematou.
Também o presidente e deputado único do Chega, André Ventura, que hoje fez campanha na Batalha, distrito de Leiria, publicou um 'tweet' semelhante ao de Rui Rio, cerca de meia hora depois.
Ainda sobre a campanha do PSD, Rui Rio discursou perante militantes e apoiantes, em Barcelos, e acusou o PS de deturpar as do PSD e de insistir na mentira, como a privatização da Segurança Social. "Ninguém vai privatizar segurança social nenhuma", afirmou.
Já a CDU começou o dia em Aljustrel, no distrito de Beja, com críticas a PS e PSD e a uma possível governação "à Guterres", pela voz de João Oliveira, líder parlamentar do PCP e cabeça de lista por Évora, que responsabilizou os dois maiores partidos pela não concretização da regionalização, dizendo que têm um "súbito apego" a esta causa quando há eleições, mas que tal nunca foi mais do que um conjunto de promessas vazias.
Em Setúbal, foi a vez do dirigente comunista João Ferreira considerar que a acusação feita várias vezes por António Costa, de que é uma irresponsabilidade haver legislativas em contexto pandémico, "faz ricochete" e atinge o secretário-geral socialista "em cheio", defendendo que “a irresponsabilidade” foi rejeitar as propostas apresentadas pela CDU no âmbito do Orçamento do Estado.
João Ferreira vai ser, a partir de segunda-feira, o único substituto do secretário-geral do PCP na campanha eleitoral até ao regresso de Jerónimo de Sousa, que está previsto para o final da próxima semana.
A campanha da coordenadora do BE arrancou em Miranda do Douro, no distrito de Bragança, onde contestou "grandes negócios" de barragens, aos quais associou o "Bloco Central", declarando que "18 ex-ministros e ex-secretários de Estado do PS e do PSD passaram para cargos de direção na EDP ao longo dos anos, numa porta giratória que vem assaltando quem vive do seu trabalho".
Sobre a futura solução de governo, Catarina Martins disse que "o país não precisa nem de maiorias absolutas, nem de maiorias absolutas com o PAN, e muito menos de navegação à vista".
O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, visitou o mercado de Santana, no concelho de Caldas da Rainha, distrito de Leiria, onde defendeu uma "redução drástica" dos impostos sobre os combustíveis, para "cerca de metade", e se mostrou confiante que o seu partido vai ser "a grande surpresa" nas legislativas.
À tarde, junto à praça de touros de Santarém, Francisco Rodrigues dos Santos rejeitou o "animalismo radical" do PAN.
Em Lisboa, a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, mostrou-se preocupada com a ausência do parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o voto das pessoas em isolamento devido à covid-19, e propôs que sejam alargados os prazos para votação antecipada ou em mobilidade.
Já durante uma visita à Quinta do Ferro, na Graça, em Lisboa, Inês Sousa Real, exigiu "um forte compromisso" do país para a erradicação de barracas e habitações precárias, até 2030, sugerindo o recurso a fundos europeus e a poupanças com as PPP's.
Em Matosinhos, no distrito do Porto, o presidente e deputado único da Iniciativa Liberal (IL), João Cotrim de Figueiredo, defendeu que este partido tem "um misto de irreverência e preparação" que faz falta para "arejar" o país, depois de em Viseu ter dito que "Rui Rio tem condições para ser primeiro-ministro se puder contar com a IL" para lhe dar "ímpeto reformista". Cotrim Figueiredo reafirmou ainda o objetivo de obter 4,5% da votação nacional.
Rui Tavares, cabeça de lista do Livre pelo círculo eleitoral de Lisboa, visitou a Feira do Relógio, em Lisboa, e, entre feirantes e clientes, destacou os temas da habitação e dos transportes.
Rui Tavares não percorreu a totalidade dos quase três quilómetros da Avenida Santo Condestável, mas durante cerca de uma hora andou entre bancas a distribuir folhetos do partido, parando pontualmente para conversar com os eleitores.
Também no mesmo local, o presidente do Reagir, Incluir, Reciclar (RIR), Vitorino Silva, declarou-se a favor da redução dos impostos sobre os combustíveis, do IVA da restauração e do preço das portagens nas autoestradas.
Além de PS, PSD, BE, CDU (PCP/PEV), CDS-PP, PAN, Chega, Iniciativa Liberal e Livre – partidos que conseguiram representação parlamentar nas legislativas de outubro de 2019 –, concorrem ainda a estas eleições outras 12 forças políticas, num total de 21.
Os outros partidos concorrentes são: Aliança, Ergue-te (ex-PNR), Alternativa Democrática Nacional (ex-PDR), PCTP-MRPP, PTP, RIR, MPT, Nós, Cidadãos!, MAS, JPP, PPM e Volt Portugal, que se estreia em legislativas.
Mais de 10 milhões de eleitores residentes em Portugal e no estrangeiro constam dos cadernos eleitorais para a escolha dos 230 deputados à Assembleia da República, e para ajudar o SAPO24 preparou um Guia para as legislativas.
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