A incógnita sobre as eleições deste domingo na Madeira nunca foi sobre quem iria ganhar mas sim em que condições. A coligação PSD/CDS tinha, à partida, assegurada a vitória, assim mostravam as sondagens e essa era a perceção de analistas e madeirenses, mas até à contagem dos votos, tudo poderia acontecer - é a beleza da democracia a funcionar.
E, apurados os resultados, várias coisas que poderiam acontecer, aconteceram. A coligação PSD/CDS poderia não conseguir maioria absoluta - e não conseguiu. Teve 43,13% dos votos - mais do que os 41% que o PS e António Costa obtiveram nas legislativas de janeiro de 2022, como Miguel Albuquerque lembrou - mas ainda assim ficou a um mandato de ter maioria absoluta parlamentar.
Maioria essa que Miguel Albuquerque tinha posto como condição de continuidade à frente do Executivo, tendo a noite eleitoral sido por isso incessantemente marcada pela pergunta "irá o líder do PSD Madeira demitir-se?".
Não, não vai, porque, nas palavras do próprio, "este governo disse uma frase muito clara: só governaria a Madeira num governo de maioria. É isso que vou fazer".
Como é que o vai fazer? As apostas vão quase todas para um acordo com a Iniciativa Liberal, que se estreia no parlamento madeirense com um deputado - exatamente o que a coligação PSD/CDS precisa para governar em maioria absoluta. Mas convém não esquecer, uma vez mais, que a democracia a funcionar tem a sua beleza e pode ter caminhos menos óbvios.
Numas eleições inequivocamente com vitória à direita - PSD/CDS têm mais do dobro dos mandatos do PS (23 versus 11) - é também à direita que se colocam as questões mais determinantes para o xadrez político não apenas da Madeira mas de Portugal. E a pergunta é a mesma que já vem dos tempos de Rui Rio na liderança do PSD e das eleições nos Açores: com ou sem o Chega. O partido de André Ventura entrou pela primeira vez no parlamento da Madeira, elegendo quatro deputados, mas ouviu da boca de Miguel Albuquerque o que já ouvira em campanha: está fora da sua equação de governabilidade. Mais ainda, ouviu a mesma ideia nas palavras de Luís Montenegro que se deslocou à Madeira para uma festa de vitória que não foi exatamente a que esperava. “Não haverá nenhuma solução governativa na Madeira que tenha a contribuição do Chega. E eu quero dizer-vos que aquilo que vai ou pode acontecer na Madeira é aquilo que vai ou pode acontecer no país. O mesmo é dizer que nós não vamos governar nem a Madeira, nem o país, com o apoio do Chega, porque não precisamos”.
E é porque a democracia tem destas coisas que Luís Montenegro teve uma frase no seu discurso que dificilmente poderá ser levada como não sincera: "quem me dera a mim nas próximas legislativas ter o resultado aqui hoje alcançado".
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