Junto ao Teatro José Lúcio da Silva, na cidade de Leiria, pela hora do almoço, as conversas não abordavam as eleições. Isabel Santos, taxista e social-democrata, admitiu que não ficou surpreendida com a maioria alcançada pelos socialistas.

Mesmo votando PSD, não se mostrou muito preocupada com a vitória do PS, que pela primeira vez ficou à frente dos sociais-democratas no distrito de Leiria.

Mais à frente, uma idosa, que não se quis identificar, confessou que “já nada surpreende”. “Se as pessoas entenderam votar assim, há que aceitar. O importante é que este Governo faça o seu trabalho. Já lá estava, ficou o mesmo. Esperamos que as coisas não fiquem pior”, afirmou.

Sobre a vitória no distrito, a mesma senhora recordou que o concelho de Leiria já tem uma câmara do PS, com maioria.

Outro cidadão analisou que a vitória do PS foi “graças às pessoas que não quiseram votar no PCP ou no Bloco de Esquerda”. “Como sabiam que os seus partidos não iam ganhar, optaram por votar no PS, para não ser a direita a vencer”, sustentou.

“Agora teremos mais quatro anos do mesmo. É um pouco ‘quanto mais me bates mais eu gosto de ti’”, constatou, referindo que a subida do Chega está relacionada com o “assumir de uma verdadeira direita”, que o PSD e CDS “não souberam comunicar”.

Para este cidadão, que também não se identificou, “[António] Costa é um jogador, um segundo Mário Soares”, considerando que “há muita gente desacreditada” com a política.

Uma jovem estudante que aguardava a chegada do autocarro confessou que “não estava à espera” da vitória do PS, “ainda para mais com maioria absoluta”. “Passados estes anos, o PS ganhar é como levar uma chapada sem mão. Não vejo um bom futuro, sobretudo para os jovens como eu. Vamos ter de ir para fora. Não porque queiramos, mas porque nos obrigam”, lamentou.

O PS alcançou a maioria absoluta nas legislativas de domingo e uma vantagem superior a 13 pontos percentuais sobre o PSD, numa eleição que consagrou o Chega como a terceira força política do parlamento.

No distrito de Leiria, os socialistas obtiveram 35,73% (84.253 votos) e o PSD 34,68% (81.778), registando-se uma diferença de 2.475 votos.

O Chega foi a terceira força política mais votada neste círculo eleitoral, com 8,02% e 18.918 votos, sentando, pela primeira vez, um deputado por Leiria na Assembleia da República.

A nível nacional, com 41,7% dos votos e 117 deputados no parlamento, quando estão ainda por atribuir os quatro mandatos dos círculos da emigração, António Costa alcança a segunda maioria absoluta da história do Partido Socialista, depois da de José Sócrates em 2005.

O PSD ficou em segundo lugar, com 27,80% dos votos e 71 deputados, a que se somam mais cinco eleitos em coligações na Madeira e nos Açores, enquanto o Chega alcançou o terceiro lugar, com 7,15% e 12 deputados, a Iniciativa Liberal (IL) ficou em quarto, com 5% e oito deputados, e o Bloco de Esquerda em sexto, com 4,46% e cinco deputados.

A CDU com 4,39% elegeu seis deputados, o PAN com 1,53% terá um deputado, e o Livre, com 1,28% também um deputado. O CDS-PP alcançou 1,61% dos votos, mas não elegeu qualquer parlamentar.

A abstenção em território nacional desceu para os 42,04% depois de ter alcançado os 45,5% em 2019.

* Por Elisabete Cruz, da agência Lusa