Lula da Silva anuncia uma aliança contra a fome e a pobreza. “Compete aos que estão aqui a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade” — afirmou o chefe de Estado brasileiro, na cidade brasileira do Rio de Janeiro, perante os líderes das 20 maiores economias mundiais e de países convidados, como o primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro.
“Este será o nosso maior legado”, sublinhou Lula da Silva.
"Fenómenos climáticos extremos têm um efeito devastador" aliados a um mundo em guerra refletem-se na pobreza e na fome, afirmou Lula da Silva na abertura dos trabalhos da cimeira do G20, que começa hoje no país.
Um total de 81 países participarão desta aliança, uma prioridade da presidência brasileira do G20, disse Lula da Silva perante os líderes mundiais que durante dois dias também discutirão o aquecimento global e as guerras na Ucrânia e em Gaza.
Aliança Global contra a Fome e a Pobreza
A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma das prioridades do Brasil, foi lançada hoje na cimeira do G20, no Rio de Janeiro, com a adesão de 81 países e o objetivo de acabar com a fome até 2030.
Todos os países do G20 aderiram à iniciativa, inclusive a Argentina do ultraliberal Javier Milei, que inicialmente foi o único a ficar de fora, segundo uma fonte da presidência brasileira.
Além disso, 66 organizações internacionais, incluindo a União Europeia e a União Africana, também aderiram.
O projeto, uma iniciativa pessoal de Lula, é ambicioso: erradicar a fome e a pobreza até 2030 e reduzir a desigualdade.
Mais de 733 milhões de pessoas passaram fome em 2023, ou seja, 9% da população mundial, conforme o último relatório apresentado em julho pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e outras agências da ONU.
Além da estrutura do G20, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza teve como objetivo reunir países de todo o mundo e instituições internacionais para liberar recursos financeiros ou replicar iniciativas que funcionam ao nível local.
Expandir as refeições escolares para 150 milhões de crianças
As negociações estão a decorrer há vários meses e compromissos concretos já foram assumidos.
Na sexta-feira, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciou uma contribuição financeira de até 25 milhares de milhões de dólares (cerca de 25 mil milhões de euros) para apoiar programas e “acelerar o progresso na luta contra a fome e a pobreza entre 2025 e 2030”.
A Aliança pretende atingir 500 milhões de pessoas em nações pobres com programas de transferência de fundos, expandir a alimentação escolar de “alta qualidade” para 150 milhões de crianças em nações com pobreza infantil e fome endémica e ajudar pequenos agricultores.
A iniciativa “pode ser um ponto de viragem na luta contra a fome e a pobreza extrema (...), mas deve ir além”, “abordando urgentemente os impactos devastadores da mudança climática sobre os sistemas alimentares no Sul global”, reagiu a Oxfam num comunicado.
O governo nigeriano, que já tem o maior programa de refeições escolares da África, comprometeu-se em duplicar o número de beneficiários de 10 milhões para 20 milhões de crianças, adquirindo alimentos de pequenos agricultores locais.
A Indonésia lançará um novo programa de refeições escolares gratuitas em janeiro de 2025, para alcançar 78,3 milhões de crianças em idade escolar até 2029.
Uma "batalha pessoal" para Lula da Silva
Para Lula da Silva, a luta contra a pobreza é uma batalha pessoal. Quando era criança, passou fome no seu estado natal, Pernambuco, antes de se mudar com a família para São Paulo.
Em julho, ao apresentar as linhas gerais da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza numa reunião dos ministros das finanças do G20 no Rio de Janeiro, o presidente brasileiro chourou ao falar sobre “a mais degradante das privações humanas”.
"A fome e a pobreza não são o resultado da escassez ou de fenómenos naturais. A fome, como dizia o cientista e geógrafo brasileiro José de Castro, a fome é a expressão biológica dos males sociais. É produto de decisões políticas que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade", completou Lula.
Segundo o governo brasileiro, os programas sociais terão retirado milhões de brasileiros da pobreza durante os dois primeiros mandatos (2003-2010), em particular através do programa Bolsa Família, um subsídio pago às famílias mais pobres que assumem o compromisso de os seus filhos frequentarem a escola.
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