"É um feito que é preciso celebrar, porque não está ao alcance de toda a gente subir o ponto mais alto do país tantas vezes quanto o seu número de metros. Acaba por ser um marco muito especial", revelou à agência Lusa o guia de 47 anos.
Para assinalar a ocasião, está a ser preparada uma celebração dividida em dois momentos: o primeiro é a subida ao cume da montanha, com início marcado para as 06:00.
"A subida 2.351 vai ser toda dedicada a um amigo meu que tinha o sonho de subir ao Pico, mas ficou paraplégico. Vamos levar cartazes e t-shirts com mensagens e no topo vamos fazer videochamada com ele", avança o picaroto, alertando que, apesar de a subida ser "aberta a todos", deve ser feita apenas por pessoas com experiência, porque existem "horários específicos a cumprir".
O segundo momento será às 16:00, na Casa da Montanha, onde haverá festa, com comida e bebida tradicionais e um bolo em forma de montanha.
Haverá também a declamação de um poema de Manuel Tomás Costa dedicado ao feito de Renato Goulart e é esperada a presença da Direção Regional do Ambiente e da Associação de Guias de Montanha dos Açores.
"Faço questão de que todas as pessoas que estejam na montanha naquele dia façam parte da festa. Quero um convívio com todos, a montanha é nossa, é um pouco de todos, a montanha é sinónimo de convívio", explica o gerente da empresa eXPerience 2351, que subiu pela primeira vez ao topo do Pico quando tinha 7 anos.
Renato Goulart começou a organizar subidas ao Pico quando tinha 21 anos e estabeleceu-se profissionalmente como guia aos 29.
Após tantas subidas, destaca as que o marcaram particularmente, seja pela positiva ou pela negativa.
"Duas clientes partiram o pé, no mesmo dia, no mesmo mês, mas separadas por um ano. Passei anos sem fazer subidas naquele dia", confessa, revelando também não se esquecer de ter guiado, em 2013, uma mulher de 83 anos até ao cume da montanha: "Fez uma subida exemplar e foi provavelmente a pessoa mais velha de sempre a escalar o Pico".
Nos últimos anos, devido ao aumento do turismo, o número de subidas tem sido "galopante" - "subir ao Pico está na moda", refere.
Nesse sentido, o guia defende que deve "existir mais atenção" e queixa-se da falta de controlo sobre os que sobem a montanha de forma autónoma (sem guia).
"Cada vez mais as pessoas que vão de forma autónoma não respeitam o trilho. Assim não faz sentido falarmos em cuidar da natureza e na promoção do ambiente sustentável. Não há ninguém que controle", afirma, defendendo a obrigatoriedade de as subidas ao Pico serem acompanhadas por guias.
"Temos de olhar para a montanha e perceber que ela vai ter de passar a ser subida obrigatoriamente com um guia. É uma montanha com uma avaliação técnica muito exigente e tem um microclima muito específico. Se o turismo quer progredir e proteger aquilo que é nosso, temos de agir hoje", conclui Renato Goulart.
(Notícia atualizada às 17:48. Nova versão que substitui, no 4.º parágrafo, "tetraplégico" por "paraplégico" e corrige, no 6.º parágrafo, o nome do autor do poema, que é Manuel Tomás Costa e não Melo Tomás.)
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