O tema do azeite tem sido recorrente no último ano, sobretudo na Europa. No país vizinho, maior produtor mundial, os preços chegaram quase a uma valorização de 200%. "Uma loucura", alguns disseram. Houve, obviamente, recuo nas vendas e também nos consumos, tal como em Portugal. Os especialistas, contudo, dizem que os portugueses continuam a apostar neste produto em vez de outros.

"Os consumidores tem revelado um comportamento muito resiliente. Nota-se alguma quebra de consumo em Portugal, mas não aquela que se temia dado o aumento tão expressivo dos preços do azeite. Os consumidores compram formatos mais pequenos e compram mais frequentemente, mas não se afastam da categoria. Em mercados tradicionais e maduros, como é o mercado português, é o que se tem passado, até porque é difícil imaginar a maior parte dos nossos pratos cozinhados sem azeite, ou uma salada temperada com óleo", começou por dizer ao SAPO24 Mariana Matos, Secretária-Geral da Casa do Azeite, abordando depois a questão da exportação.

"Aí a quebra é bastante mais significativa. Em países com menos tradição de consumo, quando os preços sobem muito, os consumidores regressam aos produtos que consumiam antes, normalmente óleos mais baratos, e as quebras de consumo são mais acentuadas. O problema vai-se colocar no futuro, quando o mercado e os preços normalizarem, e verificarmos que se perdeu uma importante percentagem de consumidores, até porque é mais rápida a perda de consumidores do que depois a sua reconquista, que pode levar anos", salientou.

"Os consumidores tem revelado um comportamento muito resiliente. Nota-se alguma quebra de consumo em Portugal, mas não aquela que se temia dado o aumento tão expressivo dos preços do azeite"Mariana Matos

À imagem de outros, as razões apontadas para o elevado preço do azeite terão a ver com a pouca produtividade nos principais países produtores.

"O preço continua a subir, essencialmente, devido à escassez da produção nalguns dos principais países produtores do mundo, como Espanha, por exemplo. Nas últimas duas campanhas Espanha produziu cerca de metade do azeite em relação à média de produção de cinco anos. Essa quebra de produção é devida essencialmente à seca, e afeta particularmente os olivais de sequeiro, sendo que grande parte dos olivais em Espanha são olivais de sequeiro, portanto muito dependentes das chuvas. Como o azeite é um produto 100% natural, não há qualquer forma de o produzir se não houver azeitona. A escassez da produção tem levado a uma diminuição dos stocks mundiais, pelo que é pouco provável que o preço do azeite sofra alterações muito significativas num futuro próximo. Mas caso a primavera seja chuvosa, então poderemos começar a observar ajustamentos no preço do azeite", diz Mariana, salientando que "não se preveem alterações significativas num futuro próximo, estas condições devem manter-se".

"O azeite só se produz entre Outubro e Fevereiro, mais ou menos, pelo que já sabemos que a produção mundial desta campanha, que está a terminar, é também bastante baixa em relação a uma campanha normal. Portanto, o azeite que se produz agora deverá ser comercializado até Outubro / Novembro do próximo ano, e vai depender muito do comportamento do consumo, da dimensão das quebras de consumo, e das expectativas em relação à próxima campanha. Mas é um cenário muito complexo e de difícil previsão", refere a Secretária-Geral da Casa do Azeite, perspetivando depois a produção da atual campanha.

"A escassez da produção tem levado a uma diminuição dos stocks mundiais, pelo que é pouco provável que o preço do azeite sofra alterações muito significativas num futuro próximo. Mas caso a primavera seja chuvosa, então poderemos começar a observar ajustamentos no preço do azeite"Mariana Matos

"Na maior parte das zonas produtoras, a produção ou já terminou, ou terminará em breve, mas ainda só existem estimativas em relação ao volume de produção nacional para esta campanha. As estimativas oficiais (INE) apontam para um crescimento da produção da ordem dos 20% em relação à campanha anterior, para uma produção de cerca de 150.000 toneladas de azeite. Apesar de esta ser uma campanha de safra, ou seja, de maior produção, não foi possível atingir a produção que seria expectável em função da capacidade produtiva instalada em Portugal, essencialmente devido à seca que se tem vivido nos últimos anos. Apesar de grande parte da produção nacional ter origem em olivais de regadio, principalmente no Alentejo, continua a haver cerca de 75% da área de olival que é de sequeiro, portanto muito mais dependente da climatologia, especialmente da chuva", disse, salientando finalmente que "dificilmente poderá haver alguma intervenção por parte do Governo", dado que se tratado funcionamento normal do mercado, "como há menor oferta o preço aumenta, para regular a procura".