O primeiro-ministro, António Costa, disse hoje em Timor-Leste que a memória do massacre no cemitério de Santa Cruz tem de ser mantida viva, para honrar os valores pelos quais morreram centenas de timorenses.
“É bom manter a memória viva”, disse, numa conversa com uma dos sobreviventes do massacre de 12 de novembro de 1991, no qual mais de 300 timorenses morreram às mãos das forças indonésias, que ocupavam o país.
“É uma forma de os homenagear e também de dar força e consolidar os valores pelo qual deram a vida”, acrescentou o primeiro-ministro.
Antes, o timorense, que tinha 28 anos à data do massacre, dissera ao primeiro-ministro que a visita de António Costa “repete uma solidariedade” mantida com Portugal que espera que “continue a se fortificar”, já que “Portugal é um país que é irmão” e “sempre prestou um papel muito importante durante (…) a luta pela independência nacional”.
António Costa terminou hoje a visita oficial de dois dias a Timor-Leste, mas não fez qualquer declaração aos jornalistas.
No cemitério de Santa Cruz, depôs uma coroa de flores na Cruz dos Mártires, uma homenagem sem direito a recolha de imagens por parte dos órgãos de comunicação social.
Num dos momentos da visita, deteve-se junto à sepultura do jornalista australiano Max Stahl, que morreu em outubro de 2021, fundamental na cobertura do conflito armado em Timor-Leste, nomeadamente do massacre no cemitério.
Depois do primeiro dia ter ficado marcado pelo encontro com duas figuras históricas de Timor-Leste, o Presidente, José Ramos-Horta, e o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, o governante português terminou a visita com passagens pelo Parlamento Nacional, atualmente presidido por Fernanda Lay, a primeira mulher a ocupar o cargo em Timor-Leste e instituições educativas, como a Escola Portuguesa de Díli, a inauguração das novas instalações do Centro de Língua Portuguesa na Universidade Nacional Timor Lorosa'e, ao Centro Juvenil Padre António Vieira e ao Externato São José.
A acompanhar António Costa esteve a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, e também o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, que iniciou na segunda-feira uma visita oficial ao sudeste asiático, com passagem pela Indonésia, Timor-Leste e, esta quinta-feira, pelas Filipinas, para discutir a intensificação das relações económicas.
Língua portuguesa “faz a identidade de Timor-Leste”
O primeiro-ministro, António Costa, defendeu hoje, em Díli, a necessidade de reforçar o ensino do português em Timor-Leste, considerando que a língua “faz a identidade” do país do Sudeste Asiático.
Num discurso perante dezenas de alunos do Externato São José, o chefe de Governo destacou a importância da língua portuguesa em Timor-Leste, o único país lusófono no continente asiático.
O português “não é só mais uma língua, é a língua que faz a diferença”, defendeu António Costa. “É esta diferença que reforça a identidade de Timor-Leste, faz a identidade de Timor-Leste”, acrescentou.
“Foi essa identidade que fez com que na luta armada, na ação diplomática, ou no trabalho cultural e educativo, tenham resistido ao invasor e recuperado a liberdade e a independência”, disse o primeiro-ministro, referindo-se à ocupação indonésia, entre 1975 e 1999.
Horas antes, António Costa tinha colocado flores na Cruz dos Mártires, no cemitério de Santa Cruz, numa homenagem às mais de 300 vítimas mortais do massacre de 12 de novembro de 1991, durante a ocupação indonésia.
O primeiro-ministro defendeu ser “muito importante que este ensino da língua [portuguesa] prossiga e que se desenvolva”.
Na terça-feira, António Costa tinha confirmado o apoio ao alargamento do projeto bilateral dos Centros de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE) – financiado conjuntamente por Portugal e Timor-Leste – a todos os postos administrativos no país.
O primeiro-ministro prometeu ainda reforçar o apoio à Escola Portuguesa de Díli, instituição que visitou hoje, no último dia da primeira visita oficial de um chefe de Governo estrangeiro desde a tomada de posse do novo executivo timorense, a 01 de julho.
No discurso de tomada de posse, o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, disse querer, no primeiro ano de governação, ampliar o projeto dos CAFE a todos os postos administrativos no país “e a capacitar nessa matéria os professores timorenses”.
A acompanhar António Costa na primeira visita oficial a Timor-Leste como primeiro-ministro esteve a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, e também o ministro dos Negócios Estrangeiros.
João Gomes Cravinho disse hoje à Lusa que a “convergência entre aquelas que são as prioridades do Governo timorense e aquelas que são as mais-valias portuguesas, que vão passar, seguramente, (…) por um renovado ênfase na língua, no ensino, na formação”.
Nos “próximos dois ou três meses”, disse o chefe da diplomacia portuguesa, os dois países vão começar a negociar um novo quadro da cooperação estratégica entre 2024 e 2028.
A cooperação deverá apostar também “na descoberta de novas oportunidades (…) no quadro da economia azul”, disse João Gomes Cravinho.
Na terça-feira, Xanana Gusmão tinha dito que Timor-Leste quer “colher da experiência, conhecimento e inovação dos portugueses” para desenvolver uma economia do mar sustentável.
António Costa iniciou o segundo e último dia da visita no Parlamento Nacional, atualmente presidido por Fernanda Lay, a primeira mulher a ocupar o cargo em Timor-Leste.
A agenda do primeiro-ministro português incluiu a inauguração das novas instalações do Centro de Língua Portuguesa na Universidade Nacional Timor Lorosa'e.
*Reportagem de João Carreira e Vítor Quintã, da agência Lusa
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