Desportivamente não há dúvidas, o regresso da Fórmula 1 a Portugal, após 24 anos de ausência, foi um sucesso e ficará escrito na história da modalidade como o 92.º Grande Prémio conquistado por Lewis Hamilton, a prova com que o piloto inglês da Mercedes ultrapassou o recorde máximo de Michael Michael Schumacher e se tornou no mais vitorioso de sempre.
No entanto, para além do misto de nostalgia e glória, a prova que decorreu entre os dias 23 e 25 de outubro no Autódromo Internacional do Algarve gerou revolta entre algumas pessoas, algo visível sobretudo nas redes sociais onde foram apontadas várias críticas às autoridades de saúde, todas elas unanimemente ligadas à dimensão da assistência permitida pela DGS no evento: cerca de 27 mil pessoas.
Aquilo que era a revolta das redes sociais depressa saltou para os jornais quando foram publicadas fotos de várias bancadas em situações de incumprimento das regras de distanciamento social e/ou de utilização de máscara.
24 horas depois, a DGS, na habitual conferência de imprensa de atualização dos dados pandémicos, olhou para o que aconteceu no fim de semana, explicando os porquês de ter acontecido, como aconteceu, o que correu bem, o que correu mal e a lição para o futuro.
1 - Porque é que a DGS permitiu a realização de um evento com 27 mil pessoas?
A diretora-geral da Saúde explicou que foram vários os motivos que levaram a que o evento fosse autorizado. Primeiro, o facto de o Algarve ser “uma região muito pouco afetada”, sublinhando Graça Freitas que, ainda hoje, esta “foi de longe a região com menos casos registados nas últimas 24 horas”. Ainda decorrente dos dados pandémicos, a diretora-geral salientou que o Algarve é a zona do país em que o RT (risco de transmissão), é menor.
Segundo, o facto de a DGS ter recebido garantias das autoridades de saúde e de turismo que a região cumpria os requisitos de segurança necessários em termos de hotelaria e restauração para albergar e responder com segurança à procura dos fãs de Fórmula 1.
Em terceiro lugar, “as condições do autódromo tinham várias coisas a seu favor, além de ser um acontecimento de um fim de semana, ou seja, não se repetirá nos próximos tempos, tinham a questão dos acessos, que todos pudemos ver como, de facto, era muito fácil aceder com segurança às diversas bancadas que estavam disponíveis para o público. Proibimos as bancadas peão e impusemos regras ao autódromo para dividir as bancadas por setores, de forma a que cada setor funcionasse como um espaço com um número limitado de pessoas e com distância”.
O facto de o evento ser ao ar livre também foi determinante, assim como a “a capacidade teórica de organização de toda a estrutura que ia pôr em funcionamento este GP.”
Por último, Graça Freitas disse que para além das condições locais, existiam experiências anteriores positivas, eventos que decorreram corretamente desde que passou a ser possível fazê-lo dentro das restrições necessárias devido à pela situação pandémica. “Tivemos uma festa política que correu bem, tivemos uma manifestação religiosa que correu bem, do ponto de vista do público, e tivemos vários testes piloto no futebol que correram bem, aliás que correram de forma exemplar”, disse a diretora geral da Saúde.
2 - O que correu bem, o que correu mal no Grande Prémio de Portugal?
Para Graça Freitas “as coisas que correram bem foram visíveis e as que correram menos bem também”.
“A maior parte das bancadas, apesar de não estarem extraordinariamente arrumadas, cumpriam as regras de distanciamento. E duas bancadas, de facto, não cumpriam essas regras. O que é que se fez do dia dos treinos para o dia da prova? Foi exatamente alterar a situação das duas bancadas mais problemáticas, transferindo as pessoas para outro setor”, explicou.
A diretora-geral sublinhou que o que aconteceu foi “uma situação mista de nuns setores se seguirem as recomendações e de depois de ter acontecido acontecido aqui alguma discrepância entre a capacidade de organizar bem todas as bancadas e a capacidade de fiscalizar”, sublinhando que “na maior parte das bancadas o público estava com a distância necessária e usava máscara".
3 - Uma lição para o futuro
Afirmando que não lhe pareceu que a "situação tenha sido catastrófica”, Graça Freitas assumiu que “nos próximos tempos teremos de restringir os números dos eventos ou, de facto, limitar o seu número”.
Para a diretora-geral da Saúde o que aconteceu de negativo é de culpa tripartida entre a organização do evento, a DGS e os cidadãos. Para os últimos, Graça Freitas apelou ao cumprimento das regras definidas pelas organizações dos eventos a que assistem. “Se um banco tem um autocolante a dizer “não se sente aqui”, era bom que não se sentassem ali. Não é necessário meter uma corda ou pregos ou qualquer coisa que impeça as pessoas de se sentarem ali”, sublinha.
“Aprendemos que se quisermos ter mais controlo sobre os imponderáveis das pessoas teremos de ter, se calhar, menos gente nos eventos”, concluiu.
4 - O ponto de vista da GNR, presente no evento, sobre a organização do mesmo
A operação da GNR no Grande Prémio de Portugal em Fórmula 1 "decorreu com normalidade", registando-se embora "alguns constrangimentos" e a detenção de um homem por injúrias e captação ilícita de imagens, anunciou a corporação.
Em comunicado, a GNR sublinha que foram "empenhados cerca de 600 militares de várias valências, numa ação coordenada para atuar de forma preventiva para todo o tipo de situações que pudessem pôr em causa a segurança do evento, acrescido da necessidade do cumprimento das normas estabelecidas no atual contexto pandémico" provocado pelo covid-19.
Segundo a GNR, a operação decorreu "com normalidade, apenas se registando alguns constrangimentos no acesso ao autódromo no dia de hoje, constrangimentos esses ultrapassados em coordenação com as autoridades locais presentes no evento".
Por outro lado, há a registar "a detenção de um homem de 47 anos pelo crime de injúrias e captação ilícita de imagens, tendo o mesmo sido constituído arguido e os factos comunicados ao Tribunal Judicial de Portimão, não tendo, durante a realização do evento, sido aplicada nenhuma medida de expulsão, por desrespeito às orientações da autoridade de saúde".
A GNR lembra que, entre quinta-feira e hoje, implementou um "dispositivo especial de segurança", para garantir a segurança de todos os intervenientes, o cumprimento das normas sanitárias aplicáveis e a regular fluidez nos principais itinerários, durante o Grande Prémio de Fórmula 1, no Autódromo Internacional do Algarve.
A GNR revela ainda que, durante o evento, houve uma recolocação de pessoas, para assegurar o cumprimento das normas da Direção-Geral da Saúde (DGS), tendo hoje sido necessário "um redirecionamento das mesmas, para algumas bancadas menos preenchidas", tendo esta alteração sido tomada em conjunto com a organização da prova, para garantir o necessário distanciamento social.
"Salienta-se que o empenhamento foi mais intenso, como esperado, no controlo do tráfego rodoviário, em consequência da natural elevada afluência de pessoas ao recinto em simultâneo, destacando-se, contudo, que o evento decorreu em total segurança, nunca estando em causa a segurança de pessoas e bens", conclui a GNR, num balanço sobre a atividade desenvolvida durante o evento desportivo.
*com agência Lusa
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