1. O(s) vencedor(es)
Ainda não tinha apresentado a sua recandidatura e já era dado como vencedor à primeira volta. E assim, sem surpresa, Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito Presidente da República com 60,70%.
João Ferreira venceu Marisa Matias e 'vingou-se' de 2016, quando o "resultado ficou aquém das expectativas" e Jerónimo de Sousa encerrou a noite com uma frase menos feliz (recorda-se do “Podíamos arranjar uma candidata engraçadinha"?). Edgar Silva, à data o candidato presidencial dos comunistas, ficou-se pelo quinto lugar com 3,95% dos votos (182.465, em números absolutos).
Ana Gomes venceu André Ventura (ver o próximo ponto) e Tiago Mayan não fechou a tabela ("tomei a decisão certa").
2. Os objetivos falhados
Ana Gomes falhou de longe o objetivo de forçar uma segunda volta das eleições presidenciais, conseguindo apenas o “objetivo patriótico” de ficar à frente de André Ventura (por uma diferença inferior a 50 mil votos). O líder do Chega falhou duas das suas metas: ficar à frente da socialista e ter mais votos do que a esquerda toda junta (Ana Gomes, Marisa Marias e João Ferreira).
A luta esteve renhida ao longo de toda a noite, e só pelas 22h00 é que a socialista ultrapassou o candidato do Chega no segundo lugar. Porém, sublinhe-se, Ventura levou a melhor em 11 dos 18 distritos continentais (mais a Madeira); Ana Gomes ficou em segundo lugar em oito distritos, entre eles os mais populosos, como Lisboa, Porto e Setúbal.
Com os resultados fechados, Ventura cumpriu a sua promessa e anunciou que vai deixar a presidência da direção nacional nas mãos dos militantes.
“Nós somos firmes naquilo que defendemos. Ficámos aquém dos 15% que eu deveria ter, com algumas décimas de diferença da candidata que representa o que Portugal de pior tem, a esquerda mais medíocre e colada às minorias e àqueles que têm destruído Portugal. Não fugirei à minha palavra. Devolverei a palavra aos militantes do Chega”, disse num hotel de Lisboa, sede da sua noite eleitoral.
3. O culpado (ou o desertor) e o aviso
Ana Gomes acusou o PS de ter desertado destas eleições e apontou o secretário-geral, António Costa, como o “principal responsável” por essa deserção. “Lamento profundamente a não comparência a estas eleições por parte do meu partido, o PS, que assim contribuiu para a dar vitória ao candidato da direita democrática. Foi uma deserção que critiquei e pela qual decidi apresentar esta candidatura”, afirmou a militante do PS e antiga eurodeputada socialista, na sua declaração no final da noite eleitoral.
No capítulo das culpas, André Silva responsabilizou o PS e PSD pela abstenção e pelo crescimento de “movimentos inorgânicos e não democráticos”. Também Ricardo Sá Fernandes, membro do Livre e apoiante de Ana Gomes, acusou os socialistas de se terem demitido das eleições presidenciais e de a sua direção ter até apoiado "informalmente" o recandidato Marcelo Rebelo de Sousa.
Já André Ventura deixou um aviso. “Não há segundas-vias depois desta noite. Hoje ficou claro em Portugal e para a Europa e para o Mundo que não haverá Governo em Portugal sem que o Chega seja parte fundamental. Não há volta a dar. PSD, ouve bem, não haverá governo em Portugal sem o Chega!”, gritou o líder do Chega na reação ao resultado do partido.
4. Marcelo venceu, o CDS também. O PAN apoiou Ana Gomes e também gritou vitória
Numa declaração na sede nacional do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos considerou que "todos os objetivos do CDS para estas eleições presidenciais foram conseguidos", salientando que isso é um "motivo de satisfação" e dá ao partido "razões para sorrir".
"O CDS quis uma vitória à primeira volta do seu candidato, e conseguimos; o CDS quis somar os votos à direita e não quis dividi-la, e também conseguimos; o CDS quis uma vitória da direita social e também conseguimos", especificou.
Considerando que "o CDS está hoje, uma vez mais, a celebrar uma vitória eleitoral", o presidente democrata-cristão advogou que "o contributo do CDS para esta maioria foi importante para conseguir esta vitória à primeira volta".
Também o PAN gritou vitória na noite deste domingo. "Esta é mais uma vitória do PAN neste ciclo político", reclamou André Silva, líder do partido Pessoas-Animais-Natureza. "Não tendo um candidato próprio, não poderíamos ficar de fora e decidimos apoiar aquela que é a única candidatura verdadeiramente independente e que conseguiu agregar votos de todas as pessoas", sublinhou ainda.
5. A esquerda perdeu. Ponto
No ato eleitoral de domingo, a socialista Ana Gomes ficou com cerca de 13%, o dirigente comunista João Ferreira com 4,27% e a eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias com 3,95%. Há cinco anos os candidatos de esquerda obtiveram em conjunto 41,19%, então, já aí, o pior resultado desde as primeiras eleições presidenciais de 1976.
Em comentário na noite eleitoral da SIC, o ex-líder do BE defendeu que nem Ana Gomes, nem João Ferreira, nem Marisa Matias, foram vistos “como alternativa a Marcelo Rebelo de Sousa”. “Acho que à esquerda, com três excelentes candidatos, todos foram derrotados", disse Francisco Louçã.
6. Marcelo com mais votos que em 2016. Marisa e Vitorino Silva com menos
Em 2016 Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito com 2.411.925 votos. Na reeleição, o candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS-PP ultrapassou esse número e somou 2.533.799 votos (com três consulados por apurar).
Os também repetentes a sufrágio Marisa Matias e Vitorino Silva têm o registo contrário. A candidata do Bloco de Esquerda não conseguiu nem metade dos votos de 2016, quando obteve 10,12% dos votos (469.582 votos) e o terceiro lugar; descendo para a quinta posição, Marisa Matias teve apenas 3,95% dos votos (164.731 votos). A diferença não é tão grande para o candidato de Rans; o líder do RIR (Reagir, Incluir, Reciclar) teve menos cerca de 30 mil votos em comparação com as últimas presidências (3,28% / 152.094 votos).
7. De 1,29 % para 11,90% vão 428.827 votos de distância
428.827 é a diferença entre a expressão eleitoral conseguida pelo partido Chega nas eleições legislativas de 2019 e as presidenciais deste domingo.
Nas legislativas, a segunda apresentação do Chega nas urnas (a primeira foi nas europeias, também em 2019), o partido conseguiu 1,29% dos votos (67.826 votos, em números absolutos).
Pouco mais de um ano volvido, o líder do Chega vê aumentar consideravelmente o seu eleitorado. Nestas presidenciais, Ventura coloca o partido como a terceira força nos resultados finais com 11,90% dos votos (496.653, em números absolutos).
8. Alentejo menos vermelho
No Alentejo, Ventura apenas foi ultrapassado por Marcelo Rebelo de Sousa. Em Beja, Évora e Portalegre superou ainda o candidato comunista João Ferreira, num terreno tradicionalmente de esquerda — e em que PCP costuma ter os melhores resultados a nível nacional.
Em Beja, Marcelo venceu com 51,3%, seguido do líder do Chega com 16,19% (8.490 votos). Com menos 613 votos, o comunista João Ferreira ficou em terceiro lugar, com uma votação que ficou nos 15,02%. Ana Gomes, em quarto lugar, contou 10,7%.
Em Évora, André Ventura recolheu 16,76%, quando Marcelo Rebelo de Sousa venceu com 54,70%. Neste distrito, a distância de João Ferreira (10,8%) para Ventura foi ainda maior. O comunista teve 3.458 votos a menos do que o candidato do Chega.
Portalegre foi o distrito do Alentejo em que André Ventura teve o melhor resultado relativo, com 20,02% (7.761 votos). Nesta zona do país, Ana Gomes ainda ficou à frente de João Ferreira (o comunista teve 7,3% dos votos).
9. Bragança é o distrito com maior abstenção, Lisboa com menor — num sufrágio que bateu recordes
Quando olhamos apenas para o território nacional, a abstenção foi de 54,55% e em Bragança registou-se a menor participação (33,28%). Lisboa foi o distrito com mais eleitores a irem às urnas, com uma taxa de participação de 50,97%.
No território nacional, em números absolutos, votaram 4.233.594 eleitores. Foram menos 492.814 do que em 2016 (quando votaram 4.726.408 eleitores). Estes números contrariam a percepção gerada pelas inúmeras filas registadas um pouco por todo o país desde a hora da abertura das urnas.
Mas, segundo os dados da Secretaria-Geral do Ministério de Administração Interna - Administração Eleitoral, os resultados globais provisórios, quando faltava ainda apurar três consulados, apontam para uma taxa de abstenção de 60,51%, sendo que no estrangeiro tinham votado apenas 1,87% dos 1,5 milhões de inscritos.
Recorde-se que nesta eleição houve um aumento do número de eleitores, em grande medida devido ao recenseamento eleitoral automático dos emigrantes com cartão de cidadão válido, que decorre de uma mudança à lei, feita em 2018.
Em 2016, eram 228.822 os eleitores inscritos no estrangeiro e este ano esse número subiu para 1.550.063.
Antes da reeleição de Cavaco Silva, em 2011, que detinha até agora o “recorde” da taxa de abstenção em presidenciais, o valor mais alto tinha sido registado no segundo mandato de Jorge Sampaio, em janeiro de 2001, com 50,29 por cento de abstencionistas.
10. Bingo. Marcelo ganhou em todos os concelhos do país
O Presidente reeleito ganhou em todos os concelhos do país, sendo o primeiro a conseguir esse feito. Marcelo Rebelo de Sousa superou assim o registo de Mário Soares em 1991, ano em que o na altura recandidato a Presidente da República apenas não conseguiu vencer em nove concelhos, perdendo para Carlos Carvalhas.
À data, o candidato apoiado pelo PCP bateu o socialista Mário Soares nos concelhos de Alpiarça (distrito de Santarém), Moita (Setúbal), Mora, Avis (Portalegre) Arraiolos, Alandroal, Montemor-o-Novo (Évora), Portel e Cuba (Beja).
11. Ana Gomes é a mulher mais votada em Portugal nas presidenciais
Ana Gomes foi a mulher mais votada de sempre numas eleições presidenciais em Portugal, com 12,93% dos votos, e a primeira a conseguir um segundo lugar.
A diplomata conseguiu um segundo lugar nas eleições presidenciais de domingo, ao ser a escolha no boletim de voto de 541.345 portugueses.
A primeira mulher a candidatar-se a eleições presidenciais em Portugal foi Maria de Lourdes Pintassilgo, que, em 1986, ficou em quarto lugar com 7,38% dos votos na primeira volta as eleições, o correspondente a 418.961 votos. Só 30 anos depois, em 2016, voltaria a haver mulheres a concorrerem à Presidência da República Portuguesa: Marisa Matias e Maria de Belém.
Há cinco anos, Maria Matias foi a escolha de 455.691 dos eleitores portugueses, o correspondente a 10,11% e que lhe valeu um terceiro lugar na corrida a Belém. Já Maria de Belém teve 191.466 votos (4,25%), conseguindo um quarto lugar.
12. Tino perde em casa e deixa um convite a Marcelo — que desta vez não lhe atendeu o telefone
Vitorino Silva deixou de ser o candidato mais votado na freguesia de Rans, perdendo a liderança para Marcelo Rebelo de Sousa.
Na freguesia a que deve a alcunha “Tino de Rans”, o líder do RIR obteve 41,98% dos votos. Nas últimas presidenciais, em 2016, Vitorino Silva tinha contabilizado 60,93% dos votos.
Em terceiro lugar, André Ventura contabiliza 6,26% das escolhas do eleitorado nesta freguesia do concelho de Penafiel, distrito do Porto. Ana Gomes contabiliza 4,66% dos votos, Marisa Matias 1,14%, Tiago Mayan Gonçalves 0,91% e João Ferreira 0,80%.
Na reação à derrota, Tino deixou um convite e salientou que, ao contrário de há cinco anos, desta vez Marcelo não lhe atendeu o telefone quando ligou para felicitar da vitória.
“Tentei ligar [a Marcelo Rebelo de Sousa] e ele não atendeu, não atendeu desta vez e se ele estiver a ouvir, o convite está feito, ele desta vez ganhou em Rans e o povo de Rans vai recebê-lo de braços abertos porque o Presidente da República é o símbolo do país e a Rans nunca veio nem nenhum rei, nem um Presidente”, disse o candidato da terra.
Sobre o resultado que não lhe foi favorável, o candidato a Belém apontou que “há cinco anos” concorreu contra o candidato Marcelo e que desta vez concorreu “contra o Presidente da República”, concluindo que “a luta é desigual”.
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