O projeto "Desigualdades na Obesidade Infantil: O Impacto da Crise Socioeconómica em Portugal de 2009 a 2015" foi desenvolvido pelo Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Universidade de Coimbra, que avaliaram entre outros parâmetros, o comportamento das famílias em termos de alterações do padrão alimentar, atividade física e outros hábitos.
"Apesar da diminuição da prevalência de obesidade, a crise económica de 2009-2015 levou a um aumento das desigualdades sociais associadas com a obesidade infantil e nas famílias de maiores rendimentos há uma diminuição maior do que nas de menores rendimentos", refere nas considerações finais, a investigadora do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, Cristina Padez.
Este é o terceiro projeto de obesidade infantil realizado em Portugal que decorreu no ano letivo de 2016/2017 e contou com a participação de 3.830 crianças com idades entre os 7 e os 10 anos, de várias escolas e jardins-de-infância do Porto, Coimbra e Lisboa.
O primeiro estudo foi realizado em 2002 e envolveu 3.277 crianças e o segundo realizou-se em 2009, com 3.447 crianças de escolas de Lisboa, Porto e Coimbra.
"Verificámos que comparativamente com 2002, há uma diminuição geral do excesso de peso, mas essa diminuição é maior nas meninas (-16,2%)", explica a investigadora da UC.
No estudo de 2016/2017, verificou-se um excesso de peso e mais obesidade nas meninas de 28,7%, sendo que os meninos registaram 25,1%.
Em 2002, as meninas situaram-se nos 34,9% e os meninos nos 29,9%.
Cristina Padez explicou que nos países considerados mais desenvolvidos ou modernos, em média, se verifica que as crianças oriundas de estratos sociais mais desfavorecidos ou pobres apresentam valores de obesidade superiores às crianças de famílias com maiores rendimentos.
"No mundo, 10 % das crianças pobres têm o dobro da obesidade das crianças mais favorecidas. Em Portugal, verifica-se a mesma tendência. Os valores da obesidade são superiores nas classes sociais mais baixas", sustentou.
Outro dado que o projeto constata é o aumento das desigualdades sociais entre os anos de 2002 e de 2016.
"Em 2002, a diferença de obesidade entre crianças pobres e ricas situava-se nos 6,2% e em 2016, essa diferença é de 12,8%. Também se verificam diferenças entre Lisboa, Porto e Coimbra. Nestes três distritos, entre 2002 e 2016, a desigualdade social foi diferente. Aumentou muito mais em Lisboa, aumentou em Coimbra e, no Porto, a desigualdade social diminuiu", frisou.
A investigadora sublinha que existem variáveis mediadoras que estão entre a obesidade e o nível socioeconómico e que tem a ver com a alimentação, o sedentarismo, a obesidade parental ou o tabagismo materno na gravidez, entre outros.
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